quinta-feira, 30 de maio de 2013

O Rabo do Diabo e os travões da Solidariedade

Iniciemos com uma pequena história que, na minha terra, se conta aos meninos que tem alguma criatividade em benefício de si e dos seus próximos. Havia um vaga-lume ou pirilampo que gostava de rebolar e todo o mundo admirava a sua pisca-pisca e o seu brilho. Aquilo era muito divertido . Um dia saiu para passear e encontrou-se com uma cobra que começou a persegui-lo. Cansado de ser perseguido parou e disse: antes de me comeres tenho três perguntas, me respondes, depois me comes:

1.       Eu faço parte da tua cadeia alimentar? Não – respondeu a cobra.
2.       Eu te fiz algum mal? Não – disse ela.
3.       Alguém te mandou vir-me fazer mal? Também não, concluiu a cobra.
Admirado o pirilampo retorquiu: e agora porque tu queres acabar comigo? E a serpente respondeu:
_ Porque eu não suporto te ver brilhar.
A moral da história é simples: se você um dia começar a ter um brilho diferente, junto com o brilho vem a serpente, junto com o sucesso vem a inveja, onde Deus coloca as mãos o Diabo coloca o rabo. Quando as coisas estão dando certo sempre há quem torce para darem errado. O importante é sabermos que as pedradas levamos a vida inteira. Como disse o Padre Chrystian Shankar, «o problema não é levar ou não levar pedradas mas o que fazer com as pedradas que recebemos».
________________________________________________________________________________________________________________________

Entremos no cerne do tema. Nas últimas horas temos assistido uma autêntica inundação de esforços tendentes a desqualificar o esforço feito por um grupo de jovens em solidariedade para com os doentes, jovens estes que deixaram os seus afazeres habituais para irem trabalhar no Hospital Central de Maputo. Esta inundação de esforços retrógrados tem sido espalhada por alguma franja de freelancer facebookianos desprovidos de bases práticas sobre o sentido da solidariedade. São pessoas mais dispostas a pertencer ao grupo daqueles que tendo olhos não vêem e tendo ouvidos não ouvem as coisas que estão intimamente ligadas à sua vida e a dos seus amigos. Foi uma combinação de ódio e deplorável ignorância do que realmente acontece dentro de hospitais que os levou a julgar um grupo de homens e de mulheres que deveria ser apresentado como um modelo a esses apóstolos da democracia. A sua indiferença para com os doentes e a sua colagem ao escalar da greve não podiam ser o pior exemplo com que nos têm pontapeado. Vimo-los profetizando a catástrofe na Saúde, num tom alegre porque para eles esta greve deve causar mais danos em troca das exigências. Têm na catástrofe uma moeda de troca e quanto mais doentes sofrerem e morrerem mais felizes ficam, quando na verdade, a greve pune os irmãos, vizinhos e aconchegados do seu melhor amigo da sua longa lista de amizades  do facebook.

Estes nossos irmãos insensíveis, nome com que se pode chamar os que perderam valores nobres ou estão em via de os perder, a quem as circunstâncias largaram a sorte para não ficarem doentes, necessitam de um antídoto contra a sua mentira. Pretendem politizar a acção quando o momento clama a unidade. Pretendem pôr em causa as pessoas de boa vontade, quando o momento requer o envolvimento de todos os estractos sociais. Pretendem destruir a cidadania quando o tempo é  de construção. A melhor maneira de expor estas mentiras é o sucesso. Não é necessário entrarmos num círculo vicioso em relação aos direitos dos doentes. É inútil criar obstáculos falaciosos; de contrário, impedir-se-á o caminho para a vida ou a vida será destruída. Não se pode basear a felicidade na desgraça dos outros. Rectidão e franqueza são os atalhos e o melhor caminho pra se seguir o objectivo claro: ajudar a quem necessita no que podemos ser úteis. Confrontar directamente o problema dos doentes e atacá-lo numa linguagem única: solidariedade, com objectivo de conseguir um adiamento do sofrimento enquanto os envolvidos nas negociações buscam plataformas de entendimento. Ninguém foi substituir a ninguém, ninguém foi ao hospital como forma de negar aos médicos o seu direito à greve. Ninguém nega as deploráveis condições laborais que caracterizam os nossos hospitais.
 
Não se deve recear uma ajuda aos doentes que necessitam do auxílio de todos nós. Não se pode ridicularizar o apoio voluntário dos outros. Senhores, salvar vidas não e apenas uma mera confirmação de algumas linhas escritas em linguagem fantasiosa para merecer os LIKES ou SHARE. Não é apenas a prescrição dos remédios. Muito pelo contrário, é um reeditar do trabalho, da vontade e determinação. É a limpeza do recinto e do quarto hospitalar; é o consolo ao doente em estado terminal, é o controlo do cumprimento da medicação, é a esterilização do material cirúrgico, é o transporte dos doentes de e para a sala da operação, para os raios solares, e mesmo o transporte de algum corpo para a morgue, também faz parte de salvar vidas. É o conversar com os doentes, escutando-lhes as suas proezas enquanto eram saudáveis. É o escutar daqueles últimos segredos da vida quando a morte se torna inevitável. É o desfazer e o fazer a cama, é o lavar os doentes, é o levar comida à boca daqueles doentes renegados ou cujos familiares se encontrem ausentes. Todos estes trabalhos concorrem para o mesmo fim supremo da existência de hospitais e dependendo da vontade, homens sensatos e disponíveis podem fazer.

A solidariedade não é um jogo no qual se apela a solidariedade para defender certos caprichos ou esconder certas verdades. Na sua essência, a solidariedade é um combate terrível contra todos os caprichos e ambições destes enigmáticos defensores de causas perdidas, sempre com pedras nos bolsos e nas mãos prontas para serem lançadas. Talvez os exemplos do que já experimentamos ou retiramos da história recente nos ensinem que a ajuda não pode garantir a segurança permanente daquele que a recebe. Mas nem com isso ela deixa de ser necessária e nenhuma calúnia destrói o que a intenção construiu. Aquando das cheias, vimos nossos irmãos postarem sacos de arroz, garrafas de óleo, calcinhas e outras coisas e em uníssono canalizamos todos os nossos esforços para a construção de uma grande fortaleza da solidariedade, em vez de fabricarmos suposições destrutivas. E naquele tempo, ninguém dos indignados de hoje ousou a criticar senão elogiar o gesto. Admiramos pasmados que hoje, quando a crise é também aguda, o peso e a medida sejam outros! Aos que estão em apuros e no desespero por terem sido apanhados de surpresa pela iniciativa cidadã dos outros fazemos um apelo sincero:
 
Tocai os sinos a chamar os vossos seguidores. Dizei-lhes que estas acusações ridículas, este sacrilégio, estas falácias e este ódio, foram as últimas atitudes negativas da vossa vida e que a ridicularização de boas acções acabou. Dizei-lhes que estamos a encetar um novo começo, uma nova vida, uma nova forma de ver Moçambique não em função das cores políticas. Dizei-lhes que nas próximas ocasiões preferireis manter a boca fechada a expor a perda gradual do humanismo que até antes desta última infâmia vos caracterizara. Quando não estiverdes dispostos a ajudar deixai os que tem vontade a fazê-lo  porque a vontade dos povos é uma parte da vontade de Deus. Tu, mãe sofredora, tu, mulher enviuvada, tu, filho que perdeste um irmão ou um pai, todas as vítimas desta greve, enchei os ares e o espaço de cânticos de esperança no fim breve desta greve, enchei regaços e corações com as aspirações da solidariedade como forma de pressionar os envolvidos nas negociações a devolver a paz às famílias que dependem unicamente do serviço sanitário público. Aos mortos em resultado da mesma greve, paz às suas almas. Construi uma realidade que floresça e viva. Fazei da solidariedade, humanismo e honestidade um código de conduta e progresso. Não deixemos os invejosos de lado pois eles também precisam de uma salvação espiritual de modo a que em cada batida do seu coração e com todo o sentimento sintam-se arrependidos pela infâmia do século. Num futuro breve, quando os sinos da paz repicarem, não haverá mãos livres para tocar os tambores da ociosidade. Mesmo que existissem, seriam travadas.
 
 

sexta-feira, 24 de maio de 2013

A Frelimofobia

O ataque cego e raivoso à Frelimo tem sido, durante anos, o tema preferido de toda a propaganda dissolvente e oposicionista. Pode ousadamente afirmar-se que talvez nenhum partido libertário tenha sofrido as arremetidas, os vexames, o ódio, da parte do que de mais inferior existe nas sociedades: os vingadores políticos que condecoram e honram para todo o sempre o procedimento inalterável da Frelimo. Contra ela se estabeleceu uma frente-única dos despeitos, da ignorância, da má-fé, dos interesses feridos, da baixeza de carácter e de inteligência, desde os oposicionistas saídos da revolução e considerados bem-pensantes aos livres-pensadores, que na frase de Adolfo Coelho, estão livres de pensar. Políticos e intelectuais mansos ou bravos, tudo o que há de corrosivo na nossa sociedade se juntou para proclamar a Frelimo inimiga da Liberdade e do Progresso de Moçambique e com ela, seus membros são odiosamente chamados de lambe-botas, graxistas, yesman, com pomposas e arrogantes maiúsculas.
Assim se estabeleceu a Lenda negra, hoje em pleno crepúsculo. Reeditar contra a Frelimo os ataques que contra ela se lançaram no século passado e nos começos do actual – os tempos da propaganda! – é, na época que decorre, mostrar supina ignorância e desprezo completo do ridículo. O inventario de tudo quanto temos à Frelimo está praticamente feito, e os benefícios que o país lhe deve são de tal ordem que relegam para plano secundaríssimo alguns erros que, porventura, haja cometido nestes 50 anos de admirável existência. Por ter introduzido a independência em Moçambique a Frelimo carregou com as diatribes mais apaixonadas e as injúrias mais contundentes que a uma organização política histórica têm sido dirigidas. Mas a investigação imparcial presta homenagem aos seus feitos e não se pode dizer que não seja obra grande…Por isso se torna incompreensível que moçambicanos conscientes do passado glorioso da Pátria ousem atacar uma instituição que tanto contribuiu para a grandeza do país. A Frelimo, que no fundo são todos os seus membros e simpatizantes, não pode ficar ameaçada com quem fica saltando de arbusto em arbusto.
Estamos a chegar ao fim de uma semana triste, assolada por uma terrível invenção humana sobre o desentendimento entre patrões e funcionários, a greve. Hoje em dia, é difícil ser-se optimista, não só porque o governo está no limite das suas capacidades mas também porque os grevistas refinaram os seus instrumentos de progressão. Mas deve-se ser optimista porque o país revela, dia após dia, não ser, de modo nenhum, uma frágil flor. A diversidade de opiniões em torno do mesmo tema é sinal claro de uma maturidade inquestionável.
Se a História ensina alguma coisa, ensina que a ilusão face aos factos adversos é uma loucura. Hoje em dia, vemos à nossa volta marcas do nosso terrível dilema – previsões do juízo final, manifestações anti-éticas e incerteza de como isto irá acabar. Qual é, então, o nosso caminho? Terá Moçambique que perecer sob a selvática tempestade grevista? Terá a liberdade dos doentes de definhar, numa acomodação passiva e muda ao mal totalitário?
A força do movimento grevista demonstra a verdade contida numa anedota que se conta em segredo na minha terra. Diz-se que quando um cego diz «vou-te bater» é porque pisou uma pedra. Os historiadores que no futuro analisarem esta semana observarão a constante moderação e intenções pacíficas por parte do Governo e a violência inicialmente tomada por alguns dos grevistas. Observarão que foram os grevistas que não quiseram seguir o caminho de diálogo. Observarão certamente que não foi o governo que fechou as morgues e os armazéns de mantimentos.

Como sair dessa?

Estamos a chegar ao fim de uma semana triste, assolada por uma terrível invenção humana sobre o desentendimento entre patrões e funcionários, a greve. Hoje em dia, é difícil ser-se optimista, não só porque o governo está no limite das suas capacidades mas também porque os grevistas refinaram os seus instrumentos de progressão. Mas deve-se ser optimista porque o país revela, dia após dia, não ser, de modo nenhum, uma frágil flor. A diversidade de opiniões em torno do mesmo tema é sinal claro de uma maturidade inquestionável.
A força do movimento grevista demonstra a verdade contida numa anedota que se conta em segredo na minha terra. Diz-se que quando um cego diz «vou-te bater» é porque pisou uma pedra. Os historiadores que no futuro analisarem esta semana observarão a constante moderação e intenções pacíficas por parte do Governo e a violência inicialmente tomada por alguns dos grevistas. Observarão que foram os grevistas que não quiseram seguir o caminho de diálogo. Observarão certamente que não foi o governo que fechou as morgues e os armazéns de mantimentos.
Se a História ensina alguma coisa, ensina que a ilusão face aos factos adversos é uma loucura. Hoje em dia, vemos à nossa volta marcas do nosso terrível dilema – previsões do juízo final, manifestações anti-éticas e incerteza de como isto irá acabar. Ao mesmo tempo vemos forças totalitárias que compram Jornalistas que fomentam a sublevacao  e o conflito em todo o país para promoverem o seu bárbaro assalto ao espírito humano. Qual é, então, o nosso caminho? Terá Moçambique que perecer sob a selvática tempestade grevista? Terá a liberdade dos doentes de definhar, numa acomodação passiva e muda ao mal totalitário?
O governo recusou-se a aceitar a inevitabilidade da greve sob uma chantagem. Pois é exactamente esta a nossa missão hoje: promover a harmonização dos benefícios sociais. Ironicamente, os grevistas não tem razão. Estamos a assistir actualmente a uma grande crise, uma crise em que as exigências de ordem económica chocam directamente com as de ordem ética. Mas a crise não está a acontecer no Governo livre, e sim na pátria da revolta: na AMM. É a AMM que rema contra a maré da história ao negar a liberdade de irem trabalhar aos seus associados. É a AMM que tem vergonha de como sair dessa sem um compromisso.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Serão as armas e convulsões sociais uma via viável para resolução de problemas?

É comum ouvir-se que a Frelimo está no poder há muito tempo sem nenhuma mudança. É comum ouvir-se que o povo moçambicano tem medo de alternância do poder. É comum ouvir-se que a Frelimo é a causa da pobreza em Moçambique. Se você ama Moçambique, se você deseja um Moçambique desenvolvido, se voçê deseja que a corrupção acabe, fique de prontidão – na sombra da escuridão, lá bem ao fundo da caverna, está em forja um golpe institucional contra a soberania dos moçambicanos decidirem o seu rumo. Não se trata de um golpe militar, mas sim, económico, com apoio declarado de algumas bocas nacionais. Com base em pretensos anúncios da corrupção se quer desmoralizar o Governo na sua luta contra ela.
 
Eu não concordo que somos pobres porque temos medo ou que sejamos medrosos. A pobreza não tem relação com o medo. Lembrem-se que um país civilizado (Japão) ficou sob o tecto do mesmo partido (salvo poucos meses) por 54 anos mas ninguém reclamou que a idade em que um partido está no poder é proporcional a inércia do desenvolvimento do país em causa. Que se lembrem os que querem atiçar a desordem que a Frelimo se debate não apenas com o combate ao subdesenvolvimento, como também ao processo de construção da nação, defendendo a soberania. As visões da teoria de desorganização social ganham cada vez mais terreno com facilidade, mas não levem a Frelimo a mal, porque não é culpada de ser escolhida pelo voto popular. Ela não escava abrigos para abrandar a guerra; o seu objectivo é avançar sempre sem dar tempo ao adversário para escavar o abrigo dele. A Frelimo vai ganhar esta guerra a combater e mostrar a todos que é mais corajosa do que os seus adversários são ou virão alguma vez a ser. Pode rir, pode ouvir mas ceder ao adversário político derrotado, NÃO, NUNCA.

Alguns clamam o derrube do governo por vias desonestas, através de golpe militar, sublevação popular ou coisa parecida, como se não tivessem familiares nesta terra. Quando os projécteis choverem à volta deles e eles, ao limparem o rosto da sujidade, descobrirem que em vez da sujidade é o sangue e as tripas do seu melhor amigo ou parente, nesse momento, saberão o que fazer e o que dizer! O povo moçambicano não quer voltar a guerra. Não estou a revelar um segredo quando digo que o povo moçambicano não quer voltar a guerra. É difícil aos que não concordam com o rumo do país renunciarem às suas perigosas e infrutíferas tentativas para ditar as suas vantagens. A Frelimo vai avançar constantemente porque o seu plano operacional básico é avançar e continuar a avançar, não importa se por cima, por baixo ou através das linhas do adversário.

De vez em quando vão haver algumas queixas de que estará a exigir demasiados esforços aos seus membros e simpatizantes e ao povo em geral. Mas estaremos nas tintas para estas queixas, na velha e sábia regra que diz que «uma onça de suor poupa um galão de sangue». Quanto maior for o nosso esforço, mais unidade garantiremos e menor será o risco da oposição vender a pátria. É chegado o momento de reconhecer que a escolha de uma forma particular de vida é uma questão que diz respeito a cada povo. Só os homens que agem de má-fé podem pensar em resolver a questão da pobreza pela força das armas. A Frelimo considera razoável e justo criar condições necessárias à reforma do funcionamento da economia de modo a abranger a todo o país para mudanças e melhorias num futuro imediato; e isto é visível a todos, excepto aos que propositadamente se vestiram de óculos de madeira para não serem testemunhas oculares do progresso em marcha.
 
Pedro MAHRIC

terça-feira, 21 de maio de 2013

Aos destinatários não revelados

i) Será verdade que não há diálogo político genuíno no nosso caso? É verdade. Há razões históricas para tal. Duas forças que se conhecem as animosidades íntimas dificilmente estabelecem a confiança genuína. Nós sabemos que manter o diálogo representa para as duas forças tão grande sacrifício que por favor ou amabilidade o não fariam a ninguém. Fazem-no ao bem do país como dever de consciência serenamente cumprido. A Frelimo e a oposição não tomariam, apesar de tudo, sobre elas esta pesada farda de diálogo armado, se não tivesse a certeza de que ao menos poderia ser útil a sua acção política. Querem que a Frelimo vos confie quando não o fazem vós mesmos. O ser genuíno depende da confiança e esta da reciprocidades.
ii) Não é verdade que as instituições estão partidarizadas e precisamos de nos livrar dessa situação? É uma miragem, uma questão a equacionar no futuro, quando estiverem asseguradas as condições dum trabalho eficiente. Há, na partidarização das instituições públicas, uma vontade decidida de regularizar por uma vez a nossa vida política e com ela a vida económica nacional. Nas actuais circunstâncias é prematuro falar-se em outra coisa senão confiança política, garantindo, em simultâneo, as execuções das tarefas e o sossego geral povo. Se o povo não possui vida condigna não é porque é governado por um partido incapaz, mas porque um Estado Soberano foi explorado durante 16 anos por um mundo ávido de despojos.
iii) Não é verdade que os processos eleitorais não são transparentes? É verdade e juntos podemos encontrar saída que não a proposta pela Renamo em retirar a SC. Podemos avançar para uma Comissão Independente, por exemplo. Porém, isso só é possível por efeito de uma varinha mágica porque o nosso interlocutor não está interessado em ver os independentes na conjuntura actual. Claro que nós também temos culpa no cartório sobretudo quando retiramos toda a razão em tudo o que sai do lado oposto, quando pensamos que o outro deve ser abatido, por ser outro e quando pensamos que o voto da minoria deve abafar-se no da maioria.
- Não é verdade que a exploração dos recursos naturais não é transparente? É verdade e constitui a causa de todo o descontentamento e ódio que tende a propagar-se. Pouco mesmo se conseguirá se o país não estiver disposto a acompanhar a forma como muitos contratos são feitos e como, aos poucos, o país vai sendo vendido. Faz pouco sentido que quem não estará nesta terra nos próximos 20 anos, pela lei da natureza, esteja a hipotecar o país aos chineses por meio século, criando problemas para os nossos filhos e netos. O pior é quando tal não é transparente. Devemos confiar na nossa inteligência de cidadãos e denunciar as covas abertas.
Debalde porém se esperaria que milagrosamente, por efeito de ameaças, a Frelimo mudasse as circunstâncias da vida nacional. É preciso contar com a Frelimo e acompanha-la com confiança na sua honestidade de querer desenvolver o país – confiança absoluta mas serena, calma, sem entusiasmos exagerados nem desânimos depressivos. O povo confia na Frelimo para ser o juízo da situação e quem odeia a Frelimo também, por efeito dominó, odeia o povo. A Frelimo sabe muito bem o que quer e para onde deve ir o país, mas não se lhe exijam que chegue ao fim quando os recursos ainda estão no subsolo, no tempo de investimentos e não de exploração. Finalmente, o ódio para com o Sul não é bem-vindo para a Unidade Nacional.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A retaguarda dos chantagistas e o poder da conspiração!


Dizem-nos que os médicos irão vencer. Iludimo-nos pensando que, pela força de medidas extremas, poderíamos ensinar o governo a cair em erro deliberado de fazer o impossível. Acredito que a maior parte dos moçambicanos assiste com algum desconforto aos julgamentos públicos que acabam de ecoar desde as montanhas de Mueda às planícies de Gaza e prosseguem noutras latitudes. Muitos compatriotas começaram por terminar com a condenação antes do julgamento, mas ninguém pode ser julgado segundo uma lei ex post facto. O julgamento dos vencidos pelos vencedores nunca é imparcial, independentemente de ser vestido com as vestes da lei. Pergunto-me se o aumento salarial daqueles que mal prestavam serviço, apesar de possuírem meios modernos, porque a trabalharem nas cidades, irá encorajar um atendimento digno aos doentes à partida condenados a todo o tipo de humilhações cuja existência o senso comum tende a ignorar. Toda esta greve está sendo promovida por um espírito de vingança, e a vingança raramente é sinónimo de justiça. A morte de mais pacientes constituirá uma nódoa no cadastro moçambicano, que lamentaremos durante muito tempo. Ao vestir a greve com as vestes do processo legal, corremos o risco de desacreditar, por muitos anos, todo e qualquer conceito de legalidade. Em última análise, mesmo depois de mortes terríveis havidas no passado e que nenhum jornalista quis fazer uma investigação séria para trazer ao púbico e consumir mas que agora voltam a carga para difundir o sucesso da greve, deveríamos olhar para o futuro com mais esperança e até os nossos adversários acreditassem que nós os tratámos com justiça.

Está a ficar cada vez mais claro que a falta de vocação para um determinado serviço é proporcional à falta de paciência e sensibilidade. Como pode ter acontecido que a nossa gloriosa classe médica tenha esquecido do seu dever e entregue vários dos seus juramentos ao braço alheio em troca de bens mundanos? Será mesmo verdade que a classe médica é invencível, como gabam incessantemente os propagandistas da oposição? É claro que não. A História mostra que não há classes profissionais invencíveis, e nunca houve. Existe um conluio entre um pequeno número de médicos com um pequeno número de políticos. Um conluio que a imprensa faz de conta que não existe. Os segundos querem usar os primeiros sem que aqueles descubram estarem na posição de para-choques. A aparição de alguns políticos que tinham desaparecido é um sinal claro. Mas não é tudo! As reuniões cobertas de secretismo entre alguns médicos com alguns políticos é outro sinal. Mas ainda não é tudo! A calma numas cidades e a violência noutros locais é algo astuciosamente pensado. Como se justifica que em vésperas de uma greve anunciada tenha havido uma reunião entre partidos fora do poder e os futuros grevistas, sem que tal tenha sido publicitado como exigem as boas maneiras, mesmo pela imprensa mais próxima da oposição por isso privilegiada a ter notícias em primeira mão? Os políticos inconformados com a táctica da sua luta encontraram nos médicos uma esperança renovada, capaz de roer aos poucos os alicerces do governo, alicerçados no povo e dele emanados.  

Os políticos querem obrigar o governo a fazer pequenos reparos aqui e ali de modo a propagar o veneno de pequenas greves até que o país se torne ingovernável. E encontraram nalguns médicos, interessados em desenvolver o seu negócio de clínicas privadas, homens corajosos, capazes de pôr o governo de joelhos, o governo emanado do povo. É esta a associação médica que temos: a reparar a sua imagem sem se dar conta da imagem do vizinho. Tomemos como exemplo, a PRM. Que distância separa o salário do médico do de um polícia e entre estes quem trabalha mais? É esta a associação médica que temos: a obrigar o criador a renegar a criatura. Compatriotas! É certo que o nosso governo está a ser esmagado pela força astuciosa do inimigo. Um grande perigo paira sobre o nosso país. E, não é que encontra colaboradores internos prontos a recebê-lo com sorriso nos lábios! Muito mais que o seu número, são os truques e a táctica que nos faz recear o pior.  Foram os truques e a táctica do passado que surpreenderam o nosso governo a ponto de o levarem onde está hoje. Mas estará dita a última palavra? Deverá a esperança desaparecer? Será a derrota definitiva? Não! Acreditemos em nós mesmos que falamos com conhecimento de causa e que dizemos que nada está perdido. Porque o Governo não está sozinho nesta batalha! Não está sozinho! Não está sozinho! Tem um vasto império atrás de si. Podia o Governo tomar medidas extremas que levem parte dos grevistas para o desemprego, mas não o fará pois é disso que os astutos precisam para justificarem o caos.

Pode formar um bloco com os seus parceiros de cooperação e redesenhar as vias mais drásticas, renegando a criatura, mas não o fará por reconhecer o povo o direito à indignação. Esta batalha não está perdida! Esta greve não é apenas contra o governo! É uma greve de renegação do dever! É uma greve contra o povo moçambicano. Esta greve é mais uma estratégia para forçar o povo a estar contra o próprio governo. A este respeito, não é de somenos o facto de alguns líderes da oposição guardarem o silêncio enquanto outros saem esporadicamente, menosprezando os esforços conseguidos pelo Governo ao elevar o salário dos médicos para 15%. Naturalmente, o nosso Governo amante da paz e não desejando tomar a iniciativa de quebrar a confiança, não poderia recorrer a uma perfídia.  O Governo não traiu a ninguém! Apenas não pode dar o que não tem e nem pode cunhar mais dinheiro para dar aos médicos sob pena de zimbabweanizar Moçambique, com uma inflação galopante. Poderá perguntar-se: como pode o Governo moçambicano ultrapassar este imbróglio? Terá sido um erro ter prometido que havia de dar soluções na concertação social, no mês de Abril? É claro que não! O Governo não disse da primeira vez que havia de satisfazer em 100% as reivindicações dos médicos como querem dar a entender os vendedores da esperança. Creio que nenhum governo amante da paz poderia dizer «NÃO» a uma contraparte no momento H de tensões, mesmo se esta contraparte fosse liderada por demónios e canibais. Deve o Governo rescindir o contrato com os que não querem trabalhar? Por enquanto não, mas não é de pôr de lado.

O que é necessário para pôr fim ao perigo que paira sobre o nosso país, e que medidas devem ser tomadas para envergonhar aqueles que estão atrás dos médicos com segundas e terceiras intenções? Acima de tudo, é essencial que o povo compreenda toda a magnitude do perigo que ameaça o nosso país e abandone todas as falsas espectativas criadas em volta da riqueza que ainda não temos. Esta ideia de riqueza foi mais difundida pelos escribas da oposição e difundidas pelos seus meios de propaganda. Se o Governo fosse rico, não lhe custaria aumentar o salário conforme o desejo dos médicos para continuar a usufruir do que dizem ser o resultado dos impostos do povo. O adversário do regime é astuto, cruel e implacável a ponto de mandar fechar casas mortuárias e armazéns de comida hospitalar! Ele apodera-se dos corações mais sensíveis com intenções de apoderar-se do poder por vias menos legítimas, esquecendo que este Governo está dentro do prazo de validade. O povo deve erguer-se não contra os médicos, mas contra os incitadores dos médicos, os arquitectos morais de tudo isto! Se o povo deve estar alerta, os membros do partido no poder devem combater até à última gota do sangue pelas causas consideradas justas. O país tem leis e em tudo deve, para a função pública, reger-se por leis. Se me perguntassem qual era a minha opinião em relação ao aumento salarial aos médicos, responderia que não se lhes deve aumentar porque tal iria abrir precedentes perigosos para outras classes profissionais. Mas porque sou apenas uma cabeça, acatarei a decisão que for tomada. Temos que fortalecer a retaguarda e nunca ceder chantagens.
 
Pedro MAHRIC
 
Anexo
 
Texto de David Mauricio Bamo

“AS HIENAS TAMBÉM SORRIEM”

As Hienas Também Sorriem: Um efeito dominó para muitas “classes”

As Hienas Também Sorriem é o mais recente brinde literário do Contista e dramaturgo, representativo da novíssima prosa moçambicana, Aurélio Furdela. O livro não é feito só de contos, assim como de canções de angústia sadicamente cantadas por diversas forças vivas da sociedade.... Isto porque as fábulas da obra retratam o dia-a-dia de qualquer moçambicano, é como se de Marrabenta clássica de Moçambique se tratasse. Uma Marrabenta que exaltação das nossas vitorias e desgraças.

Por outro lado, o livro remete-nos a hipocrisia caracterizada pelo sentido metafórico do seu título, As Hienas Também Sorriem. Pois bem, como é possível? Hienas seres selvagens tão perigosas, sem humanismo possível para sorrirem, mas que na prosa “cronística” Furdeliana aventurada nos contos, vão mostrar os seus perigosos dentes.

Na nossa óptica a abordagem de Aurélio Furdela não é essencialmente uma carta de amor aos doutores deputados, porque o efeito dominó é extensivo à muitas classes. Quantas vezes não vimos gente falsa com sorriso largo, a engatar inocentes pelo cifrão, padres que estupram crianças, jornalistas que vivem de comissões, ganância assassina que leva os médicos a abandonarem os doentes, meia a volta, estas todas classes quando o assunto é a protecção do estômago faz-se de vitima, e num outro ângulo, finge um profissionalismo inexistente. E nós perguntamos quem são essas hienas que sorriem? É o que Roberto Chitsondzo chamaria de Katina P, ou seja, todos os esforços que se opõem ao desenvolvimento. Há aqui uma falsidade que mata, arrogância que mata, estupidez que mata, individualismo que mata, e esses actos macabros, quem leva a cabo? São de homens e mulheres desta terra libertada com suor, sacrifício e sangue. Não obstante, e me socorrendo na música Sathani dos “Bons Rapazes”, tiramos vida uns aos outros por causa do morango – o dinheiro. E de novo perguntamos quem são essas hienas que sorriem? Se quem se diz apoiar o país “prostitui” o povo, agita extremismo. Dão-nos balas que matam. E quem ganha? São as hienas.

Todos ambiciosos, individualistas, extremistas e tantos outros terão que ser as hienas furdelianas que sorriem pelo cifrão. A isto chamaríamos, pobreza de espírito.

domingo, 19 de maio de 2013

Teorias da ajuda externa




O argumento de existência de uma motivação comercial assenta na ideia, geralmente aceite, e que pode ainda defender-se, de que os países subdesenvolvidos representam simultaneamente fonte insubstituível de mercadorias e de matérias-primas essenciais e um mercado indispensável para uma parte das exportações das nações industriais.

De acordo com este prisma, para manter e desenvolver o sistema de trocas internacionais é indispensável assegurar a interdependência entre os países ricos e aqueles cujos rendimentos são fracos. Porém, os críticos reconhecem que o comércio mais rentável faz-se cada vez mais entre ricos e incide sobre artigos manufacturados[1].

A variante comercial da ajuda externa considera que nos países pobres se encontram certas mercadorias e matérias-primas em condições mais vantajosas, do que as oferecidas pelas fontes concorrentes dos países ricos, e que os seus mercados até podem oferecer possibilidades consideráveis.

 


A argumentação estratégica da ajuda externa compõe-se de vários elementos ligados entre si partindo do mais simples ao mais complexo. Na sua forma mais simples, diz que num mundo onde reina a concorrência entre as grandes potencias, a hostilidade de um estado subdesenvolvido pode leva-lo a conceder privilégios militares a um estado ou grupo de estados ricos, em detrimento dos outros. Inversamente, a cooperação estreita com um país pobre pois pode ser causa de concessão de facilidades portuárias, de bases aéreas, terrestres ou electrónicas, e/ou, em caso de guerra, levar à oferta de um apoio estratégico ou mesmo a uma aliança para ajudar o esforço dos países amigos ricos. Há projecções ideológicas para este argumento. Os regimes que se identificam com as projecções ideológicas de um país rico tem mais possibilidades de ouvir as suas advertências, de se regularem pelas suas atitudes políticas ou de aprovarem, ou favorecerem, os seus actos que implicam pressão psicológica ou física. Finalmente, os estados pobres ideologicamente de acordo são mais susceptíveis do que os outros em concederem aos investidores privados das potências ricas um tratamento de preferência, e assim de combinarem os elementos que os mantêm na esfera de influência das grandes potências em causa[2].

A ajuda externa visa também responder ao desafio da continuidade, à violência e à ameaça perante a ordem internacional. O progresso económico, segundo seus apologistas, produz regimes maduros e estáveis e contribui assim para uma política indispensável de garantias contra o progresso do caos e a desintegração das relações internacionais ordenadas. Isto começa a estar ameaçado por acontecimentos ocorridos em diversas regiões subdesenvolvidas do mundo. Há guerras locais que ameaçam criar complicações internacionais, com um crescimento no andamento e na intensidade de violência que traz consigo actos como as sabotagens de instalações essenciais, os raptos, actividades perante as quais a estrutura complexa de países desenvolvidos é particularmente vulnerável.

A estratégica está, igualmente, para responder a possibilidade de os países pobres se equiparem com armas relativamente baratas mas altamente eficazes, biológicas, bacteriológicas, químicas e de destruição em massa e mesmo nucleares, até serem necessariamente governados por homens razoáveis[3]. Mas os críticos consideram que todos estes argumentos não são suficientemente capazes de legitimar a ajuda externa. Eles notam que o auxilio externo raramente provoca a gratidão e pode até originar o efeito contrário, como ficou patente nas relações União Soviética-Indonésia, França-Argélia ou Estados Unidos-Paquistão[4].

Quantos às afinidades ideológicas, elas só podem ser duradoiras se se apoiarem numa concordância espontânea e eficaz de opções, porque a imposição de preferências ideológicas engendra, inevitavelmente, uma oposição interna, capaz de enfraquecer a colaboração, fazendo-a descer até abaixo do nível que teria alcançado sem interferências. Em todo o caso, todos os que apoiam fazem-no na suposição de que o auxilio económico produza resultados imediatos, e consequentemente, um compromisso proporcionalemtne rápido.

Resultados da experiencia mostram que na maior parte dos casos, o desenvolvimento é tão lento que o seu resultado ideológico e para os doadores, apesar de trazer proveitos a curto prazo, a duração do entendimento fica ameaçada sempre que ultrapassa o interesse evidente do pais receptor. Como notou MENDE (1974) «não se pode pôr-se completamente de parte a possibilidade de um país subdesenvolvido empregar armas modernas e altamente eficazes contra uma potencia industrial, mas por causa das represárias destrutivas que inevitavelmente provocaria é difícil imaginar que indivíduos raciocinando logicamente pudessem tomar semelhantes decisões.

Se assim fosse, era igualmente improvável que uma simples ajuda económica, ou outras vantagens materiais, desviassem esses indivíduos dos seus actos absurdos. No entanto, não pode excluir-se a possibilidade de qualquer das potências militares da zona norte considerar vantajoso para se levar um pequeno país ao suicídio, para servir o seu plano de causar embaraços às outras grandes potências[5].

 


Segundo os apologistas desta corrente de pensamento sobre ajuda externa, as clivagens rico-pobre podem fazer com que os desenvolvidos enfrentem um dia a cólera dos pobres à escala internacional e não já a nacional. Perante isso, existe uma indignação moral legítima perante a situação existente nos países pobres, e que retira, ou até mesmo substitui a serie vulnerável de argumentos económicos, políticos e militares duvidosos, evocados habitualmente em nome da cooperação, mais avançados entre os mundos rico e pobre.

Segundo o argumento moral da ajuda externa, existem nos países abastados milhões de indivíduos cuja imaginação vai até ao ponto de conceber a decadência dos sofrimentos daqueles que vivem nos países longínquos. Estes indivíduos acham-se sensíveis a uma obrigação moral com sentimento de culpa devido, em parte, a responsabilidade colectiva do passado colonial e a consciência parcial que tem de beneficiarem de uma ordem internacional que tende a prolongar ou mesmo a reforçar a exploração[6].

Por detrás desta obrigação moral, existe um receio secreto de que o aumento dos pobres possa conduzir a que os abastados sejam uma minoria impotente. Devido a este facto, o sentimento de solidariedade aumenta visando atenuar as consequências que possam advir do isolamento psicológico dos ricos para com os problemas dos pobres. Por isso, o argumento moral da ajuda externa, revelou-se mais eficaz para mobilizar a opinião pública em favor do auxílio[7].

Tornou-se evidente, no meio da massa abastada, que os governos que prestam auxilio económico, usam meias verdades para atingir os fins o que faz com que as maiorias privadas de acesso material estejam cada vez mais conscientes das suas privações. A tomada de consciência dos pobres resulta na rejeição consciente da ideologia assim como dos valores do mundo materialmente avançado, pondo em causa qualquer código universal de valores humanos[8].

A minoria próspera tem de fazer frente ao principal perigo que é o reflexo defensivo dos pobres que procuram atingir e igualar os níveis de vida que em determinado momento histórico são privilégio da minoria. A ajuda externa moralmente cedida seria um caminho andado para atenuar os conflitos entre uma minoria imensamente forte e materialmente bem avançada com uma multidão miserável, vulnerável e cada vez mais impaciente.



[1] Ibdem
[2] MENDE, Tibor. op. cit., 1974:19
[3] Idem, op. cit., p. 20
[4] WOLF, Martin, Why This Hatred of the Market? Financial Times, May, 1999:87
[5] MENDE, Tibor. op. cit., 1974:20
[6] WOLF, Martin, Why This Hatred of the Market? Financial Times, May, 1999.
[7] LECHNER, Frank J., BOLI, John. The Globalization, Reader, Blackwell Publishers, Oxford, 1999:98
[8] MENDE, Tibor. op. cit., 1974:24

domingo, 12 de maio de 2013

A Frelimo e os ventos da História

Tenho visto a oposição desenvolver esforços consideráveis no sentido de mobilizar o país contra a Frelimo, agora instalada à ilharga dos lares dos seus próprios líderes. Mas o certo é que não falta quem veja nessa atitude uma clara luta contra os ventos da História, que ela própria parece ter visto soprar com alguma indiferença, senão tranquilidade, sobre Pemba, depois sobre Cuamba, parecendo apenas inquietar-se seriamente quando chegou às suas portas, naquele 18 de Abril, aquilo que, em face do enorme desastre já consumado, pode chamar-se uma ligeira brisa. Tínhamos visto profetas profetizando o fim da Frelimo mas a história registou o princípio do fim da oposição. Naquele dia de glória, a prontidão das forças de segurança, evitou o pior que tinha sido arquitectado sob a cortina de ferro. Jovens instrumentalizados acabaram parando em tribunais em processos que o bom senso poderia evitar e que franja da oposição insistiu que acontecesse. A política que tem levado a estes resultados é a que nós chamamos de reaccionária, porque justamente é caracterizada pela mesquinha defesa de interesses exclusivos, sem respeito pelos interesses daqueles mesmos que mais de uma vez foram chamados a honrar com o sangue do seu povo a fidelidade ao que supunham ser a mesma concepção de vida.

Tal como profetizaram naquele tempo, eis que hoje, os mesmos videntes fracassados de ontem aparecem com esperança renovada, não se sabe como e de onde. Do ponto de vista daqueles a quem o acaso confiou a liderança da oposição, não é a extensão dos insultos e acusações falsas nem enganosas promessas ao povo que dá aos ventos a dignidade de ventos da História. A Frelimo tem optado por colocar em cargos de chefia as pessoas de sua confiança tal como tem acontecido nos municípios sob gestão da oposição. Parece-nos contraditório que esta, que nunca colocou nenhum frelimista nas suas hostes, venha de boca cheia sugerir a Frelimo para colocar os seus quadros na função pública, os quais, no estado actual, só poderão contribuir para a sabotagem e fragilização do poder central e dos objectivos preconizados. Por isso temos certa dificuldade em entender que, não aceitando esse critério para uso próprio, o vejam como bom para os outros. A oposição precisa não apenas entender mas sobretudo compreender que actualmente é a Frelimo quem governa Moçambique com uma agenda por si feita que não contempla governo de unidade nacional. Tanto que insista em que a Frelimo deve melhorar, tomando como exemplo apenas o número de vezes que já faliu a presença dos partidos da oposição em Moçambique, cabe ao povo decidir e acompanha os ventos da história quando se recusa a contribuir voluntariamente para a catástrofe geral da oposição nestas paragens.

Eu entendo que a falência sucessiva dos esforços desenvolvidos, directamente ou sob algumas ONGs, para conter a expansão frelimista, demonstra a injustiça da causa que continua a convencer-nos a todos da oportunidade de sacrificar muitos dos nossos recursos a manutenção da democracia, e por isso também entendo que a falência sucessiva da oposição demonstre a injustiça da causa a que temos sacrificado o melhor nas nossas energias, interesses e capacidades. Pelo contrário, sabemos pela experiência que todos estes desastres se têm somado em benefício do adversário comum, a pobreza, e por isso, entendo que se trata do mesmo processo de erosão cuja vítima final é Moçambique e, com ele, tudo quanto no país representa a expressão do espírito nacional. Não consigo encontrar motivos para supor que é a partidarização do Estado que trava o avanço da oposição quando somos um país com mais de 20 milhões de almas e não consigo descortinar motivo que nos leve a aceitar como razoável uma diversidade de atitudes em relação a interesses cuja perda beneficiará sempre o nosso adversário político. A oposição esqueceu-se de um aspecto fundamental do problema, o qual se traduz na íntima e vital relação que existe entre certos valores da política nacional e subsistência do povo que sempre lhes prestaram homenagem. Quando o povo escolheu a Frelimo já existia a partidarização da função pública enquanto ela lutava para criar um ambiente de coexistência política sadia com aqueles que a não aceitam!

Ora este dado fundamental da problemática da coexistência política foi uma constante da acção governativa, que considerou sempre igualmente válidos os direitos dos simpatizantes da oposição e os direitos dos partidos a que naturalmente pertencem. Considerou-os sempre igualmente válidos como valores que devem ser preservados por fazerem parte do património comum da moçambicanidade e não como simples valores instrumentais facilmente substituíveis por outros ao serviço de novos interesses. Mas isto não significa que seja a Frelimo a torcer a corda com que se enforcar. Pelo contrário, ela tem o direito de procurar os melhores antídotos contra a praga de calúnias que lhe vêm de todos os cantos. Que seja a oposição a apontar as vias pelas quais se deva processar a despartidarização do Estado, ao invés de só criticar e sem nenhuma sugestão. A experiência da Frelimo é também alguma coisa de importante que deveria ser tomada em conta pelos sábios e perplexos encarregados de definir um novo esquema para a coexistência política, e que até agora não conseguiram senão alargar as possibilidades de conflitos de interesses. Dizendo isto, antecipo de alguma maneira a resposta à questão que muitas vezes me tem sido posta de saber porque é que a Frelimo teima na manutenção da sua política de alargamento de células, e até a questão de saber porque é que a Frelimo não abandona partidarização do Estado. É porque parece mais claro a oposição estar só a criticar sem trazer soluções aos problemas que ela mesma levanta. No lugar de propor soluções esforça-se em levantar cada vez mais problemas.

Acusa o partido no poder de imobilismo em face de um mundo em mudanças e também não faltam acusações no sentido de que a sua persistência se traduz numa política arrogante. O quadro destas acusações não fica mais negro se acrescentarmos que vêm dos dois lados da cortina de ferro que representam a nossa oposição, o que por vezes parece assumir o aspecto de uma unanimidade condenatória impressionante. Ninguém estranhará, por consequência, que a Frelimo muitas vezes se sinta a si própria como uma espécie de Berlim, igualmente cercado pelo ódio e pela fraqueza, e todavia levantando com teimosia, mas também com coragem, a bandeira da liberdade. Em primeiro lugar, não entendo que se acuse de imobilismo um partido que sustenta ser necessário que o espírito da unidade nacional continue a projectar-se em todas as famílias e aceita que se considere dinâmica a política que os outros partidos desenvolvem na arena nacional. Compreendo que sentimentos de pudor nacional levem a chamar dinâmica à prática de abandonar rapidamente todos os pontos onde surge uma ameaça do inimigo e de abraçar atitudes ditatoriais como tem acontecido na oposição, aconteceu na primeira geração de partidos; e também na segunda e parece que começa a acontecer num partido da terceira geração que há semanas advogava um esplêndido exemplo de democracia. A nós, que somos um partido simples mas secular e com pouca experiência dessas subtilezas, tem-nos parecido que esse dinamismo se traduz no abandono dos ideais, na fuga às responsabilidades, na quebra da palavra dada, no progresso da perda da dignidade do homem numa extensão com poucos precedentes na História. Em resumo, ausência de uma agenda contínua!

Por outro lado, tenho a convicção de que a Frelimo representa uma notável conquista dos moçambicanos e recuso-me a aceitar o carácter progressivo da nova política que a vê em tudo o que é grupo social, transpondo para um plano nacional lamentáveis exemplos de tragédia partidária em que ser da Frelimo passa a ser crime. Tenho a certeza de que alguns dos nossos amigos suspeitarão que esta observação diz respeito à sua estrutura social interna enquanto membros de respectivos partidos e não me custa dizer que não estão enganados. E também gostaria que esses amigos, a quem as circunstâncias atribuíram uma chefia que porventura não desejaram, mas de que se dizem orgulhosos, tivessem a bondade de dizer, com clareza igual, que a experiência lhes mostra que a sua política começou por erros que se foram corrigindo com o tempo e que agora ainda não se encontram minimamente preparados para enfrentar a gigantesca máquina frelimista. Como os factos são estes, não é de estranhar que se tire a conclusão de que andaram à procura de uma experiência política baseada na destruição prévia dos alicerces legítimos dos partidos alheios. Pouco importa que se tenham inventado novos nomes para esconder a sua dependência aos seus patrões estrangeiros, mas importa muito sublinhar que a Frelimo foi e está a ser expelida em favor dos interesses de patrões estrangeiros, os mesmos que pagam as cotas para milhares de pueris que se dizem membros mas que nunca contribuíram com um único centavo para cotas partidárias e sem qualquer proveito para os moçambicanos. Ainda é conveniente sublinhar o seguinte: que o proveito tem sido maior para a oposição, a qual conta com o apoio governamental para fortificar as suas acções.
 
Pedro MAHRIC

segunda-feira, 6 de maio de 2013

Deve a Frelimo defender-se?

Pretendem alguns, com recurso a insultos e adjectivos, contrariar as directivas que nortearam o trilho da Frelimo, enquanto outros entoam cânticos de louvor à oposição, à vista de todos nós; e a oposição entusiasma-se pela violência psicológica e insultos a que sujeita ao partido no poder. Admirando com júbilo a exclusão de milhares de cidadãos que poderiam contribuir em ideias e acções para o bem-estar de todos gaba-se pelos erros da Frelimo, passados e presentes, e insinua um visionismo negro para o país enquanto continuar em suas mãos. Perante os factos, ilusoriamente propalados, os moçambicanos imaginam que a vitória da Frelimo há-de vir em resultado dos esforços que ela emprega? Pois estão redondamente enganados. Ela tem de vir porque a oposição a chama, com as suas provocações e insultos ao poder legitimamente estabelecido. Para ela, o poder está podre e corrupto e, por isso, um dia, há-de cair como caem da árvore os frutos que apodrecem. Esqueceu ela que faz parte desta sociedade e que tem parte de responsabilidade! Esqueceu ela que está tão dividida em conflitos intestinais na definição do alvo doméstico. Esqueceu ela que não são os descontentes que governam um país. Que revisite as páginas da História sobre a Comuna de Paris!

A felicidade da oposição não pode já durar muito porque ela, velha e podre, não tem já força para resistir á corrente emancipatória do cada vez mais frelimizado povo moçambicano, cuja impetuosidade rechaça, tentando pôr-lhe diques! Seus partidos, n’um, talvez no último paroxismo da agonia, erguem-se em ditadura usando como instrumento a calúnia contra o esforço braçal do governo, contra o sacrifício da polícia, contra a Justiça e, em última instância, contra o próprio seu Governo ao qual deveriam submeter-se. Ao invés de submeter-se às instituições deste, entregam-se à confiança cega nos meios de comunicação, e atiram-se ferozmente á democracia, julgando estrangulá-la com a perseguição á livre escolha do povo que escolheu a Frelimo, diga-se, com maioria absolutíssima, transforma o que representa para ela tão grande sacrifício em brincadeira contra a soberania popular e ao progresso! Coitada Oposição! Julgando salvar-se do próximo castigo eleitoral, abismou-se ainda mais!

Ela no seu todo, embora aparente ter brilhado neste momento de crise, está em declínio, porque as cinco décadas da existência da Frelimo não representam a velhice, mas uma esperança e sonhos renovados rumo ao progresso. A calúnia contra ela é um parêntesis aberto no período da liberdade para obscurecer a ideia democrática que se desenvolve de dia! A Frelimo não se contenta com o lugar de vítimas porque quer orientar milagrosamente os seus objectivos. A oposição luta para a colocar na defensiva! E ela responde-lhe com igual medida. É quase seguro que não é no silêncio que superaremos este obstáculo, por um lado, por outro, é mais seguro ainda que a resposta agressiva contra estes insultos, indicaria o princípio da anarquia geral. Entendo ser um dever de consciência facilitar ao povo a maior união possível para a rápida consciencialização dos perigos que estes insultos escondem. A oposição mais intolerante e arrogante, vingativa e invejosa. Não há bem nenhum que a Frelimo tenha feito em 50 anos da sua existência, partilhados entre a dor e a alegria. Foram 28 anos de guerra e turbulência. É preciso que a História registe. Há 37 anos que a Frelimo é paciente com as brincadeiras: chega!

A imprensa livre, em vez de reconhecer-lhe os direitos históricos do seu sofrimento na luta contra o tribalismo, divisionismo e, ultimamente, contra a absoluta pobreza, atreve-se a falar de uma guerra perdida e de que a pobreza está a aumentar! A imprensa livre, em vez de se deslocar aos distritos e testemunhar in loco o grosso de infra-estruturas ali e acolá levantadas e superiormente inauguradas, ousa propalar que não há progresso e há um recuo! Porque não faz ela as contas sobre a relação entre o propalado recuo, infra-estruturas, o nível de vida da população de há 10 anos e nascimentos? Se a Frelimo perdeu a guerra, quem a ganhou? Até provas em contrário, recuso-me a acreditar que o verdadeiro povo moçambicano, maravilhoso e heroico, se junte aos que defendem o subdesenvolvimento. Foram 37 anos em cuja dedicação foi-lhe tão heróica que os estados inimigos merecidamente o admiram!! Até provas em contrário, recuso-me a acreditar que o verdadeiro povo moçambicano queira derramar novamente sangue e lançar o país numa catástrofe por causa de interesses obscuros em plena luz do dia.

Contudo, não nos podemos dar ao luxo de ignorar as possíveis consequências da nossa letargia nos futuros desenvolvimentos. Às calúnias se deve responder com elogios. Às denúncias sobre a corrupção, se deve responder com punições exemplares e às suspeitas se deve responder com explicações e esclarecimentos claros. Um partido digno do seu passado e do seu nome não pode tomar e nunca tomará uma posição indiferente, quando os ataques lhe vêem de todas as direcções. 50 anos ajuízam, em parte, a velhice e a imperiosa necessidade de renovação, sob perigo de sofrer graves golpes e morrer precocemente de tanto stress. A chave do sucesso está na juventude que, nesta hora histórica, revelou tanta força de carácter que já não a podemos atrever a ameaçar com palavras sem acções. A oposição tenta confundir o povo, obrigando-lhe a negar a sua própria história e a transformar o sofrimento numa virtude e conformismo, quando a Frelimo apela ao trabalho.

Nenhuma sociedade atingiu elevado nível de vida criticando. Todos os comentaristas que explicam a natureza do poder estão a expressar a ideia de que há política de exclusão, quando eles, usando instrumentos contundentes, aproveitam a ignorância do povo para lhe inculcar a ideia da negação à inclusão. Não há um único comentarista entre aqueles que criticam a Frelimo que negue esta verdade fundamental de que esta libertou a pátria e que é o garante da unidade nacional. E agora, quando a máquina partidária começa a movimentar-se para a destruição dos empecilhos do positivo progresso democrático e remoção dos instrumentos de opressão e a conquista do progresso, estes comentadores colocam a situação como se a Frelimo estivesse a abandonar a resistência e pronta a submeter-se à minoria oposicionista interna e à ínfima oposição externa que insultam os seus líderes a seu bel-prazer como se no partido não existisse uma maquinaria capaz de rechaçá-la com os mesmos meios a que eles se socorrem!!

A juventude está descomprometida com o passado histórico e ela, descontente que está, pode constituir em nosso pesadelo mais certo. Felizmente podemos dizer a todos que ainda há tempo para reparar os erros cometidos e assinar o novo contracto social que vislumbre uma reconciliação duradoira, garante de uma vitória confortável. Se a vitória não for fácil, difícil será consolidar o triunfo. Sendo a sobrevivência uma necessidade tão premente e óbvia, confesso que a Frelimo deve tudo fazer para a conquistar, como sempre o fez. Os frelimistas amam o seu partido por isso o defendem. Mantém ao mesmo tempo os simpatizantes em atitude vigilante, responsável e combativa usando os meios com que a oposição se socorre quando insulta o seu presidente e o calunia, a fim de por rapidamente o país em marcha e tenho fé, na conduta heróica de cada camarada que tornará possível a sua filosofia. Por isso, a Frelimo deve defender-se. Este é o imperativo do momento!
 
Pedro MAHRIC

Contra o discurso Tribalista da Renamo

"A Frelimo enviou polícias e militares do Sul para atacar a população do centro. Despachou 'machanganas' para matar 'chingondos' em Muxúnguè, mas os 'chingondos' responderam", Arlindo Milaco, chefe de mobilização nacional da Renamo.
  
Ressentimos hoje, 20 anos depois, os efeitos dos carros emboscados pela Renamo nas colunas militares. Talvez a juventude não saiba as razões históricas da falta de transporte com qualidade. Tendo passado duas décadas, sempre trabalhando e lutando com acrisolado amor ao povo, é com mágoa que ressentimos hoje, a falta de quadros públicos a todos os níveis chacinados pela Renamo como meio de criar impacto maior na instabilidade nacional. É preciso reconhecer que também tivemos culpa no cartório mas nós tínhamos chegado a ponto de contar apenas com a força do nosso braço e a grande vontade de vencer. O país ressente hoje a falta de estradas e pontes outrora minadas – recordemos do Pungue –, das fábricas outrora desenvolvidas a Norte do Save. Ora isto é, realmente, muito, mas não é tudo. Espanta-nos que, não obstante ser verdade, após todos os danos que a Renamo causou pelas próprias mãos venha reclamar que não há desenvolvimento, que há má distribuição da riqueza, que o norte está mal. É com algodão nos tímpanos que ouvimos da vossa boca que pretendeis dividir o país, cuja unidade foi regada com sangue! A Frelimo, devidamente auxiliada pela razão tende reconstruir o país! Não sejais porta-vozes do diabo e nem aspireis viver a hipocrisia. É injusto que vivendo anos ininterruptos na capital e no sul em geral, casados com as mulheres e com os homens de todas as tribos comeceis a chamar tribalista quem vos acolheu a ponto de esquecerdes os vossos, lá no Norte.

Nós suportamos os anos do repolho e de carapau e agora que erguemos o país dos escombros, eis que apareceis para destrui-lo novamente! Quereis ir alimentar novamente a indústria de Carne do Botswana conseguida pela bicha? Talvez não saibais que enquanto acabáveis o gado das já pobres comunidades nós comêssemos a carne vinda do Botswana! Talvez não compreendeis pois enquanto nós não tínhamos dinheiro para comprar algo vós penetráveis pela mata de onde regressáveis com algumas gazelas. Nós somos sobreviventes do grande desespero, engolidos pela vingança humana! Nós já fomos acordados pelo som da espingarda. Nós já sofremos ataques de três/quatro forças! Ainda recordamos o Janeiro de 1982 quando a República da África do Sul atacou Matola, através de comandos e mercenários que se infiltraram pela zona de Ressano Garcia. Em vez de ficarmos choramingando, a voz de Samora animou-nos ao dizer «que venham»! Que apareçam! Ainda temos na memória o 17 de Agosto de 1982 em que foi morta a bomba mulher de Joe Slovo, Ruth First. Aí na UEM. Não esquecemos o 7 de Abril de 1988 em que Albie Sachs escapou sem braço a um ataque similar que deflagrou no seu carro.
Ultimamente, antes de Dhlakama embarcar para Gorongosa, por ocasião do 17 de Outubro, de onde tem lançado as suas ameaças, perguntamo-nos: porque não vai até Maputo ou Beira? Nós teríamos grande prazer em lhe fazer as honras da casa. As nossas cidades precisam de pessoas do seu valor, que a visitem, a percorram, a estudem, porque fazem parte integrante e inseparável da nossa nação. Como até hoje, não se lhe deparou oportunidade, para fazer essa viagem, da qual, indubitavelmente, adviriam resultados profícuos, não só para enriquecer a nossa auto-estima, mas também para esclarecer vários e importantíssimos problemas nacionais, lembramo-nos (vede a nossa ousadia)  de lhe oferecer esta modesta e humilde promessa, sem nenhum valor divino, mas que, talvez, lhe possa sugerir a ideia de se dedicar a assuntos nacionais: as portas do diálogo estão abertas. Valer-lhe-á a honra de ter o seu glorioso contributo em avisar ao Dhlakama que pare de ameaças, a Frelimo já aprendeu. Em 2013 os 43 municípios passarão, na sua totalidade, ao glorioso, sem pena nem dó. Quanto a materialização das repetidas ameaças responderemos com Samora: «que venham! Que apareçam!».
 
Pedro MAHRIC

sábado, 4 de maio de 2013

Se a Despartidarização enfraquecer a Frelimo ela não recuará um milimetro

Se o teu inimigo te critica é porque estás num bom caminho. Levantam-se vozes apelando a despartidarização do Estado e a desfrelimização das instituições públicas. Esta exigência representa por si uma linha vermelha, como já fiz notar aqui. Faz tempo (2012) que escrevi isto, mas continua actual: A Frelimo não vai recuar um milimetro se tal recuo significar perda de protagonismo político. Venerados irmãos, que em tão reduzido número, circundados de armas de arremesso apontados à Frelimo, formais majestosa coroa a Oposição Moçambicana, vós que com a vossa presença abrilhantais este grandioso blog «videte vocationem veitram» (I Cor. 1:26), isto é, vede e considerai bem a vossa vocação: ajudar a Frelimo para melhor Governar. É diferente de «dizer a Frelimo como governar». Embora ela se encontre já melhor representada na AR, contudo, da melhor vontade vos faz ouvir directamente a sua voz, para convosco interagir, repetindo a saudação tão tradicionalmente moçambicana «do Rovuma ao Maputo, do Zumbo ao Índico, na luta contra a pobreza» porque só juntos somos efectivos.
 
Nosso coração rejubila, nosso espírito extasia-se contemplando o magnífico espectáculo, que aos céus e à terra moçambicanos oferece a vossa dedicação em prol do bem-estar geral. Espectáculo tanto mais consolador quanto é a expressão fiel da fé em Dhlakama, Raúl Domingos, Simango ou Sibindy por parte daqueles que lhes seguem os ideais. A Frelimo segue ideais que a faz ver todo o frelimizado Moçambique de olhos à volta dela, erguido no esplêndido cenário de um partido cada vez mais servil e presente nos anseios populares, para vitoriar e tributar suas homenagens aos libertadores da pátria, em estos de fervor e devoção, em solenes actos de reparação e desagravo, em protestos convictos de fidelidade, de indefectível correspondência ao seu eterno engajamento na construção de Moçambique. Ela não pode sentir pena das derrotas da oposição, suas vitórias foram reconhecidas internacionalmente. Como quem está a governar, não irá aceitar que o seu programa sufragrado pelo povo seja distorcido por causa dos que não vêem a hora de também governar.
 
Não entrou a Frelimo na História sob signo da cruz de Cristo para ser santa. Tem seus defeitos. Aprende com os erros e dentro do próprio processo. Não começou a Frelimo com o estágio num pedaço de terra para governar Moçambique. Ela tomou conta de todo o país, cercado de inimigos confessos e poderosos. Naquela gloriosa jornada do 25 de Setembro, quando à sombra das primeiras espingardas formada com punhos moçambicanos e arvoradas em terra moçambicana se cantava o hino da liberdade houve, tal como hoje, quem ousasse chamar de Hipócritas e mentirosos aqueles homens. Nós bendizemos ao Senhor por vermos reflorir esta atitude de menosprezar os outros para ganhar protagonismo, aliás, aquilo contra o qual dizem estar a combater. Infelizmente, a oposição ao encontrar justificativa de seus fracassos na adversária Frelimo contribui para que a sua aurora não chegue a ser dia. Bendizemos ao mesmo tempo quantos com o seu discernimento têm contribuído para o prometedor florescimento de uma oposição construtiva na pessoa do Sibindy para quem vossos ataques também estão direccionados. Os que compreenderam que mesmo com a Frelimo no poder é possível contribuir positivamente.
 
A todos os que têm sabido fazer uma oposição construtiva que, embora obra silenciosa, mas constante e cada vez mais vasta e fecunda, estendemos-lhes as mãos e o coração bem-intencionado. Que esta florida primavera colaboracionista não desvaneça com os ecos dos ataques, mas alastre e se traduza em frutos de bênção por todos os partidos. Assim como em Moçambique cabem todos, na Frelimo também há espaço de escutar  e considerar as ideias de todos. Vinde e vede, na casa do Pai há muitas moradas. Acreditamos que juntos podemos tornar o país numa grande nação e na colaboração está cifrada a maior glória, a maior grandeza, a verdadeira felicidade... Mas essa grandeza impõe deveres, acarreta responsabilidades: de sermos tolerantes no pleno sentido da palavra. Que o retiro de Dhlakama em Satungira e as renovadas reuniões dos outros partidos da oposição ajudem a desvendar o local onde depositamos as tabuas da salvação e devolvam ao país o verbo «colaborar». Como zebra perseguida pelo leão, a Frelimo sabe que os dentes do leão não são sinal de sorriso e porque não tem corpo de mártir, nunca brincará com aquilo que a pode destronar violentamente. Quanto mais o teu inimigo te critica,  é porque estás num bom caminho, diz-nos Xenofonte.
 
Pedro MAHRIC

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Nota do Mês

Durante o desagradável mês de Abril, Moçambique atravessou uma crise – que é incontestavelmente a mais severa, talvez a mais decisiva, que esta geração tem afrontado. Através dos últimos 20 anos, a Renamo, por uma sequência de factos, alguns imprevistos, começou a entrever, como sonho realizável, a refundação d’um grande exército de descontentes. E, com aquela viva clareza de propósito e segura tenacidade de execução, que constituem a sua força, encetou uma série de actos, que, terminando há tempos pelos massacres policiais de Muxungue, autorizam o seu líder e os seus Publicistas a considerar esse Partido como uma realidade esplêndida, de que gozarão os filhos dos homens sem justiça e sem escrúpulo que lhe lançaram as primeiras bases.
 
Esse movimento, segundo o traçaram nos seus largos contornos as publicações oposicionistas, estender-se-há de Norte a Sul e a vida dos moçambicanos, será a grande estrada d’agua até à Ponta Vermelha. De repente a Renamo ficou com razão em tudo. Perante esta ameaça virtual precisamos de desarmar a Renamo. Perguntais, qual é o nosso objectivo? Respondo-vos com uma única palavra – desarmamento. Desarmamento a todo o custo – desarmar a Renamo apesar de todos os terrores – desarmamento, por muito longo e difícil que seja o caminho, porque sem desarmamento da Renamo não há sobrevivência para a Frelimo e para os moçambicanos.
 
Discuti o exposto num espírito tão puro, claro e religioso. Os discursos da Renamo, que são muito violentos, conheceu-os o auditório. Que isto fique bem claro. Não haverá sobrevivência para Moçambique, para tudo aquilo que a nossa posição representou: sobrevivência da vontade, do impulso dos tempos, para que os moçambicanos avancem em direcção ao seu objectivo de prosperidade. Proteger o escudo dos moçambicanos - a Frelimo - deve ser o imperativo daqueles que desejam continuar a viver e prosperar em paz.