quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Orquestra dos tiros

Referimo-nos jocosamente à uma orquestra de jazz que é a Renamo, orquestra essa que executa sob a regência do Senhor Dhlakama, o dissonante rock do anti-frelimismo. A coisa não teria importância de maior se apenas os frelimistas ouvissem a orquestra, porque estes tapariam os ouvidos até que os músicos acabassem a sua ária. O pior é que outros concidadãos, não distinguindo a boa da ruim música, vão ouvindo e impressionam-se, julgando que aquela é a verdadeira arte de emitir sons harmoniosamente. Mas a intenção da orquestra é exclusivamente a de atingir o povo cujos interesses diz defender.

A orquestra recebeu subitamente o influxo da entrada de outras entidades, notadamente a outra oposição, a oposição das contrapartidas. Por outro lado, e no fim de contas, os membros desta outra oposição, unidos e reunidos em torno de certos protagonistas, já servem de porta-vozes de uma Renamo em apulo. Os dois partidos chefes da oposição, a Renamo e esta outra oposição, que têm vindo a afirmar a sua fidelidade e o seu respeito ao anti-frelimismo, os primeiros sinceramente, os segundos com a sua hipocrisia habitual da sua política de autovitimização, estão muito confusos sem saber se, nas actuais circunstâncias devem rir ou chorar visto que a orquestra tem lugar no seu próprio bastião. Ai, a população anda de arbusto em arbusto em busca de segurança. A orquestra desta dupla pode continuar a exibir-se.

A ária estridente do ódio à Frelimo já ninguém engana. Essa outra oposição, que sempre tem utilizado um certo Jornal especialmente como plataforma da sua propaganda, até há bem pouco tempo considerou que existe uma grande oportunidade por explorar. Mas hoje o cenário sombrio se desenha no horizonte. O 20 de Novembro pode vir trazer surpresas inesperadas. Recentemente, alguns líderes atravessaram o rio Zambeze cercados dos seus sequazes mais em evidência no avião do que no terreno. E lá ao Norte, as populações ficaram-lhes indiferentes. Todos ali se concentraram, numa reunião que se procurou fazer excepcionalmente aparatosa, mas a orquestra não teve audiência. Porque ninguém deseja uma orquestra de tiros.

Pedro MAHRIC

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Há segredos que devem estar na posse do Governo!

Nas relações entre os partidos políticos, o povo e o Governo, é legítimo que este último tenha seus segredos, longe dos tímpanos dos deputados, mas de utilidade valiosa a favor do povo. Democracia não significa que qualquer deputado saiba de tudo o que acontece. Quando o assunto dos barcos saiu a ribalta, os defensores da transparência apareceram com argumentos do tipo «o Parlamento devia saber». Não sou contra, mas penso que há limites. Há dias saiu uma notícia que coloca o nosso país entre os dez países que irão, nos próximos anos, registar o rápido desenvolvimento e, provavelmente, também o crescimento económico. Entre os dez, o nosso país figura no primeiríssimo lugar. O mais curioso é que esta notícia desagradou a muitos mercenários do que não abona ao país, a ponto de ridiculariza-la. Não fosse elaborada por uma instituição de credibilidade internacional inquestionável, estaríamos a ouvir que foi obra do G 40.  Acontece-me receber perguntas de alguns estudantes para tecer a minha consideração acerca do significado e sentido de tudo isto. Regularmente, digo-lhes o que se segue: «rapazes e raparigas, Moçambique encontra-se actualmente no pináculo da ambição mundial. É um momento solene para todos nós porque esta previsível subida do país acarreta uma enorme responsabilidade face ao futuro. Ao olhardes à vossa volta é provável que, além da satisfação de ser moçambicano, sintais também a ansiedade por receio de não estardes à altura da situação.

Mas este momento constitui uma brilhante oportunidade para o nosso envolvimento colectivo quanto ao que desejaríamos ser daqui em diante. Rejeitá-la, ignorá-la ou desperdiçá-la fará cair sobre nós graves acusações no futuro. É necessário que a constância de espírito, a persistência de intenções e uma grande simplicidade nas decisões ditem e orientem a conduta dos decisores na paz. Os nossos políticos têm de provar, e eu acredito que sim – que estão preparados para tão grande repto. Quando os moçambicanos tratam de situação particularmente muito grave, costuma escrever no cabeçalho das suas directivas as palavras «o futuro melhor». Ter alguma palavra ou expressão de esperança é uma prática sensata que conduz à clareza do pensamento. Em que, então, o rápido desenvolvimento e, provavelmente crescimento económico deverá ajudar a cada um dos moçambicanos? É, nem mais nem menos, a segurança alimentar, a assistência social, a liberdade e o progresso para todos os lares e famílias, para todos os homens e mulheres de todo o país. E aqui, refiro-me, em particular, à miríade de casa e pequenas cabanas nas quais os chefes de família lutam, no meio de todos os acidentes e dificuldades da vida, para proteger a mulher e os filhos das privações e educar a família no temor do Senhor ou segundo conceitos éticos que frequentemente desempenham um papel fundamental em suas vidas.

As descobertas de recursos naturais e de outro tipo de oportunidades não nos podem mover ao ódio contra os que estão à frente dos dossiers. As suas decisões visam, tenho a certeza, garantir a segurança destes inumeráveis lares que se encontram entre dois salteadores esfaimados: a fome e a pobreza. Todos nós conhecemos a aterradora perturbação em que mergulha uma família comum quando o flagelo da pobreza se abate sobre quem ganha o pão e os que lhe dão emprego. O terrível espectáculo da ruína familiar, com todas as suas glórias perdidas, ofusca-nos o olhar. Ao estar aqui, nesta noite tranquila, arrepio-me de pensar no que está a acontecer neste momento a centenas de pessoas da minha aldeia, e no que vai acontecer quando a fome se abater sobre ela. Não podemos olhar nos decisores das políticas públicas um empecilho a estabilidade económica como prova esta posição do país entre os dez. Eles têm sobre os ombros o dever supremo de proteger os lares do cidadão comum dos horrores e das misérias passadas, presentes e futuras. Quanto a isto, estamos todos de acordo. O nosso Governo conseguiu elevar o país ao patamar actual. É momento de impedir o ímpeto agressivo que elimine a motivação que moveu este Governo.

Assim, evitaremos que o homem comum veja-se confrontado com dificuldades às quais não consiga dar resposta ante tudo o que se apresente distorcido, quebrado ou mesmo espezinhado. Temos de garantir que o trabalho do Governo, este e futuros é frutífero, que as decisões que se tomam em favor do povo são uma realidade e não um simulacro; que se trata de um Governo para a acção e não para simples conversa fiada; que é um verdadeiro templo de progresso, cujas paredes serão um dia decoradas com os brasões de muitos partidos e organizações afins e não apenas o cimo da torre de Babel. Mas esta subida requere que nos certifiquemos de que o nosso  novo dia é construído sobre a pedra  firme e não sobre areias movediças ou num pântano. Qualquer moçambicano, se tiver olhos bem abertos, verá que o nosso caminho será difícil e longo, mas se nos mantivermos juntos, não duvido de que acabaremos por atingir o nosso objectivo comum. Gostava que isto tivesse sido feito ainda nesta geração e, estou sinceramente convencido de que mesmo sem esta geração será possível fazê-lo.

No entanto, rapazes e raparigas, o Governo estaria a cometer um erro e a ser imprudente se confiasse à esta oposição que tudo chumba, estando ela ainda na sua infância, os conhecimentos e experiências secretos relativos aos descobrimentos dos recursos e assinatura de contratos. Seria uma loucura criminosa larga-los à deriva num mundo tão agitado e com uma oposição desunida. Ninguém, em nenhum distrito, deixou de dormir descansado por estes conhecimentos e segredos de negócios necessários estarem actualmente, em grande parte, nas mãos do Governo. Este Governo é legítimo! Não acredito que tivéssemos podido dormir tao profundamente se as posições se invertessem e um partido qualquer tivesse temporariamente monopolizado estes terríveis agentes. O medo que inspira poderia, só por si, ter sido facilmente usado para impor decisões totalitárias ao país livre, com consequências terríveis de imaginar. Deus não quis que assim fosse, e temos pelo menos algum tempo para respirar e pôr a casa em ordem antes de nos confrontarmos com esse perigo. E nessa altura, se nos pouparmos a esforços, teremos uma superioridade tão grande que imporemos uma dissuasão eficaz na África Austral».