terça-feira, 19 de março de 2013

Uma oposição cada vez mais distante da realidade nacional

As botijas do veneno de descontentamento andam cheias e prontas a explodir. Devemos expulgá-las, antes que explodam. Se atentarmos para a realidade moçambicana de nossos dias iremos constatar a existência de inúmeras contradições, que estão a exigir a nossa análise e compreensão. É indiscutívelque o país progrediu. Deixamos de ser um país essencialmente agrícola. Novas oportunidades de emprego se abriram e novas actividades profissionais apareceram. Rádios, televisões, celulares e outros objectos, que há uma década atrás eram blindes de aliciamento sexual e político, passaram a ser acessíveis às grandes franjas da população e até o automóvel já se vai tornando reivindicação possível para algumas moças. Construímos a mais moderna ponte da África Austral, abrimos novas estradas, cortamos o país com alcatrão de Norte a Sul e de Leste a Oeste.
As populações rurais recuperaram a sua característica criando animais que o triste passado lhes tinha arrancado e recuperando suas actidades tradicionais. As chapas tendem a substituir o capim das habitações, a charrua substitui a enxada de cabo curto, à almofariz e ao pilão substitui-se pela moagem e a carroça toma o lugar da cabeça no transporte. Superamos os grandes em índice de crescimento, ao atingirmos a média anual de 7%. Ganhamos maior projecção e respeito no exterior ao abandonarmos a velha posição incaracterística de nossa política externa e ao passarmos a participar, com personalidade própria, no cenário continental. O povo moçambicano, enfim, ganhou mais confiança em si próprio e passou a actuar decisivamente na vida política da nação.
Mas, enquanto isso, determinadas facetas de vida nacional não foram modificadas. Aprofundam-se as antigas contradições e novos problemas vieram à tona, desafiando a capacidade nacional e tornando cada vez mais difícil a vida do povo. O rápido desenvolvimento, por si só, não pode resolver vários problemas básicos da nação, muitos dos quais, ao contrário, viram-se agravados. O país defronta-se, assim, com uma grave situação de crise dos transportes, da comida, da saúde, da escolaridade, da qual só poderá sair através da reformulação de vários aspectos da sua estrutura. Não há no seio do povo quem honestamente não deseje e necessite de uma urgente modificação nesse quadro doloroso dentro do qual se desenrola a angustiante vida nacional de nossos dias. Isso só seria possível se todo o povo se unisse, o que não é o caso, num projecto comum e inclusivo. Mas, infelizmente, dentro da nação, nem tudo é povo. O povo é, sem dúvida, a maioria, o elemento dinâmico e sempre novo que tem interesse no progresso, porque precisa libertar-se das dificuldades actuais sob lideranças com projectos nacionais.
Há uma minoria beneficiária da situação de momento, que se projecta cada vez mais à custa da pauperização da massa popular e que não está absolutamente interessada em qualquer alteração da situação vigente baseando-se na realidade nacional. Essa minoria, que é constituída pelos nacionais para quem só a ocidentalização do país permitirá o seu progresso, ainda guarda características semi-feudais, vivendo o saudosismo do chicote e da palmatória, razão pela qual alimenta-se do veneno de grupos estrangeiros interessados no nosso estágio de atraso de quem é, por assim dizer, seu teta de ferro. Essa minoria conta com advogados nativos que mobilizam todos os recursos publicitários no sentido de arregimentar forças e dividir o povo, procurando anestesiar suas camadas menos esclarecidas com falsos argumentos políticos e religiosos, de modo a afasta-las da luta pelos seus interesses, lutas essas que, como eles sabem, terminarão por modificar o actual estado de coisas.
Sentem esses chamados políticos da oposição que já não controlam inteiramente nada e que, consequentemente, o próprio poder político que já tinham conseguido começa a fugir-lhes das mãos, conquistado aos poucos pelos métodos mais afinados com os interesses nacionais. Por isso desesperam e chegam a apelar para as sanções não declaradas ao seu próprio país, na esperança de impedir o despertar da consciência popular e a marcha do povo unido para o combate à pobreza, ao espalhar o veneno de descontentamento generalizado. Como admitir-se a futura e previsível vida seca e desumana de milhões de moçambicanos que são enganados todos os dias por aqueles que se dizem vocacionados para governar, distribuem caridade nas províncias e cidades deste belo Moçambique quando deixam o povo da Munhava, Chingussura, Inhamizua, tão carente?
Não é por acaso visível e revoltante o contraste da terrível e sempre crescente carestia de vida que anula as melhorias salariais conquistadas pelos trabalhadores e torna dramática a luta das donas de casa pelo equilíbrio do orçamento doméstico e o consequente e rápido aproveitamento político de uma minoria insensível, egoista e umbiguista, desprovida de ideias inclusivas que promete um paraíso na terra esquecendo-se que «a união faz a força»? O que é que a oposição tem feito como contributo para alterar o actual estágio das coisas senão desmotivar o povo para não trabalhar de modo a que o número de consumidores seja cada vez maior que o dos produtores? Precisamos de modificações estruturais, mas também precisamos de união de todos para fazer face a um inimigo comum: a pobreza.