Kosovo 98: Richard Holbrooke e Slobodan Milosevic
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Em outubro de 1998, o representante especial de Bill Clinton para os Bálcãs, Richard Holbrooke, viajou para Belgrado quase todos os dias. Ele foi apelidado de “pai” do Acordo de Paz de Dayton, que pôs fim em 1995 à guerra na Bósnia e Herzegovina. Holbrooke conhecia bem Milosevic e sabia que só se devia atuar a partir de uma posição de força. Ele dizia abertamente que, se Milosevic não aceitar as condições de Washington, a OTAN iria começar a bombardear o país. Clinton tinha de apoiar Thaci e a sua equipe a qualquer preço antes do início do inverno.
Por essa altura, o Exército Iugoslavo tinha recuperado o controle de uma parte considerável do Kosovo e os EUA recorreram à chantagem direta: não haverá paz com os kosovares, comecem a se preparem para o pior. Slobodan Milosevic foi obrigado a ceder. Eu estive em Belgrado nessa altura e convivi muito com os meus colegas jornalistas. Todos eles diziam que Milosevic compreendia perfeitamente que, mais dia, menos dia, iria ter início uma guerra contra a Sérvia. A OTAN já se estava preparando para isso havia mais de seis meses, mas a opinião pública norte-americana e europeia ainda não estava preparada e isso requeria tempo e dinheiro.
Logo depois de Milosevic ter aceitado, em 13 de outubro de 1998, as condições de Holbrooke e Clinton, teve início uma nova campanha de propaganda contra a Iugoslávia. Os primeiros a levantar a voz foram Ibrahim Rugova e Hashim Thaci. Eles diziam que não estavam satisfeitos com os acordos alcançados em Belgrado para uma solução pacífica do problema do Kosovo e que nunca iriam acreditar na boa vontade da Iugoslávia, apelando de novo aos norte-americanos para que estes atacassem as forças sérvias.
No dia 15 de outubro de 1998, as mesmas posições belicistas foram defendidas em Genebra, num apelo à comunidade internacional, pelo “representante político do ELK” na Suíça Bardhyl Mahmuti. Numa coletiva de imprensa no Palácio das Nações, em Genebra, ele classificou de “absurda” a decisão da deslocação para o Kosovo de 2000 observadores da OSCE, tendo atribuído às autoridades iugoslavas a intenção de usá-los como escudos humanos para o caso de se realizarem ataques aéreos da OTAN. Mahmuti exigiu a participação do ELK no processo negocial sobre o Kosovo, tendo posto em causa os acordos alcançados entre o emissário Holbrooke e o presidente iugoslavo Slobodan Milosevic. “Ninguém tem o direito de firmar acordos sobre o estatuto do Kosovo sem a participação do ELK, e este não vê qualquer outra decisão a tomar que não seja a independência”, concluiu o representante de Thaci.
Mahmuti declarou igualmente na altura que, relativamente ao armamento, o ELK “não tem qualquer problema, há muito disso nos Bálcãs”, tendo acrescentado: “Nós estamos dispostos a continuar a luta armada até à independência”. O representante do ELK discursou no mesmo dia em Genebra com declarações contraditórias relativamente aos direitos civis dos sérvios no futuro “estado independente”. Primeiro, ele assegurou que “no nosso estado independente” a população sérvia e as restantes minorias teriam os mesmos direitos que os albaneses e que “não haverá represálias” contra a minoria sérvia. No entanto, passados alguns minutos, ele já insistia que os sérvios e os albaneses, tendo histórias e culturas diferentes, não podiam viver juntos.