Já estou em 2030 continuando a conversar com os meus netos. A figura central das nossas falas estão em volta de uma figura: Guebuza.
O combate tinha de ser muito rude, porque, do outro lado da barricada, estavam prontos para se defenderem até a última extremidade todos os que tinham interesses ligados à odiosa Frelimo e perfilhavam a crença geral e enraizada de que só uma guerra marcaria o fim do regime. Para se avaliarem as resistências erguidas contra o esforço de Guebuza de estabelecer um verdadeiro Estado de Direito basta lembrar que dezenas de organizações que se diziam ser da Sociedade Civil levantaram as suas vozes criticando-o e atenuando afrontar directamente a Renamo, o que fez com que o porta-voz da presidência, Edson Macuacua, se pronunciasse amargamente nestes termos: «É de facto estranho que quando as Forças de Defesa e Segurança, que têm legitimidade e legalidade para actuarem em defesa da segurança do Estado, actuam, dirigentes das organizações da sociedade civil aparecem frenéticos com discursos inflamatórios de condenação. É caso mesmo para perguntar, a quem servem estes dirigentes das organizações da sociedade civil? Qual é a agenda destas organizações? Parece que perseguem objectivos e agendas inconfessáveis, contrários aos interesses nacionais”. Sim, isso netinhos foi escrito no CanalMoz, de 28/10/2013
O combate tinha de ser muito rude, porque, do outro lado da barricada, estavam prontos para se defenderem até a última extremidade todos os que tinham interesses ligados à odiosa Frelimo e perfilhavam a crença geral e enraizada de que só uma guerra marcaria o fim do regime. Para se avaliarem as resistências erguidas contra o esforço de Guebuza de estabelecer um verdadeiro Estado de Direito basta lembrar que dezenas de organizações que se diziam ser da Sociedade Civil levantaram as suas vozes criticando-o e atenuando afrontar directamente a Renamo, o que fez com que o porta-voz da presidência, Edson Macuacua, se pronunciasse amargamente nestes termos: «É de facto estranho que quando as Forças de Defesa e Segurança, que têm legitimidade e legalidade para actuarem em defesa da segurança do Estado, actuam, dirigentes das organizações da sociedade civil aparecem frenéticos com discursos inflamatórios de condenação. É caso mesmo para perguntar, a quem servem estes dirigentes das organizações da sociedade civil? Qual é a agenda destas organizações? Parece que perseguem objectivos e agendas inconfessáveis, contrários aos interesses nacionais”. Sim, isso netinhos foi escrito no CanalMoz, de 28/10/2013
E o exército continuou a dar o golpe de morte das bases da
Renamo espalhadas pela savana atirando para o exílio os homens que nelas faziam
a sua vida obscura, organizando os mais cruéis métodos de morte. A Renamo
avançara para o Sul, na província de Inhambane, na esperança de fazer
estremecer os alicerces do regime; mas nenhum obstáculo seria capaz de
atemorizar o espírito de Guebuza ainda no momento em que os tratadistas mais
eminentes e partidários do regime consideravam Dhlakama insusceptível de
trabalhar para a paz a não ser pela coacção e pela força. E passando das palavras
aos factos, em 24 de Abril do mesmo ano, apresentava argumentos cuja aplicação
resultaria na criação de um grupo de negociações. Quando era geral a convicção
de que o Presidente da República é que era arrogante, Guebuza, na sua prontidão
admirável, proclamava já o mais nobre princípio, aquele a cuja aplicação se
deveram os mais belos resultados da convivência política moderna, o diálogo,
sintetizando-o nestas palavras: "Apesar da situação de Sadjundjira,
estou pronto para receber o senhor Afonso Dhlakama para dialogar. As nossas
delegações política e militar continuam prontas para acertos do nosso
encontro".
Não é que disse isto na Soalpo, ali em Chimoio, numa
presidência aberta! Fê-lo sem perder de vista que aos homens da Renamo era
preciso dar-lhes completa segurança de pessoa e propriedade para se desenvolver
entre eles a instrução, criando-lhes escolas numerosas e hospitais,
abrindo-lhes vias de comunicação que facilitassem as transacções comerciais e
pelas quais a força armada pudesse marchar sem embaraço para manter a ordem
pública ou para repelir agressões estranhas. Havia convicção inabalável de que
por estes e por outros meios que se empregariam, se faria aumentar as
necessidades dos renamistas, as quais estimulariam os mesmos a buscar pelo seu trabalho
meios de as satisfazer. Quem pensava deste modo não poderia deixar de honrar as
suas opiniões, trabalhando quanto em suas forças coube para conseguir a
completa emancipação do adversário. Mas a Renamo continuava defendendo a sua
ideia de Paridade nos órgãos eleitorais, e não só. É aqui que surgiu aquilo que
no provérbio local dizemos dar a mão e pegar o braço.
A atmosfera nacional não estava ainda bem preparada. Os
interessados, no estado de coisas estabelecidas, possuíam poderosos meios de
influência e não queriam declarar-se vencidos, por isso, tudo fizeram para
criar impasses. Guebuza não era homem para desanimar e ainda menos para
desistir e logo, na semana seguinte renovava o apelo de negociar com o Senhor
Dhlakama. Apesar disso, as suas ideias de uma revolução sem sangue continuavam
a encontrar uma viva oposição. Viu-se forçado a criar ambiente propício para o
diálogo, não num hotel de luxo mas no Centro de Conferências, para que ele
pudesse triunfar. E a Renamo, atacou um camião em Nampula, aquela via que vai a
Cuamba. Mas não foi a única vez. Os oportunistas também fizeram ataque a um
empresário local, problema de dívidas com funcionários, segundo se comentava.
Mas ai, os atacantes eram parte de guarda pessoal do Sr. Dhlakama que foram sendo
capturados um a um e não se sabe se cumpriram cadeia ou não. Não sei o que lhes
aconteceu lá no comando provincial, porque na Cadeia, perto de onde o vosso avô
trabalhava, não havia mostras de terem entrado.
Os renamistas de outras
latitudes, pelo seu lado, não se resignavam a perder os seus interesses, nem
queriam sujeitar-se à derrota, apesar de a sentirem próxima. Acoitaram-se em
Inhaminga, em Kaphiridzange – lá na zona do vosso bisavo –, em Nkondedzi, entre
outros locais, onde o domínio das forças armadas não estava ainda solidamente
firmado e abriram ali, com o máximo impudor, sucursais escandalosos de treinos
militares onde a miúdo eram vendidas, em ignóbil leilão, as almas dos jovens
recrutados à força na cidade da Beira, recrutas prontamente atribuídos às
forças armadas convencionais. E havia entre eles alguns mercenários
interessados nas pedras preciosas. Um deles, lembro-me, chegou a pedir-me o
contacto do Administrador da Gorongosa, a julgar que eu caia facilmente. A esse
degradante espectáculo de recrutamento só meses depois é que se pôs um termo,
precisando o Governo para isso de organizar uma expedição e conseguindo então
que as forças armadas desactivassem algumas bases. Foi no ano seguinte, nos
dias 2 e 3 e o vosso avô estava no local. Não imagineis quanto me doi o
coração, de imaginar o sucedido naqueles dias. Chovia intensamente e eu desci
em Caia tendo seguido, primeiro, a direcção do régulo Tinga Tinga. Deixemos
isso para amanhã.
A verdade é que as campanhas de Gorongosa, de Inhaminga e de Moxungue,
contra os inimigos numerosos e escondidos, incitados, instruídos e municiados
pelos que queriam, acima de tudo, derruir o nosso domínio – eu nessa altura
soube estar do lado certo –, ficaram famosas entre as mais notáveis campanhas
de todos os tempos pela rapidez de execução, castigo exemplar dos rebeldes e
forma completa como atingiram o seu objectivo. Os ataques de surpresa
diminuíram drasticamente na EN1. As FADM foram duras no castigo, mas combateram
sempre com nobreza e lealdade que, submetidos os renamistas, jamais os
perseguiram com represálias cruéis. Terminados os combates, esqueciam-se do mal
que eles, obedientes joguetes de ambições alheias, os quiseram causar. O
compromisso das FADM aos renamistas, combatendo no fundo as suas tendências
para a ociosidade e o seu amor à inércia e à matança, que levava muitos deles a
viverem exclusivamente da mulher, não receava confrontos directos, caso fosse
preciso. E o que é oportuno frisar é que a guerra de autodefesa que as forças
armadas moviam contra o extermínio do povo era mal vista pelos adeptos da
Renamo que já se orgulhavam de ter um defensor mais forte, capaz de submeter a
temida Força de Intervenção Rápida.
Nessa ocasião, os apologistas silenciosos
da violência viram com manifesta má vontade o enérgico correctivo que as forças
infligiram aos criminosos de Moxungue, de Gorongosa, de Inhaminga, de Maringue,
trocando a esse respeito uma demorada e azeda correspondência facebookiana
entre si; desaprovando o que as FADM haviam feito e criando-lhes depois
dificuldades à ocupação dos espaços, que indiscutivelmente lhes pertenciam. E
mais tarde, as FADM não hesitavam em enxovalhar a Renamo da maneira mais
civilizada obrigando-lhe a restituir-lhes as bases. Isso não impediu que ela,
abusando da sua força, sujeitasse as populações à humilhação a que me referi e
que fez brotar dos lábios de Gabriel Muthisse, sub-chefe da delegação
governamental ao diálogo, as frases mais belas e de mais rubra indignação de
quantas constituíram a glória da sua missão: «a Renamo deve enterrar o machado
da guerra», disse ele.
O diálogo com esta organização classificada como
«terrorista» por Gustavo Mavie, num programa «Café da manha da Rádio
Moçambique, em meados de Abril de 2014, foi um trabalho portentoso de
inteligência, de continuidade e de confiança nos nossos destinos. Um trabalho
de ingente preparação e, ao mesmo tempo, de realizações imediatas, tanto que
fomos nós os primeiros que abrimos às portas ao diálogo nacional e sem
interferências externas nesta parte de África, não obstante a Renamo insistir
na internacionalização do conflito. Até que numa destas vezes atacou o comboio
de carvão, precisamente quando estava em ascensao, o que lhe causou danos
irreparáveis presságios do seu fim. Tenho que tomar umas notas, amanhã retomamos.
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