Local: Izmir, Turquia
Assunto: Cobranças ilícitas para vagas na Educação
Excelência! Deve ser a primeira vez que escrevo uma carta a um Ministro. Sou docente na maior Instituição Universitária de Moçambique, ou, se quiserem, Universidade Pedagógica de Moçambique, actualmente na Turquia, a fazer Doutoramento. Além da UP, fui professor no ensino primário, no secundário, na Saúde e na Academia Militar, pelo que escrevo esta carta consciente de que o problema que apresento mereça um olhar a vosso nível. Excelência, tinha dois educandos no Instituto de Formação de Professores de Tete, uma prima e um primo, de cujas dispersas pagava, com gosto, esperançoso de que, uma vez terminada a sua formação, juntos pudéssemos lutar para combater a pobreza. Concluíram com sucesso e com boas notas. O que me espantou, primeiro, foi a prima que pediu algum valor para poder «garantir o lugar», a nova linguagem que se usa para colocação. Não dei, confiante de que a meritocracia tinha inaugurado o seu reinado e que a continuidade escondia dentro de si a mudança.
Nas últimas semanas, enquanto esperava pela colocação dela, foi a vez do primo que pediu para eu «interceder». Excelência, pode imaginar o que é viver no antigo Império Bizantino e resolver problemas nos antigos apêndices do Império do Muenemutapa! Indiquei a pessoa a quem o primo devia falar, algures em Moatize, desde que falasse do meu nome, tal uso de influência em voga na nossa sociedade, um mal que deve ser combatido. Dias depois, o meu primo já era uma pessoa feliz com guia para ir a um distrito. Apesar de o referido distrito possuir défice de professores, os responsáveis pelos recursos humanos estão a exigir entre 6.000 a 15.000 Meticais por pessoa, só para ter colocação. E os que tinham sido fracos durante a formação, mas com dinheiro, já estão a trabalhar enquanto os melhores sem dinheiro, mas que poderiam ajudar na melhoria da qualidade do ensino, continuam a viver as incertezas. No caso do meu primo, eu devo interceder também ao nível distrital, mas…. Perante os factos, não imagino quantos moçambicanos podem estar a ser vítimas desta actuação, muitos deles contando com as próprias forças, sem alguém que possa interceder por eles.
Atenciosamente
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