sábado, 7 de fevereiro de 2015

Salvar Dhlakama para Salvar o País

Afonso Dhlakama,  político que em Janeiro jurou não ajoelhar-se, em menos de 72 horas correu para Maputo a convite do Presidente Filipe Nyusi, o primeiro a antecipar-se ao local do encontro. Ambos, ao que tudo indica, carregam bases sólidas para dar forma a uma nova realidade política e garantir a paz. Enquanto isso, os adeptos fervorosos da divisão, angustiados, amargurados e inconsoláveis, recebiam a decisão do líder da Renamo com surpresa e até estupefacção. Ninguém conceberia nunca que Dhlakama, que jurou governar em honra da alma da mãe, fosse deslocar-se a Maputo interrompendo o seu périplo propagandístico. E porque terá feito isso, decepcionando os teóricos da divisão? A resposta é simples. A Renamo estava em via de dividir-se devido aos rumores de que os deputados proibidos de tomar posse iam fazê-lo a conta e risco próprios. Daqui resulta que o beneficiário deste encontro é o próprio Dhlakama ao parecer-se como alguém que negociou a tomada de posse daqueles cuja decisão para o efeito já estava tomada. Nyusi salvou Dhlakama, do precipício, no seu primeiro gesto público de dimensão nacional. Em todo o caso, mais do que isso, devemos aproveitar a oportunidade para, como disse no passado distante, conseguirmos uma paz duradoura baseada na justiça. Com toda a sinceridade, Filipe Nyusi acolheu Dhlakama com total protecção e segurança sendo o encontro de Fevereiro, só por si, um tremendo ponto de viragem, uma mudança decisiva. É um gesto humilde, honroso porque como alguém disse, é preciso acarinhar Dhlakama. Uma vez salvo, estaremos preparados para salvar o país, de uma previsível instabilidade.

Nós, do outro lado da barricada, congraturamo-nos com este encontro que desilude aos apóstolos do caos porque dele esperamos ver continuada a determinação unida e inflexível dos dois em prosseguir o caminho da inclusão até à sua conclusão vitoriosa. Há os que insinuam que a consciência de Dhlakama foi comprada, algo em que acreditamos, em virtude das vantagens palpáveis  que Dhlakama colheu. Visitou a família, matou saudades da família, evitou a rotura previsível do partido e enfraqueceu ainda mais o seu adversário interno, o MDM. Conseguir vantagens desta escala e complexidade num único acto é, por si só, um grande empreendimento. No entanto, encontramo-nos na fase preliminar de uma das maiores batalhas políticas do nosso tempo – a batalha por um Moçambique inclusivo, justo e desenvolvido. Filipe Nyusi está a combater em muitos outros pontos, para conciliar as forças progressistas e conservadoras da Frelimo e tem que estar preparado para contrariar aqueles que tudo farão para desacreditá-lo ou mesmo para fracassar nos seus nobres ideais. Peço licença para citar as palavras dele segundo as quais «boas ideias não têm partido». Tendo em conta a gravidade do momento, penso que os conservadores o perdoarão pela falta de cerimónia com que foi necessário agir.

Deixai-me dizer uma palavra ao líder da Renamo. Uns dizem que «no passado também foi assim e continuamos tendo pessoas perseguidas pela sua simpatia para com a Renamo». Outros dizem ainda que «para ser alguém, para conseguires emprego ou promoção/progressão tens que ser do Partido no Poder. Se não te descobrem no momento do recrutamento, ao longo do trabalho tens que te revelar frelimista através das reuniões nas células». Sim, tínhamos as nossas razões e os nossos receios. Mas o tempo chegou em que a competência será determinante para o sucesso dos funcionários públicos. Sim, recusamos encontrar-nos convosco, onde quer que fosse. Estivemos juntos em festas, em reuniões e em encontros nacionais e internacionais e os nossos membros não trocaram, como ainda outros não trocam, cumprimentos com os vossos. Sim, isto aconteceu e continua a acontecer. É também verdade que sempre impusemos, como pré-condição para quaisquer negociações convosco, a presença de um mediador que se avistasse separadamente com cada uma das partes. Sim. Foi através deste procedimento que tiveram lugar o primeiro e o segundo acordos de interrupção das hostilidades. Os representantes do Governo reuniram-se em Gaberone e em Nairobi sem terem trocado directamente uma palavra. Sim, isto aconteceu. 


Mas hoje, o Presidente Nyusi deu-vos sinal de que quer contar convosco na construção de um Estado fundado numa paz permanente baseada na honestidade das intenções. Ele enfrentou a realidade com coragem consciente de que nunca se encontrará a solução para um problema fugindo-lhe ou ignorando-o. Enfrentou-a consciente de que a paz que está no seu manifesto não pode durar se se tentarem impor conceitos fantasiosos aos quais grande parte dos moçambicanos viraram as costas, anunciando o seu apelo unânime ao respeito pela Unidade Nacional. Aqui tivemos um bom começo, como testemunharam os vossos sorrisos. Quanto a nós, acreditamos não ser necessário entrarmos num círculo vicioso em relação aos direitos dos renamistas se revoltarem contra todas as formas de exclusão baseada na filiação política, uma realidade presente no nosso país que, tal como foi com o colonialismo, ou como acontece com as várias epidemias e catástrofes, deve ser erradicada. Não queremos moçambicanos estratificados porque discriminados no acesso aos recursos que a todos pertencem, o que incentiva o ódio dos que não têm contra os que têm. É inútil criar obstáculos, de contrário, impedir-se-á o caminho para a paz ou a paz será destruída. Como vos disse, num passado imemorial, não se pode basear a felicidade na desgraça dos outros. Com o encontro de hoje, não se deve recear dialogar com Nyusi que necessita do vosso auxílio para desenvolver o país.


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