Por
O regime colonial tinha identificado alguns homens tidos
como «entusiastas da guerra»: Uria T. Simango, Marcelino dos Santos, Leo Milas
e Filipe Magaia. Foram estes que se esforçaram a incutir nos restantes
nacionalistas a ideia de uma luta armada. Há informações de que antes da
primeira leva, pequenos grupos iam para diversos países onde faziam treinos
militares, sem causar alarme para o regime colonial, embora soubesse destas
movimentações. «Todavia, quando a seguir a partida para o Cairo de um dos últimos
pequenos grupos (Dezembro de 1962), se anunciou a futura ida de contingentes em
massa, convenceram-se muitos de que afinal se não tratava já de brincadeiras,
para alimentar o fogo sagrado da propaganda e da política, mas sim de coisa a
sério». A Constituição do Primeiro Grupo da Frelimo que recebeu Treino Militar na Argélia (Janeiro - Julho de 1963) era composta por 50 indivíduos dos quais 37 (74%) instruendos de Cabo Delgado; 7 (14%) de Gaza, 3 (6%) de Sofala e igual número de Maputo. Entre eles estavam agentes que serviam de «olho do Governo do Tanganhica» que, por sua vez e de forma indirecta, «era olho da PIDE». A prova, é a lista em anexo cujo remetente afirmou que «Depois de regressar continuei a receber o que estava a ser pago pelo Governo do Tanganyika, antes da minha ida a Argélia. Aqueles que, como eu, tinham família, o pagamento nunca foi suspenso durante a ausência para treinos».
Eusébio A. P. Gwembe
O grupo para treino militar foi preparado por João Munguambe, ajudado por Leo Millas, Lourenço Mutaca, Filipe Samuel Magaia e Silvério Nungu. Para o efeito, João Munguambe chamava cada um ou em grupo dos que tinham sido previamente seleccionados para comunicá-los. Os que não concordaram, debandaram para casa de familiares ou de amigos; outros regressaram à terra. O primeiro grupo saiu de Dar-es-Salaam no dia 13 de Janeiro com destino a Nairobi, via terrestre, com paragens em Morogoro e Moshi para refeições. Em Nairobi foram conduzidos ao aeroporto e num jacto da United Arab Airlines seguiram para Argel com escala em Cairo e Tripoli. Chegaram no dia 16 a Argel. Leo Millas e Filipe Magaia que auxiliará na instrução do grupo de que era chefe os acompanhavam. Foram alojados em duas camaratas num quartel e receberam sapatilhas, camisolas, um par de cuecas, um par de meias, dois fardamentos e uma camisa. De autocarro seguiram para o quartel da cidade de Oran onde receberam dois sabonetes, cobertores, cinturão, cinto, cartucheiras, mochila, cesto, pano de tenda individual. Depois, seguiram para o Quartel de Mornia, na fronteira com Marrocos. O treino foi intensivo, com exercícios práticos e aulas teóricas, técnicas e de aprendizagem de Francês. Na primeira semana praticaram os exercícios físicos; judo, corrida, saltos, transposição de barreiras e obstáculos, football que prosseguiram a intervalos durante toda a formação. A segunda semana incluiu exercícios de natação para todos; nomenclatura, mecânica e manejo de espingardas; para a terceira semana entraram com os exercícios de tiro, a alvos distanciados de 50 a 300 metros, em progressão de 50 em 50 metros, e prostrados na linha de tiro, em grupos de seis atiradores ao mesmo tempo. E foram sendo introduzidas novas aprendizagens, acompanhadas de revisões. Havia uma grande variedade de engenhos e armas, ligeiras e pesadas, não automáticas, automáticas e semi-automáticas. O programa do treino era de dois períodos diários; das 8 às 12 e das 14 às 17, excepto aos domingos que era dia livre.
Na preparação para a sabotagem era recomendada a poupança, sempre que possível, das infra-estruturas, porque se tratava de bens materiais necessários na paz, quando ganha a guerra e obtida a independência. Por isso, o objectivo primeiro era a caça ao homem, a destruição sistemática dos seus veículos de transporte. Os conhecimentos dos instruendos em francês não estavam a altura do treino. Era Filipe Magaia que traduzia em Português aos chefes de grupos; estes transmitiam-na, de seguida, em Português aos chefes de peça e de equipa que, por sua vez, ou em Português ou em língua nativa (suahili ou maconde), a transmitiam aos instruendos. Foram seis meses de treino sob orientação de capitão, sargento e ajudantes argelinos. Dos 50 instruendos, foi retido um grupo dos primeiros quinze da lista abaixo, a fim de se especializar em transmissões e muito especialmente em rádio-comunicações. Numa entrevista conduzida por OLÍVIA MASSANGO, Feliciano Gundana, o 4º na lista, explicou outras razões nestes termos: Eu havia estado na Argélia, nos treinos militares, fui no primeiro grupo. Os treinos começaram em Janeiro e terminaram em Maio. Eu acabei por ficar lá, com o camarada Milagre Mabote, para recebermos os outros grupos. Ficámos lá mais um ano e só regressámos em 1964. fiquei na Argélia e participei no treinamento dos outros dois grupos que estiveram lá, como um dos intérpretes de francês para português, porque o treino era dado em francês. Eu viajei com Filipe Samuel Magaia da Beira até Dar-es-salaam. Estive com ele na Argélia, era o chefe do primeiro grupo, e, mais tarde, quando voltei a Dar-es-salaam, trabalhei com ele no Departamento da Segurança e Defesa» Jornal O País, 24 ABRIL 2012.
Os 35 seguiram para o aeroporto, aonde tomaram o avião «Comet» da East African Airways, fretado pela Frelimo e que fez percurso Argel-Nairobi na noite de 14 para 15 de Julho de 1963. Este mesmo avião no percurso de regresso conduziu o segundo grupo da Frelimo que foi treinar na Argélia, composto de 70 indivíduos (na realidade 68) que não teve contacto com os do primeiro grupo.
Os 35 seguiram para o aeroporto, aonde tomaram o avião «Comet» da East African Airways, fretado pela Frelimo e que fez percurso Argel-Nairobi na noite de 14 para 15 de Julho de 1963. Este mesmo avião no percurso de regresso conduziu o segundo grupo da Frelimo que foi treinar na Argélia, composto de 70 indivíduos (na realidade 68) que não teve contacto com os do primeiro grupo.
Eis a lista completa do grupo:
Constituição
do Primeiro Grupo da Frelimo que recebeu Treino na Argélia (Janeiro - Julho
de 1963)
|
||
Nome
|
Proveniência
|
|
1
|
Albino Estevão Anapyaila
|
Cabo Delgado
|
2
|
Albino Tomas Macavaca
|
Cabo Delgado
|
3
|
Bartolomeu Carlos Mbalica
|
Cabo Delgado
|
4
|
Feliciano Gundana
|
Sofala
|
5
|
Jacinto Sithole
|
Sofala
|
6
|
Jonas Rodrigues Chale
|
Gaza
|
7
|
João Eugênio Mchocho Ncuemba
|
Cabo Delgado
|
8
|
Ludovico Gaspar Tukawula
|
Cabo Delgado
|
9
|
Luis Anastácio Nobre Chilambo
|
Cabo Delgado
|
10
|
Lourenço Matola
|
Maputo
|
11
|
Mário Fernando Navilani
|
Cabo Delgado
|
12
|
Miguel Niquenti Sakoma
|
Cabo Delgado
|
13
|
Milagre Mabote
|
Gaza
|
14
|
Pedro Joaquim Sibindi
|
Sofala
|
15
|
Rafael José Pedro Mwakala
|
Cabo Delgado
|
16
|
Ali Juma
|
Cabo Delgado
|
17
|
Andre Mputa Walikalala Kulomba
|
Cabo Delgado
|
18
|
Antonio Chalalangasi Chapasa
|
Cabo Delgado
|
19
|
Baculu Simoni
|
Cabo Delgado
|
20
|
Bombarda Tembe
|
Maputo
|
21
|
Cartase Caetano Cumaco
|
Cabo Delgado
|
22
|
Cassiano Alato Nchawya
|
Cabo Delgado
|
23
|
Cristiano Pavão Damião Kunanengo
|
Cabo Delgado
|
24
|
Cristovão Tiago Mula
|
Cabo Delgado
|
25
|
Fernando Vasconcelos Mucavele
|
Gaza
|
26
|
Francisco Ludovico
|
Cabo Delgado
|
27
|
Frederico Antonio Almeida
|
Cabo Delgado
|
28
|
Gabriel Simeão Zandamela
|
Gaza
|
29
|
Hamisi Mohamed Ali
|
Cabo Delgado
|
30
|
Henrique Mandlati
|
Gaza
|
31
|
Hilario Candido Nekamwene Kwalembo
|
Cabo Delgado
|
32
|
Ibrahimi Abdullah
|
Maputo
|
33
|
Ibrahim Bakali
|
Cabo Delgado
|
34
|
Jameson Said
|
Cabo Delgado
|
35
|
João Alexandre Madunga
|
Cabo Delgado
|
36
|
José Covane
|
Gaza
|
37
|
José Frenando Napulula
|
Cabo Delgado
|
38
|
Jose Kaindi Jacob
|
Cabo Delgado
|
39
|
Lucas Elias Tiago
|
Cabo Delgado
|
40
|
Luis Assiam Cassiano
|
Cabo Delgado
|
41
|
Manuel Nagogo
|
Cabo Delgado
|
42
|
Mateus Chipanda Mtabuliwa
|
Cabo Delgado
|
43
|
Mulia Cristovão
|
Cabo Delgado
|
44
|
Omari Sultan Maulana
|
Cabo Delgado
|
45
|
Oreste Basilio Kalulu
|
Cabo Delgado
|
46
|
Oreste Juliao Nandanga Changala
|
Cabo Delgado
|
47
|
Tadeo Pascoal Muidumbe
|
Cabo Delgado
|
48
|
Valentino Mtumwa Sakusasa
|
Cabo Delgado
|
49
|
Vasco Musketo Matabele
|
Gaza
|
50
|
Zacarias Halawe Twalibu
|
Cabo Delgado
|
Acredito que neste primeiro grupo de 50 guerilheiros, poucos ainda estão vivos, mas mesmo assim, todos deviam ter a devida homenagem visto que foram os primeiros guerilheiros da Luta de Libertação de Moçambique.
ResponderEliminarCom certeza, o meu pai perdeu a vida sem nenhum reconhecimento e nós como filhos sem nada pra lembrar que foi defensor deste paid
ResponderEliminar