Nas relações entre os partidos políticos, o povo e o Governo, é legítimo que este último tenha seus segredos, longe dos tímpanos dos deputados, mas de utilidade valiosa a favor do povo. Democracia não significa que qualquer deputado saiba de tudo o que acontece. Quando o assunto dos barcos saiu a ribalta, os defensores da transparência apareceram com argumentos do tipo «o Parlamento devia saber». Não sou contra, mas penso que há limites. Há dias saiu uma notícia
que coloca o nosso país entre os dez países que irão, nos próximos anos,
registar o rápido desenvolvimento e, provavelmente, também o crescimento
económico. Entre os dez, o nosso país figura no primeiríssimo lugar. O mais curioso
é que esta notícia desagradou a muitos mercenários do que não abona ao país, a
ponto de ridiculariza-la. Não fosse elaborada por uma instituição de
credibilidade internacional inquestionável, estaríamos a ouvir que foi obra do
G 40. Acontece-me receber perguntas de alguns estudantes para tecer a
minha consideração acerca do significado e sentido de tudo isto. Regularmente,
digo-lhes o que se segue: «rapazes e raparigas, Moçambique encontra-se
actualmente no pináculo da ambição mundial. É um momento solene para todos nós
porque esta previsível subida do país acarreta uma enorme responsabilidade face
ao futuro. Ao olhardes à vossa volta é provável que, além da satisfação de ser
moçambicano, sintais também a ansiedade por receio de não estardes à altura da
situação.
Mas este momento constitui
uma brilhante oportunidade para o nosso envolvimento colectivo quanto ao que
desejaríamos ser daqui em diante. Rejeitá-la, ignorá-la ou desperdiçá-la fará
cair sobre nós graves acusações no futuro. É necessário que a constância de
espírito, a persistência de intenções e uma grande simplicidade nas decisões
ditem e orientem a conduta dos decisores na paz. Os nossos políticos têm de
provar, e eu acredito que sim – que estão preparados para tão grande repto.
Quando os moçambicanos tratam de situação particularmente muito grave, costuma
escrever no cabeçalho das suas directivas as palavras «o futuro melhor». Ter
alguma palavra ou expressão de esperança é uma prática sensata que conduz
à clareza do pensamento. Em que, então, o rápido desenvolvimento e,
provavelmente crescimento económico deverá ajudar a cada um dos moçambicanos?
É, nem mais nem menos, a segurança alimentar, a assistência social, a liberdade
e o progresso para todos os lares e famílias, para todos os homens e mulheres de
todo o país. E aqui, refiro-me, em particular, à miríade de casa e pequenas
cabanas nas quais os chefes de família lutam, no meio de todos os acidentes e
dificuldades da vida, para proteger a mulher e os filhos das privações e educar
a família no temor do Senhor ou segundo conceitos éticos que frequentemente
desempenham um papel fundamental em suas vidas.
As descobertas de recursos
naturais e de outro tipo de oportunidades não nos podem mover ao ódio contra os
que estão à frente dos dossiers. As suas decisões visam, tenho a certeza,
garantir a segurança destes inumeráveis lares que se encontram entre dois
salteadores esfaimados: a fome e a pobreza. Todos nós conhecemos a aterradora
perturbação em que mergulha uma família comum quando o flagelo da pobreza se abate
sobre quem ganha o pão e os que lhe dão emprego. O terrível espectáculo da
ruína familiar, com todas as suas glórias perdidas, ofusca-nos o olhar. Ao
estar aqui, nesta noite tranquila, arrepio-me de pensar no que está a acontecer
neste momento a centenas de pessoas da minha aldeia, e no que vai acontecer
quando a fome se abater sobre ela. Não podemos olhar nos decisores das
políticas públicas um empecilho a estabilidade económica como prova esta
posição do país entre os dez. Eles têm sobre os ombros o dever supremo de
proteger os lares do cidadão comum dos horrores e das misérias passadas,
presentes e futuras. Quanto a isto, estamos todos de acordo. O nosso Governo
conseguiu elevar o país ao patamar actual. É momento de impedir o ímpeto
agressivo que elimine a motivação que moveu este Governo.
Assim, evitaremos que o
homem comum veja-se confrontado com dificuldades às quais não consiga dar
resposta ante tudo o que se apresente distorcido, quebrado ou mesmo
espezinhado. Temos de garantir que o trabalho do Governo, este e futuros é
frutífero, que as decisões que se tomam em favor do povo são uma realidade e
não um simulacro; que se trata de um Governo para a acção e não para simples
conversa fiada; que é um verdadeiro templo de progresso, cujas paredes serão um
dia decoradas com os brasões de muitos partidos e organizações afins e não
apenas o cimo da torre de Babel. Mas esta subida requere que nos certifiquemos
de que o nosso novo dia é construído sobre a pedra firme e não
sobre areias movediças ou num pântano. Qualquer moçambicano, se tiver olhos bem
abertos, verá que o nosso caminho será difícil e longo, mas se nos mantivermos
juntos, não duvido de que acabaremos por atingir o nosso objectivo comum.
Gostava que isto tivesse sido feito ainda nesta geração e, estou sinceramente
convencido de que mesmo sem esta geração será possível fazê-lo.
No entanto, rapazes e raparigas, o Governo estaria a cometer
um erro e a ser imprudente se confiasse à esta oposição que tudo chumba,
estando ela ainda na sua infância, os conhecimentos e experiências secretos
relativos aos descobrimentos dos recursos e assinatura de contratos. Seria uma
loucura criminosa larga-los à deriva num mundo tão agitado e com uma oposição
desunida. Ninguém, em nenhum distrito, deixou de dormir descansado por estes
conhecimentos e segredos de negócios necessários estarem actualmente, em grande
parte, nas mãos do Governo. Este Governo é legítimo! Não acredito que tivéssemos
podido dormir tao profundamente se as posições se invertessem e um partido
qualquer tivesse temporariamente monopolizado estes terríveis agentes. O medo
que inspira poderia, só por si, ter sido facilmente usado para impor decisões totalitárias
ao país livre, com consequências terríveis de imaginar. Deus não quis que assim
fosse, e temos pelo menos algum tempo para respirar e pôr a casa em ordem antes
de nos confrontarmos com esse perigo. E nessa altura, se nos pouparmos a
esforços, teremos uma superioridade tão grande que imporemos uma dissuasão
eficaz na África Austral».