sábado, 6 de abril de 2013

Josina.


Por Jorge Rebelo
Josina
Era ainda madrugada quando tu partiste
Não tivemos tempo de dizer-te adeus
Partiste subitamente, silenciosamente
Como uma estrela que se apaga
Ninguém soube que partiste
Senão por uma arma que ficou sem dono
Uma criança que chorou na noite
Era ainda madrugada quando tu partiste
Choraste?
É ainda cedo pra chorarmos
A ausência fere, em função do tempo
e da compreensão
Ontem estavas connosco
Juntos construíamos o nosso mundo
Acarinhavas as crianças
Que a revolução colocou a teu cuidado
Transportavas contigo e espalhavas o gesto e flor
Da liberdade
Hoje já não estás
Não estás para sempre
O que quer isto dizer?
Ah, não serem as nossas mãos
Martelos pesados
Que batessem e rasgassem a terra
Para tu saires!
A nossa razão conhece a tua ausência
Mas o nosso coração
Recusa-se a compreender
E a aceitar.
É ainda cedo para te chorarmos.
Aprenderemos nós viver sem ti?
Quem nos dará palavras certas
Que curam e acalentam
Nos nossos momentos
Humanos
De hesitação e incerteza?
Quem ensinará ao mundo a força
A coragem e a graça
Das mulheres da nossa terra?
Eras p´ra nós a pureza
A irmã, a camarada,
A revolução feita certeza.
Quando partiste, a razão de ser de muita coisa
Deixou de ser tao clara
Mas escuta:
Quando a luta nos disser – avante!
Nós avançaremos.
Mas tu irás também
Nas nossas marchas, nos combates, nas escolas, nas machambas
Em todas as missões
Tu estarás connosco
A tua juventude
Interrompida aos 25 anos
Será eterna
Inspirando-nos, encorajando-nos.
Não, na precisamos aprender
A viver sem ti
Continuamos contigo
A nossa luta
Jorge Rebelo, Julho de 1971.