sábado, 28 de dezembro de 2013

Despartidarização e Inclusão na Unidade Nacional

 
A agitação que se verifica actualmente nalgumas mentes dá razão à Kennedy, o presidente americano dos anos 60, quando disse que «quando uma sociedade livre não é capaz de ajudar os muitos que são pobres, não pode salvar os poucos que são ricos». Existe uma ideia generalizada mas compreensível de que a Frelimo, partido no poder desde 1975 e que representa apenas uma parte de forças políticas nacionais com apenas meia ideia sobre cada assunto, assumiu o controlo absoluto de tudo o que se passa sobre o país. Nas negociações levadas pela Renamo para junto do Governo, consta a despartidarização como um dos quatro pontos de maior relevo, ao lado da Paridade, da Economia e da Segurança. Fala-se de um Estado Partidarizado e da urgência da sua despartidarização. Tenho defendido a inclusão como meio-termo para reduzir as animosidades nesta questão. De facto, o Presidente Guebuza, na maioria dos comícios populares que orientou, enfatizou a inclusão e até chamou de inclusivas as suas viagens aos vários cantos desta pérola do Índico. Será a inclusão uma realidade na administração de Armando Guebuza?
 
Dependendo do ângulo a partir do qual se observe a realidade uns dirão «sim» e outros dirão «não». Esta é exactamente a dificuldade com que nos debatemos hoje em dia. Os críticos de Guebuza dizem que temos poucos exemplos de inclusão na verdadeira acepção da palavra: o que existe são apenas muitos reflexos, variações e diluições de elementos da oposição na administração pública e, quando estes se revelam abertamente, são forçosamente afastados das direcções, dos locais de trabalho e mesmo despedidos do emprego. Acrescentam que para conseguir conquistar uma posição na sociedade, o funcionário público deve parecer-se o mais possível com os ideais de quem governa, reflectir as suas ideias, opiniões, virtudes, motivações, preconceitos e vícios. E concluem que as características técnicas e a competência profissional são ignoradas e reprimidas devido à dependência, pois enquanto for o Governo a alimenta-lo, diga-se, ele tentará agradar ao dador e adaptar-se às suas condições. Todavia, a experiência e os exemplos recentes mostram que um funcionário assim mantido utiliza meios indirectos – como o voto – para se controlar, desenvolvendo exactamente, na maioria dos casos, as características que em ambos necessitariam de ser eliminadas. Não é de admirar que mais tarde, alguém fique horrorizado com os resultados dos seus próprios excessos e lamente amargamente que a falsidade, o egoísmo, a traição e os insultos à sua entidade sejam a lei da vida. E nestas condições não é possível combater a pobreza absoluta a qual exige de nós uma luta absoluta contra a pobreza implicando o envolvimento de todos e a primazia da técnica e do profissionalismo.
 
É chegado o tempo de ver tudo sob o prisma da prática, senão todo o esforço verbal é uma simples cabeça no ar. E aceitar as coisas como são, tirando-lhes o melhor partido possível. Esta hora exige um novo Evangelho da Unidade Nacional que exalte a pureza da inclusão independentemente da cor partidária para elevar o país a planos superiores de acção. Há muitas pessoas no país que realmente não compreendem, ou dizem não compreender, qual é a grande questão entre a partidarização e a inclusão. E há quem diga que a inclusão é a onda do futuro enquanto a partidarização pertence ao passado. Eu defendo inclusão! A inclusão também dos quadros da oposição em todas as esferas públicas – desde que aceitem – como primeiro passo. À Renamo, cujas preocupações parte do povo partilha, é necessária uma promessa da lealdade de amigos fiéis porque unidos, é muito pouco o que não podemos fazer no quadro de inúmeros desafios de hoje. Divididos, pouco podemos fazer. Aos outros partidos basta recordá-los que, no passado, todos aqueles que insensatamente procuraram o poder montados num tigre acabaram dentro dele. Ao povo que, nas matas e aldeias do país, luta para quebrar os grilhões do engano, é preciso envidar os maiores esforços para o ajudar a ajudar-se a si próprio, durante o tempo que for necessário – não porque a oposição o possa estar a fazer, não por interesse nos seus votos, mas sim porque é atitude correcta.
 
Tudo o que for feito para elevar a confiança de cada moçambicano nas suas próprias forças e competências promoverá uma nova época de paz e perfeição para a nação. Quando falo da inclusão, não quero que pensem que apenas limitar-me-ei na teoria. Mas também não quero que pensem que defendo o Governo de Unidade Nacional ou, na pior hipóteses, dividir para reinar. Pretendo, num espírito puro, mostrar que é possível evitar a existência de tribos renegadas que vejam no Governo e nos governantes a face da opressão ante a nova epopeia do realinhamento das identidades. Tomemos o exemplo de Sofala, terra que viu a nascer Afonso Dhlakama, a face visível da oposição nacional. O que pode acontecer se Armando Guebuza nomear Dhlakama como Governador desta província? Iria Dhlakama recusar ou aceitar e como ficariam os seguidores da Renamo e provavelmente das outras forças políticas incluindo da própria Frelimo? Na verdade, um gesto desta magnitude iria trazer benefícios mútuos e testemunharia o pico do que significa, na voz do pai da nação, a inclusão. Nesta primeira abordagem, refiro-me também à inclusão daquelas pessoas que são a face visível da Renamo, cujos argumentos e ideias mostraram serem competentes, entre as quais Ivone Soares, Fernando Mazanga, A. Muchanga, só para citar poucos. Imagino a cara de todos aqueles que conhecendo a minha postura ficaram estupefactos com a minha proposta e têm dúvidas quanto à sinceridade das intenções por detrás deste exemplo. Ninguém conceberia nunca que aos frelimistas preocupassem as vias de inclusão.
 
No Moçambique de hoje, com toda a sua agitação, assistimos a um esforço constante para desacreditar a Frelimo e destruir todo o equilíbrio de forças da sua grandeza: antigos combatentes, quadros seniores e cofundadores do partido, jornalistas, médicos, madjermane, cientistas nacionais, secretários de povoações e de bairros. Mas a História, qual mãe carinhosa, está constantemente a tentar mante-la no seu respectivo lugar, a apaziguar os furiosos ventos e vagas, para que a paz, a harmonia e a unidade da nação possam reinar supremas. Por isso, o nosso tempo exige já o alargamento da participação política da oposição e, no lugar de combater os críticos «internos e externos» acomodar-lhes as suas justas reclamações. A inclusão das figuras da Renamo na governação, longe de ser uma fraqueza e ameaça à hegemonia frelimista, representaria melhor o todo e protegeria melhor os argumentos de quem verdadeiramente é o garante da Unidade Nacional. E se um princípio de cooperação com a Renamo conseguir fazer recuar o ódio escondido na selva suspeita, que nos juntemos numa nova empresa de inclusão dos restantes partidos políticos, dos restantes críticos num país onde os fortes sejam justos enquanto os fracos estão em segurança e se preserva a paz. Não será possível realizar tudo isto em um ano, em um mandato, nem provavelmente durante as nossas vidas. Mas comecemos e unamo-nos para que em todos os lares deste país seja ouvido o recado de Jesus Cristo «na casa do meu Pai há muitas moradas».
 
Nas mãos da Frelimo, mais do que nas da oposição, está o sucesso ou o fracasso do nosso projecto como nação. Desde a sua fundação em 1962, cada frelimista tem sido chamado a provar a sua lealdade nacional. As campas dos que responderam à chamada estão espalhadas por todo o país. Agora, o clarim toca de novo – não em chamada às armas, embora precisemos delas, não para combatermos, embora estejamos em combate, mas sim para carregarmos o fardo de uma longa e sombria luta, ano após ano, alegres na esperança, pacientes no sofrimento, um combate contra o inimigo do nosso fracasso: a exclusão social e a elitização das oportunidades. Contra estes inimigos, forjemos uma aliança nacional que possa assegurar uma vida mais frutuosa para todos. Requer uma decisão histórica pois na longa história do Mundo, poucas foram as organizações políticas às quais foi concedido o papel de defender a sua sobrevivência na sua hora de maior perigo. Que a Frelimo não recue perante essa responsabilidade e não a deixe para os outros, pois mais cedo ou mais tarde ela será uma realidade e feliz será quem a puser em prática. Não acredito que algum de nós veja vantagens na exclusão político-social. A energia, a fé, a devoção que pusermos nesta empresa iluminará o nosso país e todos os que o querem servir e o brilho deste fogo poderá, na verdade, iluminar as vitórias futuras. Já não podemos arriscar improvisos de emergência na garantia da Unidade Nacional. Como nação, lutemos para sermos poderosos e estarmos prontos para entrar em acção, para que nenhum potencial agressor possa sentir-se tentado a arriscar a sua própria destruição. Que assim seja!!

Eusébio A. P. Gwembe

Um paço no caminho da inclusão  

 

A agitação que se verifica actualmente nalgumas mentes dá razão à Kennedy, o presidente americano dos anos 60, quando disse que «quando uma sociedade livre não é capaz de ajudar os muitos que são pobres, não pode salvar os poucos que são ricos». Existe uma ideia generalizada mas compreensível de que a Frelimo, partido no poder desde 1975 e que representa apenas uma parte de forças políticas nacionais com apenas meia ideia sobre cada assunto, assumiu o controlo absoluto de tudo o que se passa sobre o país. Nas negociações levadas pela Renamo para junto do Governo, consta a despartidarização como um dos quatro pontos de maior relevo, ao lado da Paridade, da Economia e da Segurança. Fala-se de um Estado Partidarizado e da urgência da sua despartidarização. Tenho defendido a inclusão como meio-termo para reduzir as animosidades nesta questão. De facto, o Presidente Guebuza, na maioria dos comícios populares que orientou, enfatizou a inclusão e até chamou de inclusivas as suas viagens aos vários cantos desta pérola do Índico. Será a inclusão uma realidade na administração de Armando Guebuza?

 

Dependendo do ângulo a partir do qual se observe a realidade uns dirão «sim» e outros dirão «não». Esta é exactamente a dificuldade com que nos debatemos hoje em dia. Os críticos de Guebuza dizem que temos poucos exemplos de inclusão na verdadeira acepção da palavra: o que existe são apenas muitos reflexos, variações e diluições de elementos da oposição na administração pública e, quando estes se revelam abertamente, são forçosamente afastados das direcções, dos locais de trabalho e mesmo despedidos do emprego. Acrescentam que para conseguir conquistar uma posição na sociedade, o funcionário público deve parecer-se o mais possível com os ideais de quem governa, reflectir as suas ideias, opiniões, virtudes, motivações, preconceitos e vícios. E concluem que as características técnicas e a competência profissional são ignoradas e reprimidas devido à dependência, pois enquanto for o Governo a alimenta-lo, diga-se, ele tentará agradar ao dador e adaptar-se às suas condições. Todavia, a experiência e os exemplos recentes mostram que um funcionário assim mantido utiliza meios indirectos – como o voto – para se controlar, desenvolvendo exactamente, na maioria dos casos, as características que em ambos necessitariam de ser eliminadas. Não é de admirar que mais tarde, alguém fique horrorizado com os resultados dos seus próprios excessos e lamente amargamente que a falsidade, o egoísmo, a traição e os insultos à sua entidade sejam a lei da vida. E nestas condições não é possível combater a pobreza absoluta a qual exige de nós uma luta absoluta contra a pobreza implicando o envolvimento de todos e a primazia da técnica e do profissionalismo.

 

É chegado o tempo de ver tudo sob o prisma da prática, senão todo o esforço verbal é uma simples cabeça no ar. E aceitar as coisas como são, tirando-lhes o melhor partido possível. Esta hora exige um novo Evangelho da Unidade Nacional que exalte a pureza da inclusão independentemente da cor partidária para elevar o país a planos superiores de acção. Há muitas pessoas no país que realmente não compreendem, ou dizem não compreender, qual é a grande questão entre a partidarização e a inclusão. E há quem diga que a inclusão é a onda do futuro enquanto a partidarização pertence ao passado. Eu defendo inclusão! A inclusão também dos quadros da oposição em todas as esferas públicas – desde que aceitem – como primeiro passo. À Renamo, cujas preocupações parte do povo partilha, é necessária uma promessa da lealdade de amigos fiéis porque unidos, é muito pouco o que não podemos fazer no quadro de inúmeros desafios de hoje. Divididos, pouco podemos fazer. Aos outros partidos basta recordá-los que, no passado, todos aqueles que insensatamente procuraram o poder montados num tigre acabaram dentro dele. Ao povo que, nas matas e aldeias do país, luta para quebrar os grilhões do engano, é preciso envidar os maiores esforços para o ajudar a ajudar-se a si próprio, durante o tempo que for necessário – não porque a oposição o possa estar a fazer, não por interesse nos seus votos, mas sim porque é atitude correcta.

 

Tudo o que for feito para elevar a confiança de cada moçambicano nas suas próprias forças e competências promoverá uma nova época de paz e perfeição para a nação. Quando falo da inclusão, não quero que pensem que apenas limitar-me-ei na teoria. Mas também não quero que pensem que defendo o Governo de Unidade Nacional ou, na pior hipóteses, dividir para reinar. Pretendo, num espírito puro, mostrar que é possível evitar a existência de tribos renegadas que vejam no Governo e nos governantes a face da opressão ante a nova epopeia do realinhamento das identidades. Tomemos o exemplo de Sofala, terra que viu a nascer Afonso Dhlakama, a face visível da oposição nacional. O que pode acontecer se Armando Guebuza nomear Dhlakama como Governador desta província? Iria Dhlakama recusar ou aceitar e como ficariam os seguidores da Renamo e provavelmente das outras forças políticas incluindo da própria Frelimo? Na verdade, um gesto desta magnitude iria trazer benefícios mútuos e testemunharia o pico do que significa, na voz do pai da nação, a inclusão. Nesta primeira abordagem, refiro-me também à inclusão daquelas pessoas que são a face visível da Renamo, cujos argumentos e ideias mostraram serem competentes, entre as quais Ivone Soares, Fernando Mazanga, A. Muchanga, só para citar poucos. Imagino a cara de todos aqueles que conhecendo a minha postura ficaram estupefactos com a minha proposta e têm dúvidas quanto à sinceridade das intenções por detrás deste exemplo. Ninguém conceberia nunca que aos frelimistas preocupassem as vias de inclusão.

 

No Moçambique de hoje, com toda a sua agitação, assistimos a um esforço constante para desacreditar a Frelimo e destruir todo o equilíbrio de forças da sua grandeza: antigos combatentes, quadros seniores e cofundadores do partido, jornalistas, médicos, madjermane, cientistas nacionais, secretários de povoações e de bairros. Mas a História, qual mãe carinhosa, está constantemente a tentar mante-la no seu respectivo lugar, a apaziguar os furiosos ventos e vagas, para que a paz, a harmonia e a unidade da nação possam reinar supremas. Por isso, o nosso tempo exige já o alargamento da participação política da oposição e, no lugar de combater os críticos «internos e externos» acomodar-lhes as suas justas reclamações. A inclusão das figuras da Renamo na governação, longe de ser uma fraqueza e ameaça à hegemonia frelimista, representaria melhor o todo e protegeria melhor os argumentos de quem verdadeiramente é o garante da Unidade Nacional. E se um princípio de cooperação com a Renamo conseguir fazer recuar o ódio escondido na selva suspeita, que nos juntemos numa nova empresa de inclusão dos restantes partidos políticos, dos restantes críticos num país onde os fortes sejam justos enquanto os fracos estão em segurança e se preserva a paz. Não será possível realizar tudo isto em um ano, em um mandato, nem provavelmente durante as nossas vidas. Mas comecemos e unamo-nos para que em todos os lares deste país seja ouvido o recado de Jesus Cristo «na casa do meu Pai há muitas moradas».

 
Nas mãos da Frelimo, mais do que nas da oposição, está o sucesso ou o fracasso do nosso projecto como nação. Desde a sua fundação em 1962, cada frelimista tem sido chamado a provar a sua lealdade nacional. As campas dos que responderam à chamada estão espalhadas por todo o país. Agora, o clarim toca de novo – não em chamada às armas, embora precisemos delas, não para combatermos, embora estejamos em combate, mas sim para carregarmos o fardo de uma longa e sombria luta, ano após ano, alegres na esperança, pacientes no sofrimento, um combate contra o inimigo do nosso fracasso: a exclusão social e a elitização das oportunidades. Contra estes inimigos, forjemos uma aliança nacional que possa assegurar uma vida mais frutuosa para todos. Requer uma decisão histórica pois na longa história do Mundo, poucas foram as organizações políticas às quais foi concedido o papel de defender a sua sobrevivência na sua hora de maior perigo. Que a Frelimo não recue perante essa responsabilidade e não a deixe para os outros, pois mais cedo ou mais tarde ela será uma realidade e feliz será quem a puser em prática. Não acredito que algum de nós veja vantagens na exclusão político-social. A energia, a fé, a devoção que pusermos nesta empresa iluminará o nosso país e todos os que o querem servir e o brilho deste fogo poderá, na verdade, iluminar as vitórias futuras. Já não podemos arriscar improvisos de emergência na garantia da Unidade Nacional. Como nação, lutemos para sermos poderosos e estarmos prontos para entrar em acção, para que nenhum potencial agressor possa sentir-se tentado a arriscar a sua própria destruição. Que assim seja!!

domingo, 3 de novembro de 2013

Guebuza é um inocente sacrificado em nome de muitos

Acusar Guebuza de ser o promotor de um Estado de Guerra para perpetuar-se no poder é um erro. Ele já disse estar de saída, dito confirmado pela primeira-dama. Erro confesso quando os exemplos recentes mostraram a sua paciência quando o exército e a polícia eram amedrontados, humilhados e assassinados, sem que ele, na qualidade de comandante em chefe das Forças Armadas de Defesa de Moçambique, desse também a autorização que Dhlakama dera a seus homens: se se sentirem atacados ataquem também, vocês sabem onde encontrarem as armas». Para mim, em toda esta História, Guebuza é um inocente que carrega a culpa de muitos compatriotas e dirigentes da Frelimo, incluindo os da Administração de Chissano. Chissano, não pode ser visto como campeão da paz, quando deixou que o actual problema de dois exércitos tivesse barbas brancas. Suas palavras recentes, segundo as quais ele enganou Dhlakama, são reveladoras de muita coisa. E pior do que isto, é o silêncio dele, neste momento angustioso. Duas perguntas foram-me feitas ontem, por um amigo de longa data: a primeira, se era eu o autor deste artigo aqui cujos ecos, mais do que eu imaginara, já se fazem sentir um pouco por todo o país, a segunda, se eu desejava revogar ou defender o que afirmara naquele artigo. Respondi à primeira afirmativamente. Quanto à segunda, escrevi inúmeros  comentários sobre pontos de vista muito diferenciados mostrando o perigo que a existência de dois exércitos representa num Estado que se presuma de Direito. Em primeiro lugar, nalguns, discuti a humilhação sofrida pelo povo protagonizada ante FIR (Força de Intervenção Rápida) e pôde até afirmar que esta atitude policial daria mais legitimidade as acções da Renamo, caso esta ripostasse, porque ai o povo veria uma polícia que, ao invés de defender humilha, a ser também humilhada. O exemplo de Moxungue foi revelador daquela profecia, quando um grupo de polícias foi aniquilado pela Renamo sob pretexto de que «já estava cansada de tanta humilhação e que, doravante, assim seria: levou, deu».
 
Condenei a actuação da FIR no Maputo e igualmente condenei a actuação dos guerrilheiros da Renamo em Moxungue num espírito tão puro, claro e cristão que até os meus temidos adversários ideológicos, longe de encontrarem algo a censurar, admitiram que aquelas críticas eram úteis e mereciam ser lidas por pessoas devotas. Admiro que alguns hoje encontrem nos meus escritos uma apologia à Guerra. A desmilitarização da Renamo é um imperativo nacional. Todos estávamos de acordo nisso. De entre todos os homens, tinha que ser eu a abandonar as verdades aprovadas pela voz unânime de amigos e adversários, e a opor-me a ideias que todo o mundo se regozija de reconhecer? Em segundo lugar, escrevi determinados textos contra a hipocrisia do MDM, (demonstrada aqui)  nos quais ataquei aqueles que, com falsas palavras, vidas democráticas impróprias e exemplos escandalosos prejudicaram o povo moçambicano tendo aprovado a lei que abriu a precedente do que hoje arruína a nação. Naquele momento, em 2012, eu era contra a aprovação da lei eleitoral até que se criassem condições de consenso que nos poupassem do sangue que hoje corre pelas estradas e pelas matas deste sacrificado país. Sim, mesmo que isso significasse o adiamento das eleições. E a hipocrisia do MDM pouco tempo manifestou-se, quando em surdina, começou a apoiar a paridade (veja aqui), principio gerado pela Renamo, contra aquilo que em sede própria, isto é, no Parlamento, aprovara ao lado da Frelimo. Não é verdade que a decisão apressada para correr atrás de eleições confunde, atormenta e angustia as consciências dos moçambicanos, enquanto as gritantes e intermináveis emboscadas devoram os bens e a riqueza dos moçambicanos, e mais particularmente da ilustre província de Sofala?
 
Não é justo que os membros do MDM encontrem a culpa onde não está, isto é, em Guebuza, cuja missão é salvar o país do desastre iminente ao qual a Renamo pretende precipitá-lo. É tempo de darmos uma condenação unânime contra as atitudes da Renamo, que perigam a Democracia que tal como provam os exemplos históricos do nosso passado, tanto sangue e suor custou. Se eu revogasse o que escrevi sobre o tema de desarmamento da Renamo, estaria a fortalecer a sua tirania e a abrir ainda mais a porta a tantas críticas a alguém que está a desempenhar o seu mandato e a cumprir a sua promessa eleitoral, feita em 2005, segundo a qual, acabaria com os exércitos paralelos. A missão é de risco, mas deve ser cumprida e o seu não cumprimento poderá criar nos adeptos de partidos políticos militarizados uma resistência com uma ira renovada contra tudo o que represente o governo do dia. Então, veríamos estes homens inchar, espumar e enfurecer-se mais do que nunca. O progresso das nossas forças armadas, do qual dependerá principalmente tudo o resto, é tão bem conhecido pelo público moçambicano e apresenta-se, acredito, razoavelmente satisfatório e encorajador para todos. Antes de ocuparem qualquer espaço advertem, avisam,num esforço tendente a apenas ocupar os espaços fora do controlo delas e poupar as vidas humanas. O exemplo da não perseguição ao líder da Renamo ilustra muito bem esta intenção, ate porque segundo o «Governo, na voz do ministro da Agricultura, José Pacheco, que tem chefiado a delegação governamental ao diálogo com a Renamo, diz que Afonso Dhlakama não corre nenhum perigo de vida e que o assalto a Santhundjira não visava a sua eliminação física». Mas embora tenhamos grandes esperanças no futuro sem guerra, não arriscamos uma previsão sobre ele.
 
Por esta mesma terra, há 37 anos atrás, todas as atenções nacionais estavam concentradas numa guerra iminente. Todos a receavam e a tentavam evitar. Enquanto neste país estava a ser proferido o discurso da vitória sobre o colonialismo, agentes insurrectos tentavam, no mato, organizar-se para a destruição do recém-Estado. A situação era difícil. Ambas as partes repudiavam a guerra, acusando-se mutuamente, mas uma delas preferia fazer a guerra a deixar sobreviver a nação, enquanto a outra preferia aceitar a guerra a deixá-la perecer; e a guerra prosseguiu por 16 anos. Naquele tempo, mais de 80% da população moçambicana era formada de analfabetos que não se encontravam uniformemente distribuídos. Estes analfabetos constituíam um interesse peculiar e poderoso. Todos sabiam que, de certo modo, este interesse era a causa da guerra, porque os analfabetos são facilmente manipuláveis. Hoje, a realidade é diferente, mas os intelectuais, em vez de olharem criticamente a quem oferecer responsabilidades, são levados a ver no próprio Governo um inimigo a abater. Os reforços soviético, zimbabweano, tanzaniano, cubano, britânico a um lado; rodesiano, sul-africano e malawiano ao outro, não foram capazes de dar vantagens aditivas a nenhuma das partes em luta. A guerra prosseguiu e com ela as consequências inerentes: mortes, destruição de infraestruturas e de valores ético-morais, estes últimos que tinham sido edificados por gerações de moçambicanos, todos desaparecidos agora; deslocados e refugiados.
 
Estes reforços, perpetuação e expansão deste sofrimento eram os objectivos pelos quais os insurrectos pretendiam aniquilar o poder de Maputo, mesmo recorrendo à guerra, ao passo que o governo não exigiu mais do que o direito a restringir a sua expansão territorial recorrendo ao apoio de países amigos. Os insurrectos eram chamados de Bandidos Armados enquanto estes chamavam de comunistas os governantes e neste jogo de palavras nenhuma das partes esperava que a guerra durasse tanto tempo e chegasse à magnitude que atingira. Ambas procuravam um triunfo mais fácil e com um resultado menos radical e espantoso. Ambas liam a mesma Bíblia e rezavam ao mesmo Deus, e ambas invocavam a Sua ajuda contra a outra. E como não era possível responder às orações de ambas as partes, nenhuma teve uma resposta completa porque o Todo-poderoso tinha os seus próprios desígnios. E a guerra terminou como havia começado, sem vencedor nem vencido, em 1992. Os que estavam no poder continuaram e os que estavam à margem dele também ali se acomodaram. Ouviram-se palavras proferidas pelas partes dizendo e convencendo-nos que a paz viera para ficar.
 
A paz é uma dádiva e obra divina para a qual concorrem as acções humanas enquanto executoras da vontade da providência. A guerra é obra humana e certamente inevitável mas ai do homem que a pratica primeiro. Suponhamos que a guerra moçambicana é uma dessas ofensas que, de acordo com a providência divina, são inevitáveis, mas que, tendo ultrapassado o tempo que lhe foi atribuído, Deus pretende agora eliminar. Ele envia Guebuza para tomar esta difícil decisão de trazer a paz, como castigo devido àqueles que primeiro praticaram a ofensa: será que discernimos aqui um desvio dos atributos divinos que os crentes em Deus vivo sempre lhe atribuem? É que a guerra já começou e esperamos de todo o coração e oramos fervorosamente para que este colossal flagelo da guerra possa terminar rapidamente. No entanto, se Deus desejar que ela continue até que se esgotem todas as riquezas acumuladas em vinte anos de paz e de árdua labuta do povo moçambicano, e até que todas as gotas de sangue provocadas pelo trabalho sejam pagas por outras provocadas pela arma, como foi dito há dois mil anos, ainda assim se deverá dizer: «o julgamento do Senhor é verdadeiro e justo».

Eusébio A. P. Gwembe!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

A Orquestra dos tiros

Referimo-nos jocosamente à uma orquestra de jazz que é a Renamo, orquestra essa que executa sob a regência do Senhor Dhlakama, o dissonante rock do anti-frelimismo. A coisa não teria importância de maior se apenas os frelimistas ouvissem a orquestra, porque estes tapariam os ouvidos até que os músicos acabassem a sua ária. O pior é que outros concidadãos, não distinguindo a boa da ruim música, vão ouvindo e impressionam-se, julgando que aquela é a verdadeira arte de emitir sons harmoniosamente. Mas a intenção da orquestra é exclusivamente a de atingir o povo cujos interesses diz defender.

A orquestra recebeu subitamente o influxo da entrada de outras entidades, notadamente a outra oposição, a oposição das contrapartidas. Por outro lado, e no fim de contas, os membros desta outra oposição, unidos e reunidos em torno de certos protagonistas, já servem de porta-vozes de uma Renamo em apulo. Os dois partidos chefes da oposição, a Renamo e esta outra oposição, que têm vindo a afirmar a sua fidelidade e o seu respeito ao anti-frelimismo, os primeiros sinceramente, os segundos com a sua hipocrisia habitual da sua política de autovitimização, estão muito confusos sem saber se, nas actuais circunstâncias devem rir ou chorar visto que a orquestra tem lugar no seu próprio bastião. Ai, a população anda de arbusto em arbusto em busca de segurança. A orquestra desta dupla pode continuar a exibir-se.

A ária estridente do ódio à Frelimo já ninguém engana. Essa outra oposição, que sempre tem utilizado um certo Jornal especialmente como plataforma da sua propaganda, até há bem pouco tempo considerou que existe uma grande oportunidade por explorar. Mas hoje o cenário sombrio se desenha no horizonte. O 20 de Novembro pode vir trazer surpresas inesperadas. Recentemente, alguns líderes atravessaram o rio Zambeze cercados dos seus sequazes mais em evidência no avião do que no terreno. E lá ao Norte, as populações ficaram-lhes indiferentes. Todos ali se concentraram, numa reunião que se procurou fazer excepcionalmente aparatosa, mas a orquestra não teve audiência. Porque ninguém deseja uma orquestra de tiros.

Pedro MAHRIC

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Há segredos que devem estar na posse do Governo!

Nas relações entre os partidos políticos, o povo e o Governo, é legítimo que este último tenha seus segredos, longe dos tímpanos dos deputados, mas de utilidade valiosa a favor do povo. Democracia não significa que qualquer deputado saiba de tudo o que acontece. Quando o assunto dos barcos saiu a ribalta, os defensores da transparência apareceram com argumentos do tipo «o Parlamento devia saber». Não sou contra, mas penso que há limites. Há dias saiu uma notícia que coloca o nosso país entre os dez países que irão, nos próximos anos, registar o rápido desenvolvimento e, provavelmente, também o crescimento económico. Entre os dez, o nosso país figura no primeiríssimo lugar. O mais curioso é que esta notícia desagradou a muitos mercenários do que não abona ao país, a ponto de ridiculariza-la. Não fosse elaborada por uma instituição de credibilidade internacional inquestionável, estaríamos a ouvir que foi obra do G 40.  Acontece-me receber perguntas de alguns estudantes para tecer a minha consideração acerca do significado e sentido de tudo isto. Regularmente, digo-lhes o que se segue: «rapazes e raparigas, Moçambique encontra-se actualmente no pináculo da ambição mundial. É um momento solene para todos nós porque esta previsível subida do país acarreta uma enorme responsabilidade face ao futuro. Ao olhardes à vossa volta é provável que, além da satisfação de ser moçambicano, sintais também a ansiedade por receio de não estardes à altura da situação.

Mas este momento constitui uma brilhante oportunidade para o nosso envolvimento colectivo quanto ao que desejaríamos ser daqui em diante. Rejeitá-la, ignorá-la ou desperdiçá-la fará cair sobre nós graves acusações no futuro. É necessário que a constância de espírito, a persistência de intenções e uma grande simplicidade nas decisões ditem e orientem a conduta dos decisores na paz. Os nossos políticos têm de provar, e eu acredito que sim – que estão preparados para tão grande repto. Quando os moçambicanos tratam de situação particularmente muito grave, costuma escrever no cabeçalho das suas directivas as palavras «o futuro melhor». Ter alguma palavra ou expressão de esperança é uma prática sensata que conduz à clareza do pensamento. Em que, então, o rápido desenvolvimento e, provavelmente crescimento económico deverá ajudar a cada um dos moçambicanos? É, nem mais nem menos, a segurança alimentar, a assistência social, a liberdade e o progresso para todos os lares e famílias, para todos os homens e mulheres de todo o país. E aqui, refiro-me, em particular, à miríade de casa e pequenas cabanas nas quais os chefes de família lutam, no meio de todos os acidentes e dificuldades da vida, para proteger a mulher e os filhos das privações e educar a família no temor do Senhor ou segundo conceitos éticos que frequentemente desempenham um papel fundamental em suas vidas.

As descobertas de recursos naturais e de outro tipo de oportunidades não nos podem mover ao ódio contra os que estão à frente dos dossiers. As suas decisões visam, tenho a certeza, garantir a segurança destes inumeráveis lares que se encontram entre dois salteadores esfaimados: a fome e a pobreza. Todos nós conhecemos a aterradora perturbação em que mergulha uma família comum quando o flagelo da pobreza se abate sobre quem ganha o pão e os que lhe dão emprego. O terrível espectáculo da ruína familiar, com todas as suas glórias perdidas, ofusca-nos o olhar. Ao estar aqui, nesta noite tranquila, arrepio-me de pensar no que está a acontecer neste momento a centenas de pessoas da minha aldeia, e no que vai acontecer quando a fome se abater sobre ela. Não podemos olhar nos decisores das políticas públicas um empecilho a estabilidade económica como prova esta posição do país entre os dez. Eles têm sobre os ombros o dever supremo de proteger os lares do cidadão comum dos horrores e das misérias passadas, presentes e futuras. Quanto a isto, estamos todos de acordo. O nosso Governo conseguiu elevar o país ao patamar actual. É momento de impedir o ímpeto agressivo que elimine a motivação que moveu este Governo.

Assim, evitaremos que o homem comum veja-se confrontado com dificuldades às quais não consiga dar resposta ante tudo o que se apresente distorcido, quebrado ou mesmo espezinhado. Temos de garantir que o trabalho do Governo, este e futuros é frutífero, que as decisões que se tomam em favor do povo são uma realidade e não um simulacro; que se trata de um Governo para a acção e não para simples conversa fiada; que é um verdadeiro templo de progresso, cujas paredes serão um dia decoradas com os brasões de muitos partidos e organizações afins e não apenas o cimo da torre de Babel. Mas esta subida requere que nos certifiquemos de que o nosso  novo dia é construído sobre a pedra  firme e não sobre areias movediças ou num pântano. Qualquer moçambicano, se tiver olhos bem abertos, verá que o nosso caminho será difícil e longo, mas se nos mantivermos juntos, não duvido de que acabaremos por atingir o nosso objectivo comum. Gostava que isto tivesse sido feito ainda nesta geração e, estou sinceramente convencido de que mesmo sem esta geração será possível fazê-lo.

No entanto, rapazes e raparigas, o Governo estaria a cometer um erro e a ser imprudente se confiasse à esta oposição que tudo chumba, estando ela ainda na sua infância, os conhecimentos e experiências secretos relativos aos descobrimentos dos recursos e assinatura de contratos. Seria uma loucura criminosa larga-los à deriva num mundo tão agitado e com uma oposição desunida. Ninguém, em nenhum distrito, deixou de dormir descansado por estes conhecimentos e segredos de negócios necessários estarem actualmente, em grande parte, nas mãos do Governo. Este Governo é legítimo! Não acredito que tivéssemos podido dormir tao profundamente se as posições se invertessem e um partido qualquer tivesse temporariamente monopolizado estes terríveis agentes. O medo que inspira poderia, só por si, ter sido facilmente usado para impor decisões totalitárias ao país livre, com consequências terríveis de imaginar. Deus não quis que assim fosse, e temos pelo menos algum tempo para respirar e pôr a casa em ordem antes de nos confrontarmos com esse perigo. E nessa altura, se nos pouparmos a esforços, teremos uma superioridade tão grande que imporemos uma dissuasão eficaz na África Austral».

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Uma bússola para o colapso chamada Renamo

No Notícias de 24 de Setembro corrente, do Centro de Conferência Joaquim Chissano não saiu nenhum fumo branco. A Renamo voltou a insistir na imperiosa movimentação das forças de segurança estacionadas em Gorongosa e Vanduzi como condição para o seu líder aceitar deslocar-se a Maputo ao encontro com o presidente da República. Estamos assistir serenamente a um partido político dar ordens a um governo sobre onde e quando deve colocar as forças operacionais. Mas a Renamo não está só movida por forças motrizes internas e a sua insistência em impor a presença de observadores internacionais é prova inequívoca de estar ao serviço de poderes estranhos aos interesses nacionais. Não é a transparência! A Renamo confia mais nos estrangeiros do que em moçambicanos. Se, nopassado, praticamos o erro e lhe sofremos os prejuízos, saibamos ao menos aproveitar dele a lição: aceitar, sem salvaguarda suficiente, teses estrangeiras construídas para a defesa directa ou indirecta de interesses que não são os nossos  é preferir ao risco de morte na guerra a certeza do suicídio  na paz. Que os estrangeiros não nos entendam ou não lhes convenha entender-nos – vá!. Mas sabendo todos, de História certa e feita de experiências ainda a sangrarem, não ser hoje possível com a Renamo qualquer entendimento que não se dirija, a ritmo vertiginoso, para a destruição de Moçambique em seu património moral e material, já custa muito admitir que algum moçambicano possa pôr em causa a política do Governo, na medida em que ela defende, pela palavra e pelo sangue, a integridade da nação e a resolução dos problemas nacionais por moçambicanos.
 
Até porque, diz o mesmo Jornal, o Governo dá à Renamo a possibilidade de aumentar o número de integrantes do seu grupo negocial. Enquanto isto, informações que nos chegam do palco dos confrontos não dão margem para dúvida. A Renamo continua ela própria com o seu plano primordial dos tempos da glória: destruir e matar enquanto engana, aos ecráns, a opinião pública, de estar interessada no diálogo. O diálogo, como é agora moda dizer-se, só pode ser estabelecido, e é indispensável, acerca de problemas nacionais que comportem mais do que uma solução nacional. Mas não há diálogo sobre o «sim» e o «não» porque não pode transacionar-se o que é insusceptível de ser transacionado. Nós sabemos – e nisso o mundo inteiro está de acordo connosco – que qualquer negociação sobre a situação política actual recorrendo aos negociadores estrangeiros corresponderia fatalmente a aceitar que deixasse de ser moçambicana uma parte dos problemas moçambicanos. Os defensores da caducidade histórica da Renamo pretendem forçar a situação a fim de integrarem o Governo por vias não democráticas e assim, poderem reconhecer que, de facto, o governo moçambicano é inclusivo. Dai que o diálogo sobre a política que sustenta a solução de concessão unilateral, na diversidade das suas opiniões, só tenha viabilidade e sentido no plano em que os renamistas se vejam no poder e com reforma garantida.
 
Não sei de um só homem  que, forçado a reconhecer a brutalidade objectiva  da situação do caos a que as forças da Renamo meteram parte do solo pátrio, tenha a coragem de defender o negócio com os estrangeiros sobre a política nacional, para maior bem estar imediato do país e para aplauso pelo estrangeiro de um governo que, traindo a pátria, logo seria considerado o mais representativo de quantos governam o mundo livre. Por este preço não. Não conheço, aliás, governo de nação digna desse nome que precise de recorrer a prévio reconhecimento derrotista para defender a integridade do solo pátrio. Mas o levantamento do povo por Moçambique, o seu sofrimento por Moxungue, que mais expressivo e mais solene exemplo? A Renamo Sabota o progresso, ela sabota negociações e, por cima, sabota as vias para a construção dos caminhos para o entendimento. Só lhe não poderemos chamar «sabotagem» por ser ela o coro, a uma só voz, de todos os que lançam a culpa, no seu direito, ao governo. Todavia, aos que duvidaram, há poucos meses, da possibilidade de dominarmos o terrorismo da Renamo, a nação, virada ao futuro, responde hoje com a sua política de diálogo interno. Hoje, nós podemos dizer-lhes que, na hora incerta do Mundo, esta é a hora certa de Moçambique e para moçambicanos que recusam seguir a bússola do colapso sustentada pela Renamo.
 
Pedro MAHRIC

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

A Queda da Renamo e a Dupla Hipocrisia do MDM

Começo por uma opinião que expressa a minha indignação pelos acontecimentos da Beira e da Matola que, à primeira vista, são imputados à Organização da Juventude Moçambicana (OJM). Adão e Eva são os únicos humanos que deveriam ser pintados sem umbigo, pois não nasceram de pessoa humana, foram criados do nada e, portanto, nunca tiveram um cordão umbilical que os unisse a uma mãe. Esta máxima baseada no critério realista da narração bíblica não vem por acaso. Dadas as calúnias na época que passa, bem como as realizadas no passado, e aberto o caminho aos políticos que levará os moçambicanos à sua maioridade política, já não é possível a OJM continuar a agir como se nada tivesse acontecido. Perseguida politicamente pelo Movimento Democrático de Moçambique, (MDM), caluniada e privada do direito a expressar os seus ideais, ela deve seguir pelo caminho da rectidão: defender-se. Pode ser por palavras, e mostrar ao mundo que não é adepta da violência. O Modus Operandi do MDM nestes casos (Beira e Matola) não difere daquele seguido pelo seu progenitor, a Renamo. Consiste em produzir factos para legitimar fraudes fantasmas. Agora escolheram a OJM como alvo e não sabemos quem será o próximo alvo de/para linchamentos.
 
Numa época em que honrada e seriamente se procura a verdade, e nos esforçamos por harmonizar o país real com os conceitos e as ansiedades políticas, não se podem pôr de lado questões tao intimamente ligadas à juventude como a problemática da perseguição política a que os seus militantes estão votados. Há quem simule não ser esta uma perseguição, por se tratar de as vítimas estarem mais próximas ao partido no poder. Não! Voltemos a Adão e Eva para vermos que, diferentemente deles, os seus descendentes praticam todo o tipo de maldades para parecerem limpos sujando os demais descendentes. O MDM, após apoiar a actual lei eleitoral, abraçou a causa da paridade, defendida pela Renamo. Ao abraças a causa do pai não é verdade que a tenha abraçado de corpo e alma. Foi uma estratégia para estrangular a Renamo, deixando-a cair na lama em como se tivesse razão, quando por detrás, esfregava as mãos para ocupar o seu próprio lugar. O criador foi traído, numa ratoeira perpetrada pela criatura! Antes que a Renamo descubra esta traição consumada, é preciso procurar novo foco de atenções e, neste caso, o sorteio caiu sobre a OJM. O respeito ao que é alheio e o trabalho são premissas indispensáveis. Contrassenso, alguns pautam por inundar Jornais de calúnias contra a Frelimo, e estas calúnias manifestam-se na imprensa diária. E fazem destas calúnias um programa político quando o criticado trabalha em vista a garantir a boa colheita.


A importância destas difamações é amplamente demonstrada nas falácias dos moralistas da nossa era, ou seja, os iluminados. Se num jornal aparece um artigo «desguebuzando …. qualquer coisa », o caso não tem nada de ridículo, mas antes de muito sintomático. É preciso considera-lo como uma tentativa formal dos lunáticos para se aproximarem da verdade e da franqueza, fugindo ao mesmo tempo da sua dupla hipocrisia: afastarem-se da Renamo ao mesmo tempo que abraçam os ideais daquele partido militarizado. Precisamos de nos defrontar com  uma moral MDMista que se apresenta com o disfarce da honestidade e observância dos bons costumes, quando realmente, no seu interior, está completamente podre. Articulistas como Amosse, Américo, Mablinga, entre outros, desmascararam desapiedadamente a hipocrisia dos que se intitulam democratas. Sim, deveriam sentir-se envergonhados quando se identificam com a paridade, e aparentemente virtuosos, porque não estão amadurecidos para a verdade. A Hipocrisia deles consiste em terem apoiado a actual lei e hoje fazerem-se de adeptos da paridade quando no fundo, quiseram enganar a Renamo para está julgar caminhar ao lado da razão quando, no fundo, querem apoderar-se do vazio deixado pelo pai para, de seguida, proclamarem uma vitória hipócrita como segunda força política. Seria necessário que nesta centúria os desertores da Renamo se sentissem amadurecidos para a democracia, em consequência das nossas experiências vividas e descobrissem que o seu verdadeiro inimigo são seus apetites políticos. A Renamo foi traída a partir de dentro e resta-lhe um único caminho: definhar-se nas matas e esperar pelos dias subsequentes a 20 de Novembro.

Romper com a dupla hipocrisia do MDM é uma urgência. Significa acabar com o conceito de que esta força ocupa uma posição vantajosa, tolerando-se-lhe o que se costuma proibir ao partido no poder com a ameaça de pena de morte a este último.  O conceito de respeito às diferenças políticas exige uma resposta sincera e decisiva: sim ou não à calúnias infundadas. Nada de divagações. Requer uma tomada de posição em que reconheça ao partido no poder o seu direito de fazer política segundo os seus ideais. O MDM foge da sua responsabilidade, numa maratona coberta de hipocrisia para sufocar a Renamo. E os resultados estão à vista de todos. Com respeito ao especialismo tema da politica de hoje, urge uma resposta. Porque só agora a paridade interessa ao MDM? Seria presunção procurar respostas para todas as questões não postas. Em todo o caso, parece deslocado aconselhar, sobretudo a este partido, sobre o modo de encarar a sua vida política, falar-lhe  do significado da democracia e da responsabilidade, quando possivelmente nele se desconhecem coisas tão elementares como o respeito as diferenças e a não interferência nos assuntos de outros partidos. A Renamo está a cair. Tal é a sorte de um castelo edificado na areia. Em parte, por culpa própria, em parte porque o destino não se escolhe.

Pedro MAHRIC

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

A paciência de ouvir os tolos é uma virtude

No dia 24 de Agosto, Tomás Queface fez um post no qual mostrava-se indignado com a minha pessoa. Dizia ele: «Se eu fosse moderador deste grupo, bania o Eusebio Gwembe com vista a recuperar o debate de ideias racional, objectivo e sobretudo produtivo». E teve 18 likes! Os seus ataques continuaram a fazer eco nos comentários que foi fazendo aqui e ali. Mas ele não estava sozinho nesta campanha, muito menos que a sua indignação era em face de eu ser o sabotador do grupo. Não! Ele sabe que eu sei o porquê só agora ele se indignou. Ele faz parte de uma coligação, uma liga de intolerantes para com a opinião diferente; uma liga dos que destroem para reconstruir as mesmas coisas que dizem combater. Pouco antes dele, já havia sinais de nervosismo por parte de outros elementos da liga em face das denúncias que fui fazendo e alguns post, que gentilmente os denunciei ao Facebook como spam, já  eram sintomáticos desta impaciência a que os meus adversários ideológicos se viram votados, lançando as penúltimas pedras do bolso. Até me acusaram de estar a fazer a campanha em nome do seu partido e que o meu plano era sabotagem a mando das orquestras da Pereira do Lago. Que desnorte! E até me ofereceram um imaginário orquestrador, melhor, mandante para este plano de sabotagem. Não leram os sinais dos tempos!
Imagino que seja fácil para a liga dos paladinos da democracia esmagar um homem como eu, mas também conheço os deveres de quem pode morrer a defender a sua causa. Vi os defensores da liberdade intelectual vencidos pelo infortúnio ou pela calúnia, pela baixeza de princípios ou pela inveja, mas os seus tratantes também não tardaram encontrar o cerco, porque os seus princípios partiam do simples desejo de assassinato de carácter. Eu não deixarei os meus adversários ideológicos degradar a minha alma e debilitar as minhas virtudes – que não são poucas – com uma heresia maligna! Não, moçambicanos! Não, democratas desta década! Não me posso ajoelhar aos que pretendem inverter a verdade das coisas; aos que manipulam a opinião pública com ajuda da imprensa dos 10 milhões! Não se pode defender a algema das palavras, por mais insensatas elas pareçam. Não se pode mandar calar, ou expulsar um indivíduo apenas porque revelou os nossos planos ocultos. A paciência de ouvir os tolos é uma virtude. Quero-vos pedir que apagueis das pedras tumulares esta máxima sacrílega que cobre todos os que pensam diferente com um manto fúnebre e lançam insultos de intolerância. Eu creio na soberania intelectual ainda que seja tratado como escravo e recordo-vos que onde não reina a justiça nas atitudes e nas palavras, reinam as paixões dos magistrados e que com esta posição só revela que o povo pode mudar as grilhetas mas não o seu destino.
Existe no nosso seio uma liga de tratantes que orquestra, a luz da vela, esquemas de assassinato de carácter aos que pensam diferente. E são os mesmos que se dizem preparados para tomar o poder. Não me deixarei enganar por palavras pomposas de que trata-se da defesa da racionalidade. Não me deixarei levar pelo beijo da traição que a todos arrasta. Há uma liga de tratantes que luta contra a virtude pública e que tem uma influência maior do que eu sobre a minha própria independência e que me proscreve individualmente na pessoa de todos os maus cidadãos deste grupo. Em vez de eu sacrificar as ideias dos outros pela minha felicidade, os meus adversários desejam sacrificar as minhas e me chamam de autor de todos os males  e o único obstáculo à prosperidade do debate.
 A postura de Tomás – que não é apenas opinião individual como alguns avançaram nos seus comentários –  só mostrou e confirmou que nos dias que passam, em que a verdade luta para ser reconhecida, os gritos do patriotismo oprimido serão chamados gritos de sedição e que todo aquele que se atreve a atacar-me, não será proscritos individualmente, mas em bloco que forma a liga dos tratantes, a liga da intolerância; a liga dos intolerantes na sua luta para preservar os lugares ao sol. Foram mais de trezentos comentários em que parte dos comentaristas filiou-se a um grupo de ambiciosos a organizar a sua tirania. É este o império dos tiranos armados com palavras pomposas contra mim e contra todos os que vieram em meu socorro. É esta a influência da sua liga com homens corruptos em ideias, sempre inclinados ao mal que consiste em elevarem-se a custa do silêncio dos outros. É o espelho da oposição, não necessariamente uma oposição política, mas uma oposição aos defensores do regime.
Hoje impõem-me a lei do silêncio para me obrigar a trair os meus princípios. E são muitos! Deverei subscrever esta posição? Não! Defenderei os meus princípios correndo o risco de ser vítima deles! Eles que vão para o cadafalso pelo caminho de banimentos e, e eu pelo caminho da virtude. Deverei dizer que tudo está bem? Deverei continuar a louvar, por força do hábito ou da prática, aquilo que está errado e que põem em perigo a nação cujo passado conheci? Contribuiria para arruinar o país. Deverei revelar os abusos escondidos que acontecem nas chancelarias? Deverei denunciar os vendedores da desgraça do país? Dir-me-ão que estou a prejudicar os esforços da oposição na construção de um Estado de Direito quando se sabe que esta não tem nada de algum princípio sobre Estado de Direito em que a tolerância faz parte. Dir-me-ão que estou a tentar adquirir influência pessoal às suas custas. O que deverei fazer? O meu dever! Que objecções podem ser levantadas a quem deseja dizer a verdade escondida e aceita entregar a cara por isso? Digo, pois, que existe uma conspiração contra o Governo de Moçambique; que esta conspiração é financiada por algumas embaixadas; e que ela deve a sua força a uma coligação de individualidades bem posicionadas na oposição que urdem intrigas até no seu próprio seio; que esta coligação tem cúmplices internos e externos que entraram neste pernicioso esquema; que a coligação assim formada tenta arruinar todos os patriotas e a pátria; que o primeiro passo é desacreditar todas as instituições que a Frelimo, sobretudo, com muito esforço edificou.
Qual é o remédio para este mal que se chama intolerância? Denunciar os tratantes; renovar as acusações, expurgar a própria oposição e subordina-la aos interesses da nação e erigir sobre as suas ruinas o poder da justiça e da liberdade de os moçambicanos serem donos de si mesmos. São estes os meus princípios. Se for impossível defendê-los farei o meu retiro, mas não que deverei ficar calado, quando algumas organizações estão na posse do dinheiro pronto a ser empregue para a compra de votos;  quando algumas associações estão na posse de dinheiro para compra de objectos de deserção política; quando há lobbies no exterior coleccionando tudo o que podem para virem entupir a mente dos moçambicanos de que eles é que são os próximos salvadores. Não! Não trairei a minha consciência por causa da intimidação barata. Estas denúncias dos planos ocultos continuarão com maior vigor até que todo o mundo saiba e se convença deque há uma tirania a ser organizada em Moçambique; e que os seus porta-vozes, espalhados pelas redes sociais, tudo fazem para a defender ou fazer vista grossa; que há um plano oculto de perseguir todos os libertadores da pátria, quando o poder lhes escorregar das mãos; que em face do efeito angolano que agora chegou ao Zimbabwe no qual a oposição está a desaparecer por si própria, a liga dos tratantes desenvolveu mecanismos de autodefesa inventando tudo o que podem, para desacreditar processos políticos do país; que a Frelimo protegeu os seus membros por causa do dinheiro a que fiz alusão que serviria para comprar consciências daqueles que tem carne fraca. É isto que se impõe denunciar e é isto que irrita pessoas como Queface! Tenho dito.
____________________________________________________________________________________
Se eu fosse moderador deste grupo, bania o Eusebio Gwembe com vista a recuperar o debate de ideias racional, objectivo e sobretudo produtivo.
See translation


segunda-feira, 22 de julho de 2013

O princípio de Paridade: um perigo para a Democracia em Moçambique

Observam-se esforços convulsivos, por parte da oposição e dos seus agentes na imprensa dita «livre», no sentido de encontrarem os argumentos políticos ideais em defesa da Comissão Nacional de Eleições (CNE). Desses argumentos, destaca-se particularmente o princípio da Paridade, defendido pela Renamo, segundo o qual a CNE deve compor-se de membros de partidos políticos com assento parlamentar em igualdade numérica. A falsidade e a hipocrisia de tal argumento, repetido em milhares de formas na imprensa oposicionista, são evidentes para todos os que não querem atraiçoar o princípio fundamental da democracia: a proporcionalidade. Temos três partidos políticos na Assembleia da República entre os quais dois estão na oposição. Suponhamos que haja uma CNE composta por 15 membros. Ora, seguindo a paridade, à partida, a soma dos dois daria uma vantagem numérica à oposição, isto é, no cenário em que cada partido possua 5 membros, a oposição teria, no conjunto, 10 membros contra 5 da Frelimo, uma espécie de batota. Mas o problema de fundo não está na maioria ou minoria numérica quando se sabe que não é na CNE que se ganham eleições. Beira e Quelimane estão nas mãos da oposição sem nenhuma paridade!

Em primeiro lugar, o argumento da paridade é usado com certas interpretações sem indicar concretamente a que se refere. Uma tal postulação, deixando de fora a questão numérica, é uma chacota directa à doutrina fundamental da democracia, nomeadamente à doutrina da proporcionalidade, que os ditadores que se passaram para o lado dos democratas reconhecem quando falam, mas esquecem quando agem. A defesa de um princípio sem pernas para andar só mostra que eles não estão interessados na democracia e, parece muitos seguirem cegamente. Não está no interesse da Renamo lutar pela democracia muito menos pela fortificação dos partidos da oposição. Existem, no país, mais de meia centena de partidos políticos legalmente instituídos e várias organizações da sociedade civil cujos interesses estarão fortemente ameaçados caso o princípio da Paridade seja adoptado.

A História da democracia moçambicana ensina que nenhum processo eleitoral foi democraticamente aceite pela perdiz que hoje destrói aquilo para que jura ter lutado durante a longa noite dos 16 anos, na sua violenta e insana resistência durante a qual não hesitou em recorrer a qualquer acção, tal como nos demonstrou na história recente do Moxungue. A Renamo, cujos interesses são agora defendidos pelos seguidores da oposição que esperam colher espólios da desordem e abraçam a causa da paridade, conquistou o seu reconhecimento à custa de uma série de revoltas e sangue que deram ao povo muito sofrimento ainda não totalmente esquecido. Nos seus panfletos, na resolução dos seus congressos e nos seus discursos de propaganda, já explicou ao povo, milhares e milhões de vezes, a natureza da sua luta. Assim, a actual defesa da paridade sob a forma de chantagem contra o Governo visa forçar este a comprar a estabilidade. Por outras palavras, se o Governo for intransigente, ela, fazendo uso da sua reserva militar, ataca e mata civis, divide o país, condiciona a circulação esperando que o Governo compre a estabilidade, custe o que custar. Quem defende esta forma de fazer política trai os alicerces da democracia e deita abaixo os pilares da construção do Estado de Direito a favor do qual todos somos chamados a defender. Os actuais gritos e lamentos contra o regime sob a forma de clamores a favor do Estado Democrático, são uma chacota à Democracia e representam, na realidade, uma merecida passagem para o lado dos ditadores e a negação, ao Estado, do direito à sua própria revolução. São uma defesa do reformismo partidário, no preciso momento em que este reformismo está em colapso.

Em segundo lugar, todos os defensores que explicam a natureza da paridade estão a expressar a ideia que eles próprios expressaram com maior exactidão quando disseram que a CNE estava partidarizada. Não há um único democrata nem um único lúcido sincero entre aqueles que agora clamam contra a CNE que reconhece esta verdade fundamental da democracia: a Frelimo teve uma maioria absoluta e possui a legitimidade para aprovar leis para acções presentes e futuras e defender acções passadas. E agora, quando ela começa a agir e movimentar-se para a destruição desta maquinaria da partidarização da CNE apostando no maior envolvimento da Sociedade Civil, alguns colocam a situação como se a Renamo estivesse a dar aos moçambicanos a democracia pura, como se a Frelimo estivesse a abandonar a resistência e pronta a submeter-se à minoria parlamentar, como se numa república democrática não existisse causas a defender.

Os democratas sinceros sabem muito bem que a expressão Paridade da CNE, mesmo na mais democrática das repúblicas burguesas, é uma frase vazia de sentido. A Renamo chamou paridade o direito dela estar em igual posição em relação à Frelimo, partido de quem recebeu tetra-derrotas. A Renamo chamou Paridade o direito de os partidos políticos dividirem entre si as riquezas do país. Quando fala da distribuição da riqueza não o faz em prol do povo mas olha para o seu umbigo. Com que legitimidade ela a Frelimo devem dividir entre si as riquezas de todos os moçambicanos? A paridade na riqueza nacional é subversão das coisas. A Renamo pretende moldar a chamada opinião pública para se apoderar, por via de força, do poder e da riqueza. O primeiro passo foi apagar da cena política o MDM para, de seguida, virar as baterias contra o arqui-adversário de sempre. E os acontecimentos revelam-nos que os defensores da democracia pura são, na verdade, os defensores do sistema mais sujo e corrupto de domínio dos partidos políticos sobre os meios de democratização das massas.
Enganam o povo com frases agradáveis, sonantes e bonitas mas totalmente falsas, tentando dissuadir as massas da tarefa histórica concreta de libertar a CNE dos partidos políticos que assumiram o seu controlo. A verdadeira CNE apenas existirá na ordem estabelecida pela Sociedade Civil, na qual será impossível ser árbitro da própria causa, onde será impossível sujeitar directa ou indirectamente os seu membros ao poder da influência, onde não haverá obstáculos que impeçam nenhum partido de usufruir e até concretizar o direito igual ao uso da CNE para ganhar eleições. O resto, são manobras dilatórias de quem jurou não ir às eleições e tudo fazer para que os outros também não o façam. Devemos, como um povo, rejeitar a resistência violenta de uma força política em vias de perder o seu domínio político. Segue-se, pois, que a paridade é um princípio de grandeza moral coberta de aço mas com pernas de barro. A qualquer humidade vai derreter e não conseguirá andar.