İzmir, Türkiye.
Pode ser que não conheçamos as causas da guerra, mas temos o direito de conhecer as razões da paz da qual somos construtores. Quando no calor da Primeira Guerra Mundial, o Jornalista e escritor Herbert George Wells escreveu “The War That Will End War” ("A guerra que irá acabar com a guerra") estava convencido que a guerra era um meio para alcançar a paz. Entretanto, depois da “guerra para acabar com a guerra”, o que se conseguiu em Paris foi uma “paz para acabar com a paz”, como desanimadamente constatara o Marechal de campo, Archibald Wavell. Afinal, o que era podre não era a paz vivida entre as duas guerras. O que tinha sido podre era o acordo do Tratado de Versalhes, que definia os termos da paz, sem discutir as causas da guerra. A paz tinha sido uma surpresa aos derrotados que ainda acreditavam na justeza das causas da guerra. Incrédulos, assistiram ao fechar dos tratados da paz, cujo conteúdo desconheciam.Abriram-se na nossa frente as portas de um novo ano. Será um bom ano o que vamos viver? Ninguém poderá responder a esta pergunta que muitos milhões de homens e mulheres ansiosamente fazem na hora conturbada em que desesperadamente se debatem para conservar os bens materiais e espirituais que acumularam com sacrifícios sem conta. Um telefonema mágico devolveu-nos a esperança em 67 dias melhores, o que mais de centena de reuniões não fora capaz. Mas, se a história se repete, será que há motivos para tanta esperança? Não será mais uma pausa para um recomeço? Gostaríamos de estar enganados! Os sofrimentos que continuam a pesar sobre os que viveram as arbitrariedades da guerra impõem-nos que, em especial, dirijamos o nosso pensamento para eles, porque, apesar de tudo continuam resistindo com inexcedível firmeza aos ataques de que é alvo a sua dignidade de humanos. Aos defuntos, até breve, quando os algozes e vítimas estarão frente a frente. Como falar de trégua sem recordar as vítimas inocentes que pedem justiça? Apesar de tudo... Temos fé e aguardamos com esperança que Deus proteja os moçambicanos que através do país trabalham enaltecendo-O e servindo-O, e que bem merecem pelas suas virtudes e obras viver tranquilos e felizes. Nós não gostaríamos de repetir com Jó “por que motivo os bons sofrem”.
Num mês como este, é natural que se lance um olhar retrospectivo sobre o passado e que se perscrute interrogativamente o futuro. Quanto ao passado, que ano cheio de acontecimentos foi para Moçambique 2016! Como esquecer o 13º, as sanções camufladas em dívidas ocultas, os raptos de albinos e de empresários, a crise política, os refugiados, os esquadrões de morte, as explosões de combustível na Matola e em Kaphiridzanje? Páginas ingloriosas que permanecerão inscritas em letras de oiro nos factos da nossa História e nas nossas memórias. Infelizmente, porém, também na vida dos povos, assim como na dos indivíduos, há alternativas frequentes de sombra e de luz. Pelo que respeita ao futuro, que nos seja permitido formular o voto de que Moçambicanos possam resolver as suas dificuldades no plano de uma compreensão fraterna, valorizando o que lhes une. Que os novos amigos com a mágica fórmula da paz não sejam sabotados nem se deixem sabotar, quer por políticos quer por intelectuais internos e externos.
A paz é benéfica para todos, mesmo para aqueles que apelam a "guerra para acabar com a guerra". Nas últimas sete décadas, a humanidade testemunhou que é mais fácil construir uma paz efectiva a partir de uma paz podre e que as guerras raramente trazem a paz. Pelo contrário, elas destroem o que a paz construiu. O país tem uma suprema necessidade neste momento: a de que todas as forças vivas que têm o culto dos valores morais colaborem para os defender de trágicos perigos. Que devolvamos ao Parlamento a soberania do Povo para que os problemas da nação sejam ai discutidos. Queira a Providência, que vela sobe os destinos dos povos, que, após tão dolorosas experiências do ano findo, possamos chegar a feliz conciliação da ordem e da liberdade, na qual reside o segredo do bem-estar dos povos, síntese que era o ideal político dos fundadores desta pátria. Que os 67 dias não sejam uma pausa para o recomeço, mas o começo de uma caminhada numa situação de paz armada, na impossibilidade de melhor se conseguir, que permitirá (é necessário ter fé) viver e preparar com o tempo o bom entendimento entre nós. Só então, os moçambicanos poderão atingir a desejada paz.