Um categorizado
frelimista que tem uma grande simpatia pela nossa história, perguntava-nos aqui
há tempo porque é que o nosso Partido se ocupava mais com a sua causa do que
propriamente com o combate oposição que é necessário derrubar. A razão é
simples e só não convencerá aqueles que se não quiserem convencer. A oposição demagógica
proclamada em 1992, consequência natural de seu passado destruidor, encerra em si tais germes de destruição que outra coisa não tem
feito do que aniquilar-se a si própria. A massa frelimista é hoje incomparavelmente
maior do que em 23 de Outubro de 1994. Porquê? Porque a oposição se tem
encarregado de demonstrar o absurdo das suas afirmações e o desastre que
representa a sua existência. A Renamo combate o MDM, o MDM combate a Renamo, o
PDD combate o PIMO, o PIMO combate o Partido Ecologista, o MDM combate-se a si próprio.
A oposição é, portanto, a melhor organização de combate à oposição que podemos
desejar. Neste capítulo, a Frelimo nada tem a acrescentar.
Está dando
que falar um pronunciamento que um futuro antigo membro do Comité Central de um
partido, ultimamente prestes a cair em desgraça, veio contar cá para fora o que
se passava lá dentro enquanto não estavam de nucas apontadas com o chefe, como
estes criados despedidos que, em se apanhando na rua, vão logo de porta em
porta, ofendidos e queixosos, explicar o motivo melindroso porque saíram. O autor
da fala pertence ao número dos “de costume” inculcados a nação por essa espécie
de agência “avícolas Lda” que se chamou galináceo. Tendo falhado, como estes,
como outros, como todos os que insultam o regime do dia, vem agora a futrica
explicar o desastre do seu malogro, dando a entender com razoes de mau actor
que se não representou melhor foi porque não deixaram – isto em 12 longos minutos
da mais saborosa intriga, em que há visões de tudo, desde a da venda do terreno
da igreja a um amigo da escola ate a de um chefe rodeados de melhores advogados
do roubo ruminando infâmias.
A fala
fez escândalo e, segundo o declara, cava e profundamente, o Jornal Magazine Independente,
está destinada a imprimir um grave solavanco no sistema dinástico vigente no Chiveve.
Diz-se que o galinho estará de malas feitas para o mato. A concretizar-se o que
o respeitadíssimo Jornal escreve, estaremos diante de um espião que as aves do
mato conseguiram fazer infiltrar-se na capoeira. Com um galinho de tanto fôlego
como é o actual naquela capoeira, afigura-se-me ousado predizer-lhe o fim. Esforços
convulsivos se fizeram. O galo fez uma viagem ao Sul, quebrando o costume, a fim
de pedir conselhos do único filósofo do grupo. Quando, porém, o sistema linhageiro
não soçobre sob o peso das inconfidências do seu antigo servo, o que já não é possível
evitar, é que ele fique exposto, enquanto vivo for, à afronta permanente da opinião,
dessa opinião de que todos desdenham, mas que no fundo todos temem.
Dizem certos
jornais que o autor do tiro da divisão levantou uma ponta do véu. Levantar a
ponta de um véu é praticar uma acção discreta e o que ele fez foi mais decisivo:
rasgou-o, o que expõe d’ora avante a dinastia e o poder à uma vida devassada,
como inquilinos da capoeira obrigados a viver nela sem portas e janelas. Resumindo,
também são corruptos. Esta mesmo foi a única utilidade do escândalo. Assim, o dono
da capoeira já sabe daqui para o futuro como conduzir-se. Um conselho genérico!
Quando tiver em mãos correspondência privada de algum dos seus súbditos e queira,
no uso das suas prerrogativas, viola-la, como o fez com tanta finura nos e-mails
denunciados, procure refugiar-se em lugar escuso de sua casa e feche-se por dentro,
porque do contrário será surpreendido. Nós estamos a ver. Quando houver de
revelar-se, seja prudente, parco de palavras, sóbrio de gestos. Quando tenha de
falar da má governação dos outros, volte para a parede. Não esqueça nunca que o
estamos a ver. Cautela, muita cautela! As portas estão abertas. Pelas janelas vê-se
tudo. Cautela com o que dizem, cautela com o que fazem! Conspirem, mas dissimulem,
atraiçoem, se absolutamente lhes for mister, mas finjam sacrificar-se, quando irresistivelmente
algum houver de encafuar a mão nas profundezas do erário, faça-o de forma que não
se veja, faça-o com rapidez, seja presto, porque do contrário será apanhado ao
retira-la de dentro. Numa palavra, muito olho. Tal a moralidade que os verdadeiros
interessados devem tirar do escândalo da capoeira. Aqui estão duras verdades
que quase toda a gente diz baixinho e que nós temos a coragem de dizer alto,
porque temos a certeza de que assim é que se serve utilmente à nação.