segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Carta ao meu candidato (3)

Carta ao meu candidato (3)

Senhor candidato! Ao ver os vícios que a torrente da campanha misturou indiscriminadamente com as virtudes cívicas, tremo com medo de parecer manchado aos olhos da posterioridade, se não disser o que penso. Quero evitar o impulso de viver apenas para o presente, pilhando, para a minha comodidade e conveniência, os preciosos recursos do amanhã. Escrevo esta missiva na esperança de que vos encontre de boa saúde, nestes últimos dias de campanha eleitoral em que homens perversos se insinuaram nas fileiras dos sinceros defensores da democracia. Atribuem-se a si próprios atributos sagrados, unicamente reservados para os profetas das escrituras quando a única coisa que lhes interessa é dividirem o país como um saque em vez de o tornarem livre e próspero. Sei que vindes a inscrever o vosso nome nas páginas da nossa História como militante insigne da Frelimo, que cumprirá abnegada e corajosamente as missões que lhe forem confiadas, juntando-se ao grupo de homens e de mulheres cuja história de vida será ensinada nas nossas escolas.

Peço-vos, porém, que façais o possível para que os moçambicanos de todas as fés e ideologias possam ver satisfeitas as suas grandes necessidades humanas: comida, educacão e saúde; para que todos aqueles a quem a oportunidade é hoje negada possam vir a desfrutá-la integralmente; para que todos os que têm vida fácil compreendam também as suas pesadas responsabilidades para com os que vivem as privações da vida. A união, com honra e confiança mútuas, é um imperativo contínuo e juntos, temos de aprender a harmonizar as nossas diferenças. Sendo a vitória a necessidade tão premente e óbvia, confesso que não posso deixar de apontar alguns assuntos também prementes e óbvios. Não obstante a roda do destino e o impulso da vossa determinação avançarem em direcção ao objectivo final – a vitória –, deveis aumentar o ritmo das mensagens para que já nada a possa parar. A manifestação do povo não deixa margens para dúvidas que sereis o seu próximo líder. Só as mentes amolecidas por ilusões televisivas e televisionadas e pela pura ignorância do que move o povo a tomar uma decisão para sua própria vida podem pensar de outra maneira.

Senhor candidato, tendes que aumentar as frentes de combate nas mensagens e mostrar a vossa determinação em combater a corrupção, o compadrio, o nepotismo sob todas as suas formas e manifestações. Tendes de incidir no «como» haveis de fazer para solucionar, com brevidade, os problemas de pensões daqueles que estão à beira da morte, de construir casas dignas para os funcionários públicos e não só, de criar mais escolas de formação profissional, de melhorar os serviços sanitários e educacionais. Tocai o coração do professor que lecciona numa sala de aulas precária, à senhora que não trabalha e não têm dinheiro para corromper a parteira do hospital, ao rapaz rural que deseja ir a Universidade mas não tem dinheiro para ir à privada nem consegue passar pelo exame de admissão para a pública por este ser elaborado pela gente da cidade. Falai de como as universidades nacionais podem participar na educação dos moçambicanos e serem elas próprias o factor da Unidade Nacional. Não vos esqueçais de que tendes expressivo apoio feminino. Por isso, falai das preocupações femininas, que são tantas. Tocai o coração da mulher enviuvada que se viu despojada de tudo o que construiu com o esposo em vida; falai das injustiças a que os pobres são votados nas nossas cadeias onde o ladrão de galinha apodrece enquanto o assassino recebe clemência pelo bom comportamento.
 Se vos lembrais, senhor candidato, na minha primeira carta falei de dois desafios de vulto: o desemprego e os sete milhões. Vede como os vossos opositores se aproveitam deste último legado de Guebuza, porque se aperceberam que o povo gostou. Tenho constantemente utilizado a expressão que aprendi há uma década e meia: em Moçambique há que chegue para todos. Há que se criar emprego para todos os que podem trabalhar segundo as suas qualificações o que requer que se crie, no mais breve trecho de tempo, centros de desemprego – e porque não fundo de desemprego. Com eles, poderíamos estar em condições de saber mais sobre os desempregados do nosso país e direccioná-los, conforme os dados, às empresas públicas e privadas ou, num caso inverso, as empresas e indivíduos interessados em contratar alguém dirigir-se-iam a estes centros para a contratação do seu pessoal. Mas ainda são ideias embrionárias, senhor candidato, para que os flagelos da pobreza, da doença e da ignorância sejam varridos da face do nosso país. Vós sois o herdeiro da primeira Revolução da Frelimo para quem foi passada a tocha nascida no século passado, temperada por duas guerras, disciplinada por uma paz dura e amarga e orgulhosa da sua antiga herança. Mostrais que não permitireis a lenta destruição da dignidade humana com a qual este partido sempre se comprometeu e com os quais vós também vos comprometeis hoje em todo o país.

Façais saber a cada moçambicano, quer vos deseje bem ou mal, que pagareis qualquer preço, carregareis qualquer fardo, enfrentareis qualquer provação, apoiareis qualquer amigo e opor-vos-eis a qualquer inimigo do progresso para garantir que os moçambicanos vivam com dignidade, com um emprego garantido, de modo a que tenham casa digna desse nome, alimentação digna desse nome, vestuário, educação, saúde e transporte de qualidade e vivam em segurança. Para a materialização disso deveis contar, sem dúvida, com os órgãos autárquicos para quem deveis, desde já, dirigir a vossa mensagem de colaboração. Aos partidos da oposição, cujas preocupações compartilhais, prometei a lealdade e colaboração na competência porque unidos é muito pouco o que não poderemos fazer no quadro de inúmeros projectos de desenvolvimento; mas divididos, desavindos e afastados, pouco podemos fazer. Embora não espereis que apoiem sempre os vossos pontos de vista, deveis  esperar vê-los defender resolutamente a sua própria liberdade e tirar dela as lições necessárias a serem incorporadas no vosso compromisso.


No quadro dos sete milhões, será urgente rever os métodos da sua distribuição e traduzir o belo compromisso em actos, numa nova aliança pelo progresso do distrito, qual pólo de desenvolvimento, auxiliar os homens e governos distritais a libertarem-se das grilhetas da corrupção. Mas esta pacífica revolução de esperança não deve excluir vários actores políticos e sociais locais e nacionais nem pode tornar-se presa de partidos dominantes. Voltarei a falar da minha proposta na próxima carta, uma proposta concreta, senhor candidato, para que todos os nossos vizinhos políticos saibam que nos juntaremos a eles para nos opormos aos factores do atraso, sem contudo que a Frelimo deixe de ser dona do seu próprio hemisfério. A nossa última e melhor esperança numa era em os pobres são uma ameaça a estabilidade dos ricos é o povo. Deveis criar condições que impeçam a que ele se torne um mero campo de ensaio dos ambiciosos. Comecemos, pois, de novo, recordando-nos de que ter adversários políticos a nosso lado não sinal de fraqueza. Exploremos os problemas que nos unem, em vez de repisarmos constantemente os que nos dividem, formulando, pela primeira vez, propostas sérias e detalhadas de como expulsar a pobreza do nosso solo. 

domingo, 5 de outubro de 2014

Votar em Filipe Nyusi

Vou votar para eleger Filipe Nyusi e a Frelimo

A eleição de Filipe Nyusi nestas eleições justifica-se plenamente quando se completam 50 anos sobre a aparição do tiro da Frelimo, que tornou independente o povo moçambicano. A eleição de Nyusi justifica-se pela coerência do seu programa que foi decifrado até que os seus críticos compreenderam estarem diante de um homem com princípios próprios. Nyusi é, em si, o novo protagonista da nossa proxima década. Certamente, há outros, mas nenhum deles tem tanta importância diante do povo, nenhum deles interagiu com o povo, nenhum deles fez do povo a sua inspiração, pela simples razão de que a partir da sua acção nada mais foi para edificar o Estado senão a luta pela sua destruição, reduzindo-o, por vezes, ao nada. Eles, em vez de dizerem ao povo o que vao fazer para o tirar da pobreza repetem o que o povo ja vive: voces sao pobres. Afinal, quem vive a pobreza nao precisa que se lhe informe da pobreza, mas da vias para fazer riqueza. E o povo sabe, quem de facto falou com sinceridade das intenções. A sua filosofia de vida é uma escola suficiente para não se deixar enganar, nem pelas fotografias nem pelos gritos de «o povo está cansado». Seria pernicioso e lamentável que as gerações nascidas antes de 1992 fossem governadas por outros, que não a Frelimo. Seria mau para todos nós que o poder fosse entregue a quem fez do ódio a sua agenda política.

Nyusi, pelo conhecimento que tive dele, não só como funcionário dos Caminhos de Ferro de Moçambique e como Ministro da Defesa e, ainda, porque tive o privilégio de privar com seus colaboradores, é um homem que valoriza mais o lado humano nas suas relações, sem se impor. Faz bem uso dos ouvidos e da boca, sabe escutar antes de falar. Não foi por acaso que foi andando pelo país a fim de receber conselhos daqueles a quem pretende governar. A sua visão e o seu compromisso são o resultado das contribuições do povo. Por isso, os moçambicanos têm a oportunidade de o colocar na galeria dos poucos políticos moçambicanos sinceramente interessados em promover o seu bem-estar. Não a esses outros que desperdiçam o tempo tirando piadas em momento como este, só para anestesiar os incautos e distraídos sobre a ausência da agenda alternativa. E quando o povo grita, fingindo-se alegre, saem felicíssimos e convencidos de que a causa não dita foi compreendida. É tempo de pensar o país e não em tribos. Não me furto a citar o que um partidário da oposição afirmou dizendo que «agora é a vez dos Ndau, os verdadeiros donos do poder», aliás, Augusto, o meu ilustre amigo MDmista, é também pela mesma opinião. A resposta de Nyusi aos bárbaros ataques verbais que se lhe dirigem é compreendida e apoiada pela quási totalidade dos moçambicanos. Ele não precisa insultar os outros muito menos rebaixá-los para se elevar. Apresenta o seu programa, a sua agenda e o seu compromisso que também é do povo que o deu corpo.

Durante a minha estada na Academia Militar, soube que Nyusi é lembrado com respeito, carinho e consideração por ter devolvido ao exército a dignidade que perdera e por ter cumprido fielmente com as orientações do Presidente Guebuza, o maior intérprete da nossa era que retirou Afonso Dhlakama do abismo para o qual o MDM o tinha colocado. Não resisto a contar sem pormenores, a minha deslocação a um dos distritos do Norte, há alguns meses, na qualidade de responsável por uma equipa de pesquisadores da Universidade Pedagógica de Moçambique. Essa deslocação e estadia prolongada naquelas regiões, permitiu-me ver «in loco» como a vida dos moçambicanos tem dado passos largos deixando atrás de si rasto de más recordações, em grande medida, causadas por aqueles que dizem querer tirar a Frelimo do poder, e ouvir as perguntas que me faziam sobre «como o novo dirigente vai garantir que os sete milhões cheguem a todos». Comoção, memória, carinho e respeito a Guebuza e ao seu sucessor; sentimentos e reacções nascidas da fúria das armas, da guerra e dos seus efeitos directos e colaterais, foram o mais elevado manifesto daquela gente. Gente que sabe e confia na capacidade da Frelimo a quem chama de «pai». Gente que confia em Nyusi a quem chama “nosso filho”. Gente que aprendeu da sua própria vida que outro Moçambique é possível com trabalho. Gente que não se deixa enganar pelos diplomados universitários que ao invés de contribuírem para a solução de seus problemas começam a ser o problema de suas vidas. Um representante de uma tribo disse-me e com razão que «a comida que vocês doutores consomem, lá nas cidades, é produzida por pessoas como eu». E é a esta gente que a nossa oposição chama de ignorante e que precisa de “abrir olhos”.  

Seria uma loucura criminosa largar o poder à deriva num país tão agitado e desunido. Ninguém, em nenhum momento, deixou de dormir descansado por o poder estar nas mãos da Frelimo. Não acredito que tivessemos podido dormir tão profundamente se as posições se invertessem e um político ambicioso e desonesto tivesse temporariamente monopolizado o poder. O medo que inspiram poderia, só por si, ter sido facilmente usado para impor a tirania, com consequências terríveis de imaginar. A realidade nacional actual impera que cada moçambicano olhe para o que era a sua vida de há dez anos e perspectivar no que poderá ser daqui a outros 10. Na verdade, só a mudança na continuidade pode fazer-nos prosperar porque, caso contrário, se por hipótese caíssemos na aventura de escolher os outros que não a Frelimo, a primeira acção que eles fariam era, sem mais nem menos, cometer o saque dos fundos públicos. Depois, viriam a dizer que a Frelimo saiu e deixou os cofres vazios. A culpa ia morrendo solteira enquanto o povo ia compreendendo as razões da ineficiência governativa. É prática corrente em toda a África, onde a mudança tinha batido a porta. Lá, há ranger de dentes e saudades do Egipto. Espero sinceramente como moçambicano, que seja possível a eleição de Nyusi para que, passados mais 10 anos, estejamos bem melhor do que agora.

Antes de ir ao voto, temos de garantir que a nossa escolha é também a escolha dos nossos filhos, netos, sobrinhos, deficientes, presos, emigrantes. Somente o programa da Frelimo e o compromisso de Filipe Nyusi são materializáveis e não um simulacro; são uma força para acção e não de simples conversa fiada; são um verdadeiro templo do desenvolvimento, cujas paredes serão um dia decoradas com o voto de cada moçambicano. Aos que não gramam da Frelimo, não tenho um compromisso, mas um aviso. Antes de irdes votar e antes de vos desfazerdes do ódio que sentis para com a Frelimo; em suma, antes do vosso voto de vingança, tendes de vos certificar de que o vosso templo vai ser construído sobre rocha firme e não sobre areias movediças ou num pântano. Qualquer pessoa, se tiver olhos bem abertos, verá que o caminho da Frelimo, apesar de difícil e longo, é único materializável. Compreendo que a pobreza e as privações, que são, em muitos caso, a principal fonte de ansiedade, podem levar  o povo a optar pelo voto de vingança. Mas se votarmos na Frelimo e no seu candidato, não há dúvida de que, talvez já no próximo quinquénio e certamente na próxima década, Nyusi e a Frelimo podem proporcionar a este país, que acaba de aprender as lições da guerra, um aumento do bem-estar material nunca antes registado na nossa experiência nacional.