segunda-feira, 15 de abril de 2013

O MDM, da promoção da ociosidade ao culto da personalidade

O presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, mostra ter mais tempo para atender questões partidárias do que questões municipais. Até nos parece ter secundarizado o município da Beira. Trata-se de um ponto em que apenas poderei dizer uma coisa: é que ao nível em que tudo chegou o contrato social em vigor com os munícipes não será escrupulosamente executado e cumprido. Segundo narra o Genesis, Deus disse a Adão, depois do pecado original: tirarás da terra o teu sustento com muitas fadigas todos os dias da tua vida. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto, até que te tornes na terra de que foste tornado, porque tu és pó e em pó hás de tornar. Relevemos esta conhecidíssima citação bíblica que não vem ao acaso porque é desta realidade viva que temos de partir para a construção de uma válida sociedade.

O homem expulso do paraíso, isto é, o homem entregue a si próprio, determinado por seu livre arbítrio, havia de edificar o Mundo em que tinha de viver. Este penoso encargo constitui a história da nossa política e esta, em tempos actuais, a história dos partidos políticos, desculpe-me, a história do papel dos partidos políticos da oposição cuja constituição e fins oferecem, ao longo dos tempos, uma pequeníssima contribuição para o combate à pobreza. Pela mão amável da realidade social, quando Daviz Simango foi expulso do Éden – Renamo – encontrou abrigo e carinho acolhedor na Beira. Interessa, para agora, situarmo-nos em alguns dos seus problemas, de que se ocupa o MDM, entre os quais sobressai o da divulgação da sua imagem, pelo país. E não posso deixar de recordar que nesta maratona, não poucas são as vezes que o movimento tem encarado dificuldades de inserção. Diz-se vítima de vandalizações, suas bandeiras queimadas, seus membros perseguidos.

Não será, porventura, descabido repetir, a este propósito, o que afirmei, há um mês, perante a insistência dos meus amigos de longa data, desejosos de saber a minha apreciação sobre esta aparente realidade de intolerância política. Aí tive ocasião de referir que precisávamos oposição que dirigisse as suas iniciativas e as suas actividades em prol do desenvolvimento e não uma oposição que se converte, a cada dia, em travões de progresso. Aí tive ocasião de referir que algumas das vandalizações são orquestradas pelo próprio MDM para dar a imagem de que está a caminhar numa estrada sinuosa e que a Frelimo era intolerante e a justiça ineficaz. Aí tive a ocasião para dizer que foi esta mesma justiça que declarou a vitória do MDM em Quelimane. Aí tive ocasião para dizer que o desprezo pelas autoridades locais, por mais analfabetas que sejam, constitui a causa da revolta destas que vê nas actividades do movimento uma ameaça, uma vez que declarou guerra, não apenas à polícia e tribunais, como também a Administração Estatal de que aquelas entidades dependem.

Porque será que está sendo rejeitado? É porque a sua progressão é inversamente proporcional ao fim das autoridades tradicionais! Quem poderia colaborar com aquele que, após a vitória, poderá removê-lo? É porque a natureza do trabalho que este movimento tem feito no país, mais do que contribuir para combater a fome, a miséria e a penúria, contribui sobremaneira para a paralisação das actividades de sustento da população. Se por um lado se o MDM condena as reuniões dos membros do partido no poder, por outro mostra-se amante de reuniões. De reunião em reunião o país perde. O moçambicano não precisa que se lhe informe que é pobre; precisa que se lhe informe como deixar de ser pobre, o que até aqui não se fez com honestidade. É útil que o movimento trabalhe para o desenvolvimento do país em vez de ocupar as pessoas dos seus afazeres em nome da organização partidária que, ao fim e ao cabo, apenas contribui só para o culto da personalidade.  

A natureza das suas reuniões tem em vista a autovitimização. Na prática, tudo quanto liberalmente põe à sua disposição carece de sustentação para ser aproveitado para o comum do povo. Até aqui fizeram-se mais reuniões que trabalho e ocuparam-se pessoas, impediram-nas de trabalharem o pó do qual sobreviverão todos os dias da sua vida, porque o trabalho poderá parecer um intruso, por isso colocado no segundo plano como factor de produção e de combate da pobreza. Várias opiniões se têm ocupado desta matéria, mas entre esse labirinto doutrinário o pensamento de perseguição política parece encaminhar-se no sentido de manchar a Frelimo do que trabalhar em prol do desenvolvimento. Já se não nega frontalmente, como diziam alguns, que o poder é o seu objectivo primordial. Poucas questões terão hoje uma tão grande importância como a de definir o valor das reuniões partidárias num contexto em que o presidente do partido é ao mesmo tempo o presidente de um município.

Pensamos nós que o Senhor Daviz Simango tem pouco tempo para atender as questões da Beira, onde foi eleito, depois de amaldiçoado no Éden, e acaba perdendo-se por este vasto Moçambique promovendo reuniões partidárias. Enquanto viaja, os buracos nas ruas da Beira aumentam de tamanho. Enquanto viaja, o lixo toma conta das lixeiras, com os motoristas de camiões a venderem combustível municipal, fruto da ausência de fiscalizador. Enquanto viaja, os charcos transformam-se em pântanos. É urgente que o Engenheiro Daviz Simango tome nota: na primeira ocasião foi eleito não para ser presidente do MDM mas do município da Beira onde deve marcar presença. As suas viagens em missão de serviço partidário naturalmente deixam uma lacuna no município. Quem lhe marca as faltas e a quem ele justifica as suas saídas? Não devia ele trabalhar para o município conforme o contrato social? Estamos perante alguém que, movido pelos interesses pessoais e restritos, consolida aquilo que defende combater.
 
Pedro MAHRIC