O
presidente do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Daviz Simango, mostra
ter mais tempo para atender questões partidárias do que questões municipais.
Até nos parece ter secundarizado o município da Beira. Trata-se de um ponto em
que apenas poderei dizer uma coisa: é que ao nível em que tudo chegou o
contrato social em vigor com os munícipes não será escrupulosamente executado e
cumprido. Segundo
narra o Genesis, Deus disse a Adão, depois do pecado original: tirarás da terra o teu sustento com muitas
fadigas todos os dias da tua vida. Comerás o teu pão com o suor do teu rosto,
até que te tornes na terra de que foste tornado, porque tu és pó e em pó hás de
tornar. Relevemos esta conhecidíssima citação bíblica que não vem ao acaso
porque é desta realidade viva que temos de partir para a construção de uma
válida sociedade.
O
homem expulso do paraíso, isto é, o homem entregue a si próprio, determinado
por seu livre arbítrio, havia de edificar o Mundo em que tinha de viver. Este
penoso encargo constitui a história da nossa política e esta, em tempos
actuais, a história dos partidos políticos, desculpe-me, a história do papel
dos partidos políticos da oposição cuja constituição e fins oferecem, ao longo
dos tempos, uma pequeníssima contribuição para o combate à pobreza. Pela
mão amável da realidade social, quando Daviz Simango foi expulso do Éden –
Renamo – encontrou abrigo e carinho acolhedor na Beira. Interessa, para agora,
situarmo-nos em alguns dos seus problemas, de que se ocupa o MDM, entre os
quais sobressai o da divulgação da sua imagem, pelo país. E não posso deixar de
recordar que nesta maratona, não poucas são as vezes que o movimento tem
encarado dificuldades de inserção. Diz-se vítima de vandalizações, suas
bandeiras queimadas, seus membros perseguidos.
Não
será, porventura, descabido repetir, a este propósito, o que afirmei, há um
mês, perante a insistência dos meus amigos de longa data, desejosos de saber a
minha apreciação sobre esta aparente realidade de intolerância política. Aí
tive ocasião de referir que precisávamos oposição que dirigisse as suas
iniciativas e as suas actividades em prol do desenvolvimento e não uma oposição
que se converte, a cada dia, em travões de progresso. Aí
tive ocasião de referir que algumas das vandalizações são orquestradas pelo
próprio MDM para dar a imagem de que está a caminhar numa estrada sinuosa e que
a Frelimo era intolerante e a justiça ineficaz. Aí tive a ocasião para dizer
que foi esta mesma justiça que declarou a vitória do MDM em Quelimane. Aí tive
ocasião para dizer que o desprezo pelas autoridades locais, por mais
analfabetas que sejam, constitui a causa da revolta destas que vê nas
actividades do movimento uma ameaça, uma vez que declarou guerra, não apenas à
polícia e tribunais, como também a Administração Estatal de que aquelas
entidades dependem.
Porque
será que está sendo rejeitado? É porque a sua progressão é inversamente
proporcional ao fim das autoridades tradicionais! Quem poderia colaborar com
aquele que, após a vitória, poderá removê-lo? É porque a natureza do trabalho
que este movimento tem feito no país, mais do que contribuir para combater a
fome, a miséria e a penúria, contribui sobremaneira para a paralisação das
actividades de sustento da população. Se por um lado se o MDM condena as
reuniões dos membros do partido no poder, por outro mostra-se amante de
reuniões. De
reunião em reunião o país perde. O moçambicano não precisa que se lhe informe
que é pobre; precisa que se lhe informe como deixar de ser pobre, o que até
aqui não se fez com honestidade. É útil que o movimento trabalhe para o
desenvolvimento do país em vez de ocupar as pessoas dos seus afazeres em nome
da organização partidária que, ao fim e ao cabo, apenas contribui só para o
culto da personalidade.
A
natureza das suas reuniões tem em vista a autovitimização. Na prática, tudo
quanto liberalmente põe à sua disposição carece de sustentação para ser
aproveitado para o comum do povo. Até aqui fizeram-se mais reuniões que
trabalho e ocuparam-se pessoas, impediram-nas de trabalharem o pó do qual
sobreviverão todos os dias da sua vida, porque o trabalho poderá parecer um
intruso, por isso colocado no segundo plano como factor de produção e de
combate da pobreza. Várias
opiniões se têm ocupado desta matéria, mas entre esse labirinto doutrinário o
pensamento de perseguição política parece encaminhar-se no sentido de manchar a
Frelimo do que trabalhar em prol do desenvolvimento. Já se não nega
frontalmente, como diziam alguns, que o poder é o seu objectivo primordial.
Poucas questões terão hoje uma tão grande importância como a de definir o valor
das reuniões partidárias num contexto em que o presidente do partido é ao mesmo
tempo o presidente de um município.
Pensamos
nós que o Senhor Daviz Simango tem pouco tempo para atender as questões da
Beira, onde foi eleito, depois de amaldiçoado no Éden, e acaba perdendo-se por
este vasto Moçambique promovendo reuniões partidárias. Enquanto viaja, os
buracos nas ruas da Beira aumentam de tamanho. Enquanto viaja, o lixo toma
conta das lixeiras, com os motoristas de camiões a venderem combustível
municipal, fruto da ausência de fiscalizador. Enquanto viaja, os charcos
transformam-se em pântanos. É urgente que o Engenheiro Daviz Simango
tome nota: na primeira ocasião foi eleito não para ser presidente do MDM mas do
município da Beira onde deve marcar presença. As suas viagens em missão de
serviço partidário naturalmente deixam uma lacuna no município. Quem lhe marca
as faltas e a quem ele justifica as suas saídas? Não devia ele trabalhar para o
município conforme o contrato social? Estamos perante alguém que,
movido pelos interesses pessoais e restritos, consolida aquilo que defende
combater.
Pedro MAHRIC