"...Talvez haja quem não se tenha ainda apercebido, mas a FRELIMO faz o que faz, dinamiza a população no dia-a-dia porque tem uma agenda. Os nossos dirigentes, a todos os níveis, têm uma agenda de trabalho que dá substância e relevância ao diálogo em que se engajam com os nossos militantes e com o nosso maravilhoso Povo. Repetimos, a FRELIMO tem agenda..." - Presidente Armando Guebuza - 24/03/2012
Unida em torno da Renamo, a oposição moçambicana tem em cima da mesa uma exigência que, a nosso ver, é uma miragem: a despartidarização. Nas circunstâncias actuais, despartidarizar as instituições públicas seria um suicídio político para a Frelimo. Aconselhamos a oposição a retirar esta exigência, à partida infrutífera porque assente na malícia camuflada em boas intenções. Quando o povo tirita de frio,
morre de fome, sufoca por não poder respirar o ar livre das instituições
democráticas, eis que a oposição vem exigir despartidarizar as
instituições públicas. Por outras palavras, a Frelimo deve dizer aos funcionários
públicos, seus membros, que deixem de falar dela, não se reúnam e muito menos ousem a usar instalações ali
existentes para suas actividades partidárias. Este pensamento invertido e
alógico é de difícil cumprimento porque a Frelimo não é algo separado dos seus
membros e estes do tempo. Falar da Frelimo é falar dos seus membros os quais a compõem
cujo consenso lhes leva ao desejo de se reunirem. Os partidos que assim o
exigem devem ser pouco dados à Geografia Política que cimentou a política
nacional. Explico-me! A oposição diz que não há liberdade mas tudo se fica a
saber porque tudo ela pôde afirmar livremente. A Frelimo está em metamorfoses,
incorpora resquícios do monopartidarismo com os do multipartidarismo os quais,
digamos, coexistem. Compreender isto exige honestidade política e maturidade de visão.
A quebra brusca desta coexistência
pacífica entre o velho com o novo seria o suicídio político, tão desejado pela
oposição, mas insonhável para quem está nas rédeas da nação. A oposição ou as
várias oposições que até este ponto se excedem levam tranquilamente a vida que
lhes apraz, arrecadam e gozam os seus proventos com mais largueza e segurança
que dantes, elaboram e publicam as suas notícias, servem-se dos canais públicos
e privados para lançar recados adoçados com insultos e ameaças ao governo, sem
que a Frelimo lhes interfira os respectivos estatutos. Assim também a Frelimo
gostaria de ver respeitados os seus estatutos, os quais incentivam aos membros
angariarem mais membros nos seus locais de trabalho. É uma directriz de ouro!
Mas a oposição desvaloriza o que serviu de base para este partido. A oposição
despreza a união dos operários e dos camponeses, descontextualiza e une-se para
ingerência nos assuntos alheios! Mas admitindo, por mera hipótese, que assim
não fosse, bastará uns tantos membros de determinado território político segredarem
na intimidade das suas sedes ou mesmo na praça pública que desejam modificar o
estatuto jurídico-político existente para se dever desencadear o processo da despartidarização?
Ao cabo de meio século de feitos
insignes, de gloriosas conquistas de admiráveis batalhas, ao cabo de cinquenta
anos de uma tarefa incalculável, que tornou o povo moçambicano uma das expressões
mais altas, mais finas e mais merecedoras do espírito nacional, haverá ainda
que perguntar como é aquela Frelimo, como são os seus membros, como é o seu
modo de fazer política, qual é a sua técnica de cativar o eleitorado, quais os
seus serviços à nação e, finalmente, de que maneira compreende a sua convivência
com os simpatizantes de outros partidos, por vezes, com costumes políticos contraditórios?
Não. Basta ler um livro de História de Moçambique para saber a que ater-se
acerca da História da Frelimo. Como toda a obra do Homem, encontraremos falhas,
quebras, erros, mas os frutos e os resultados gerais são de tal natureza que
levam à devoção e ao louvor, não às suspeitas ou às condenações. A Frelimo tem agenda! Escutemos, longamente Guebuza:
"...temos, ao longo deste meio seculo, vindo a forjar e a sedimentar um sistema de principios e valores que fazem de nós uma organização política forte, coesa e gloriosa, uma instituição política onde os seus membros se revem como membros de uma mesma família alargada. São princípios que fazem de nós um Partido de realizações, num mundo cada vez mais complexo, um partido que se reinventa para se reafirmar no firmamento político de um mundo em constantes mudanças"
O que acontece - não temos outro
remédio senão repetir mais esta consideração
- é que a Frelimo se rege por uma determinada agenda e por meio da qual não há
intenção de entregar o poder só por entregar. Quem deseja o poder que trabalhe
para conquistá-lo. Os membros da Frelimo
criaram e mantiveram, de uma maneira que poderíamos chamar milagrosa, a sua
unidade, ampla, generosa, sem vestígios de discriminações tribais de qualquer
espécie. É essa, precisamente, a essência da sua personalidade. Assim, com essa
estrutura e não com outra, foi Frelimo admitida no seio dos partidos políticos
nacionais. E não é possível que queiramos agora obrigá-la a modificar nada
menos do que a sua agenda. A Frelimo, ao chegar ao multipartidarismo, já possuía
estatutos próprios que são muito anteriores à ele. Não parece, portanto, que a
oposição tenha o direito de discutir esses estatutos. É exclusivamente aos
membros do partido que cabe decidir se os seus estatutos dependentes estão ou
não conforme as suas linhas de orientação. Como permitir, portanto, que
qualquer outro partido tome essa exclusiva atribuição? Será
correcto, será justo, será sequer admissível que em nome de uma liberdade se
destrua a liberdade dos outros? Será razoável que massivas de uma ou de algumas
dezenas de cidadãos dirigidas pela Renamo, ou meia dúzia de tiros em Moxungue
ou uma insurreição fabricada possam pesar de tal modo que ponham em jogo o
destino da Frelimo?
Para nós, seria portanto
inaplicável, como tantas vezes tem sido dito e redito. A oposição alega que
promove-se reuniões partidárias em período laboral. Mas, a aceitar esta tese
oposicionista, os estatutos da Frelimo teriam voz passiva e poderiam interferir
nas discussões dos diversos problemas da nação. Trata-se de uma nova e surpreendente
teoria, que abre caminho para a desordem geral, na qual, os partidos se
intrometem na modificação dos estatutos de partidos alheios. A oposição,
aldrabada pela Renamo sobre essa matéria, deve começar a esquecer o seu
intento. Não haverá despartidarização nenhuma! As campanhas assim feitas são supérfluas,
inúteis e potencialmente perigosas pois, além de atirar para sobre os ombros do
povo com uma tarefa embaraçosa, exigirá que sejam examinados os estatutos dos
outros partidos para acomodar as vontades alheias o que, no final, apenas
servirá para envenenar ainda mais a atmosfera que se respira na política
nacional. Por isso dizemos que a despartidarização não é agenda da Frelimo!
Pedro MAHRIC