As
informações, de origem mitológica, não eram sujeitas a qualquer tipo de
investigação ou explicação causal. Era uma história que não se preocupava com a
verdade nem com a objectividade. Não obstante, a produção desta literatura
revelou-se um grande contributo para o conhecimento da história do oriente
antigo, visto terem surgido neste processo importantes materiais sobre a
história daquela região, nomeadamente anais, listas de dinastias ou de
soberanos, listas dos sacerdotes, inscrições comemorativas e biografias
importantes.
1,4. Historiografia
Pode
ser definida como o conjunto de obras concernentes a um assunto histórico, como
por exemplo a produção histórica de uma época. Quando se diz historiografia
moçambicana refere-se as obras escritas sobre a história de Moçambique, por
autores nacionais ou estrangeiros. A historiografia inclui tudo quanto foi
escrito para proporcionar informações sobre o passado humano como testemunho.
Integram esta literatura os relatos autobiográficos e memoristas desde que
sejam referentes a aspectos da vida social mais amplos do que os estritamente
pessoais. A história oral também ocupa um lugar, tanto quando este conceito
designa as tradições históricas transmitidas oralmente, nos povos sem escrita,
como quando se refere ao registo escrito ou por gravação de depoimentos orais
de autores ou testemunhas de acontecimentos históricos.
No
sentido mais amplo a história da historiografia não se reduz ao estudo das principais
obras históricas de cada época ou civilização, compreende também trabalhos de
metodologia, publicação de documentos, ensino de história e apreciação de obras
literárias de teor histórico. A história da historiografia está também ligada a
história das ideias, pois os historiadores estão sempre ligados às correntes de
pensamento do seu tempo.
1.5. Historiografia judaica
A
historiografia judaica baseia-se na Bíblia, velho Testamento. A Bíblia é uma
grandiosa obra que pela natureza e variedade de géneros literários nela
contidos constitui literatura nacional do povo judaico e portanto importante
fonte de informação da história judaica e dos povos com quem os judeus estavam
em contacto.
1.5.1. A importância da Bíblia na
historiografia judaica
Escrita
e conservada pelos sacerdotes, a Bíblia constituiu para os judeus um
instrumento de unidade, que era posta em causa pelo contacto com outros povos,
a que os judeus eram sujeitos por ser um povo nómada.
Existiam
duas formas de poder entre os judeus: o poder espiritual, dos sacerdotes, e o
poder temporal, dos reis, sempre em aliança ou em rivalidade ou em luta. O
desentendimento entre estes dois poderes resultava do facto de os sacerdotes
pretenderem a unidade do povo judaico, recusando, por isso o contacto com
outros povos, enquanto os reis priorizavam o alargamento do território,
integrando as populações vencidas o que significava a admissão no mesmo panteão
nacional dos deuses dos vencidos.
A
Bíblia funcionou portanto como instrumento dos objectivos da classe sacerdotal,
conservando um carácter exclusivista de defesa da tradição judaica e de ataque
a tudo o que lhe fosse estranho. Baseada na bíblia, a historiografia judaica
teve como principal característica a incapacidade de aceder a uma concepção
universalista do homem, ou seja a limitação do homem ao homem judeu. Assim,
para os judeus, a história da humanidade passava a confundir-se com a história
judaica contada na Bíblia. Os outros povos apenas eram referenciados na medida
em que tivessem algum relacionamento com os judeus.
Como
livro sagrado dos católicos, protestantes e cristãos ortodoxos, a Bíblia teve
uma credibilidade quase universal e até ao século XIX constituiu a única fonte
de história dos judeus e dos povos do médio oriente, com quem estiveram em
contacto. Só no século XIX, com a decifração dos escritos egípcios e sumérios
surgiu uma alternativa para as fontes da história judaica. A Bíblia passaria a
ocupar um lugar secundário como fonte histórica.
LIÇÃO Nº 2 – A HISTORIOGRAFIA GRECO-ROMANA
2.1. A Historiografia Grega – os Primórdios
da Cientificação da História
“A
história nasceu na Grécia” é frequente ouvir-se dizer. Bem para nós que falamos
na aula anterior de História sem fazer referencia a Grécia pode parecer algo
estranho. Mas existe uma explicação para esta aparente confusão.
Na
Grécia também existiu a abordagem mítica e teocrática da evolução da humanidade
como no oriente antigo. Dos vários mitos destacou-se o mito das cinco idades
que considerava que a humanidade tinha passado por cinco etapas de evolução
nomeadamente a idade do ouro da prata, do bronze, dos heróis e do ferro. Entre
estas, a etapa do ouro era a melhor porque nela não havia preocupações,
sofrimento, velhice, etc.
Entretanto,
de acordo com o conceito de ciência não podemos ainda falar nesta altura de uma
ciência histórica. A cientificação da história só terá início na Grécia
Clássica. É o que nos leva a falar do surgimento da história na Grécia. Este
logro dos gregos tem explicação no facto de a Grécia desse tempo ter conseguido
avançar em muitas áreas de desenvolvimento social, a partir do século V a.n.e.
Nesse século vivia-se na Grécia, uma sociedade democrática, fruto de cerca de
três séculos de reformas, iniciadas por Dracon e que atingiram o seu pico no
reinado de Péricles.
Na
democracia ateniense o poder era exercido pela Bule, assembleia, que reunia
quarenta vezes por ano e exprimia directamente, não através de deputados, a
vontade nacional. Decidia sobre a guerra ou a paz, as finanças, votava leis e
decretos, julgava certos crimes, etc. cada pessoa podia tomar a palavra, propor
uma decisão ou emenda. Os magistrados não eram mais do que servidores do povo.
A justiça estava igualmente nas mãos do povo. A origem nobre do indivíduo já
não era condição para se ocupar de questões importantes da vida do país. O
importante agora era a competência e a capacidade individual.
Portanto
a Atenas do século V destaca-se dos restantes estados da época pois pode
conceber e aplicar os princípios de igualdade perante a lei, da liberdade
individual e da fraternidade, embora com algumas reservas, principalmente
ligadas com o alcance das referidas reformas democráticas. Este contexto, de
abertura da vida nacional a todos os cidadãos, levou a Grécia antiga a se
destacar em vários domínios da vida incluindo o do pensamento. É assim que o
pensamento grego da época revelava já uma maturidade que se reflectia no
desenvolvimento de varias ciências entre as quais a história.
Na obra
“História” Heródoto tentou para além de escrever sobre os gregos, falar dos
bárbaros, reconstituir os factos e apresentar a razão deles. A ele também se
deve uma abordagem universalista dos homens pois, como cidadão oriundo da
nobreza, Heródoto teve facilidades de viajar e escrever sobre varias regiões
(Egipto, Mesopotâmia, etc.) incutindo desse modo uma visão mais global do Homem
e do universo. Era a passagem da historiografia gentílica a historiográfica
ecuménica (universal).
Numa
das passagens do livro de Heródoto “Historias” pode se ler: “Eis a exposição do
inquérito empreendido por Heródoto de Thouriori para impedir que as acções
cometidas pelos homens se apague da memória com o tempo e que grandes e
admiráveis factos, levados a cabo tanto do lado dos gregos como do lado dos
bárbaros, cessem de ser nomeados, finalmente e sobretudo, o que foi causa de
entrarem em guerra uns contra os outros (…) Até aqui, falei segundo a minha
observação, reflexão e informação; mas a partir de agoira passarei a referir a
tradição egípcia, tal como a ouvi; acresce ainda um pouco do que vi (…). O meu
dever é referir a tradição mas de modo algum sou obrigado a acreditar nela”.
A
história de Heródoto é feita com base em testemunhos fidedignos, ou seja dignos
de crédito. Assim, ele preferiu servir-se da tradição oral, mas sempre aquela
prestada por protagonistas ou testemunhas dos acontecimentos, bem como o seu
testemunho ocular.
No
caminho de Heródoto esteve também Tucídides, cujo grande contributo para a
História foi o início do questionamento das fontes, procurando apurar a sua
veracidade e credibilidade. Foi o que ele fez na sua obra “História da Guerra
do Peloponeso” que escreveu servindo-se do seu próprio testemunho de
participante. Tucídides revelou-se superior a Heródoto na inteligência crítica,
na arte e na solidez do saber. As ideias de Tucídides sobre a História estão
bem expressas na seguinte afirmação contida no seu livro História da Guerra do
Peloponeso: “(…) Só falo como testemunha ocular, ou depois duma crítica das minhas
informações, tão completa quanto possível (…).
Outros
historiadores deram corpo à história como foram os casos de Xenofonte,
Plutarco, Eforo, etc.
Observando
os trabalhos de Heródoto e Tucidides verificamos que os gregos começam a
caminhar para a cientificação da história. A sua história tem um objecto de
estudo, uma metodologia própria e um objectivo bem definido. Senão vejamos.
●
Estuda-se, o passado e o presente dos homens ou
simplesmente o homem;
●
Alarga-se a noção de fonte histórica que para
além da tradição oral passa a considerar testemunhos oculares;
●
Cria-se uma metodologia que integra a recolha de
dados através da observação e da informação, a reflexão, análise crítica e a
comparação das fontes e finalmente a síntese.
●
A sua finalidade é sobretudo a verdade histórica
pelo que defende a objectividade e neutralidade de análise.
Portanto
na Grécia clássica temos uma historia humanista (seu objecto de estudo é o
homem), científica (inicia-se nesse caminho), auto reveladora (procura a
projecção do presente no futuro, ensinar aos homens o seu passado e a relação
entre o passado e o presente, para revelar o sentido da acção humana) e
pragmática, porque tenta tirar do ocorrido uma lição aproveitável para o
futuro.
Embora
dando notáveis passos a nível da história os gregos revelaram ainda algumas
insuficiências. Os historiadores gregos viram-se confrontados e até
encurralados pela contradição entre o ideal de história universal baseada em
fontes fidedignas e a incapacidade de falar de regiões relativamente afastadas
pois o nível de desenvolvimento dos transportes não os permitia ir para longe e
são praticamente inexistentes informações sobre essas regiões. Deste modo eles
vem-se condenados a ter que fazer a história que negam, a história de alguns
povos, de algumas regiões, a história regional e não a universal que defendem.
Por
outro lado as fontes orais e os testemunhos oculares não permitiam abarcar
períodos de tempo relativamente longos mantendo a fidelidade numa história que
busca de facto a verdade, pelo que ficam também a este nível limitados.
2.2. A Historiografia Romana
A
constituição do império romano incluiu entre outros processos a conquista de
vários estados na Europa, Ásia e norte de África. Ora, este facto sugere uma
miscelânea de povos, costumes, formas de vida, etc. num só estado que é o
império romano. Desta situação resulta em Roma um desenvolvimento social, do
qual se inclui o âmbito do pensamento, bastante influenciado pelas outras
civilizações.
Temos
assim que a nível da história os romanos recorrem, a princípio, à língua e aos
moldes de outros povos, em particular os gregos que, como dissemos atrás tinham
avançado bastante neste campo. Os romanos não copiaram mecanicamente dos
gregos, procuraram dar forma própria, moldaram os ensinamentos gregos
atribuindo-lhes forma própria. Deste processo resultou a produção de uma
história tipicamente romana, assente na íntima relação com o passado.
Outro
elemento historiográfico exclusivamente romano é o carácter político ou seja a
prática da historiografia feita pelos homens políticos, em estreita relação com
a política prática que conduz a historiografia política, orientada para fins
políticos e não encarada como conhecimento. Portanto a história é em geral,
para os romanos, uma exaltação da cidade e do império, adquirindo um carácter
nacional e patriótico. É uma história apologética e pragmática. O predomínio,
entre as produções historiográficas da Roma antiga, dos anais (anotações dos
principais acontecimentos políticos) demonstra bem o seu carácter nacional.
2.3. Os Principais Historiadores Romanos
Políbio
– é um historiador de origem grega que viveu, como prisioneiro, em Roma e lá
produziu quase toda a sua obra histórica e, naturalmente, sobre o império
romano. Foi o responsável pela transmissão das tendências racionalistas da
historiografia grega a Roma, sendo por isso contrário a história “oficial”
defendida por muitos historiadores romanos com destaque para Tito Lívio que por
vezes recorria a mitologia para sustentar as suas ideias.
Polibio
aplicou à história o modelo de ciclo, conduzindo à concepção segundo a qual a
história é o conhecimento do geral, daquilo que se repete, que obedece a leis e
por isso susceptível de previsão.
Tito
Lívio – diferentemente de Polibio, esteve mais virado para o passado, tido,
pelos romanos, como fonte de virtudes nacionais. Foi um intelectual ao serviço
da política imperial, cuja preocupação maior foi elevar bem alto o rei e o
império romanos não hesitando quando a defesa passasse pela deturpação da
verdade, ou impusesse o recurso à mitologia.
Tácito
– Politico e homem das letras, foi autor de uma importante obra histórica com o
senão de ter misturado, por vezes, indevidamente a história com o género
literário. O seu maior defeito terá sido fazer uma comparação unilateral dos
romanos com os bárbaros, os bretões e os germanos revelando-se percursor da
teoria do “bom selvagem”, ao apresentar uns como os de costumes mais puros e
outros mais corruptos.
Outros
historiadores romanos foram Flávio Josefo, Salústio, Plutarco e Suetónio.
LIÇÃO Nº 3 – A HISTORIOGRAFIA CRISTÃ ANTIGA
3.1. O Surgimento e Evolução do
Cristianismo
O
Cristianismo surgiu na Palestina no contexto da conquista daquele território
pelos romanos. Foi de lá que se propagou para as restantes partes do mundo o
que em grande parte foi facilitado pelo facto de transportar uma mensagem
social e ecuménica, assumindo-se anti-escravagista.
Existiam,
no seio da igreja, duas facções: uma mística e outra gnóstica que, pretendia
racionalizar o pensamento religioso, ou seja, sujeitar à razão as ideias
religiosas. Estas divisões que constituem uma ameaça à estabilidade do
cristianismo levaram à imposição da unidade doutrinária e ao fim da livre
discussão no seio da igreja, determinada no Concilio de Niceia em 325.
3.2. A Concepção Cristã de História
Desde o
princípio o cristianismo assumiu-se como religião universalista e histórica, ou
seja, teve a sua concepção do universo e de evolução da humanidade. Para os
cristãos a historia é um combate permanente entre Lúcifer (o mal) e Deus (o
bem) e a sua trajectória, irreversível e oposta à concepção cíclica defendida
pelos gregos e romanos, começa com o pecado original, passa pela redenção e
termina com o juízo final. A ideia principal é que, devido ao pecado original,
o homem espalhou o mal em toda a terra e Cristo apareceu para restabelecer a
ordem e fazer triunfar a igreja, numa luta que, terminará com o juízo final.
Deste modo a terra é apenas um local transitório para a expiação e redenção do
pecado e o homem em vida tem a oportunidade de se preparar para o juízo final.
Entre
as fontes da história cristã existem as doutrinárias e as históricas. Muitos
documentos históricos foram destruídos alegadamente por serem apócrifos, ou
seja, inauténticos. Contudo em história este procedimento é de todo condenável
pois as fraudes também são matéria de estudo. Portanto não se pode entender tal
atitude de outra maneira que não a tentativa de manter uma unidade doutrinária.
Isto leva-nos a afirmar que a história cristã baseou-se, em informações
tendenciosas previamente seleccionadas e por isso construiu uma visão de
história humana com um ponto de vista apologético.
3.3. Os Historiadores Cristãos
Eusébio
de Cesareia (260-339) Foi o principal obreiro da história cristã. Produziu uma
crónica que consistia de uma cronografia e de cânones cronológicos. A
cronografia resumia a história universal povo por povo, argumentando a favor da
prioridade, no tempo, de Moisés e da Bíblia. Os cânones eram tábuas
cronológicas que assinalavam os sincronismos entre a história sagrada e a
profana. A cronologia bíblica começa com a data da criação seguindo-se a do
povo judeu até ao nascimento de Cristo, com a qual começava a história cristã.
A história eclesiástica de Eusébio, bem documentada ia de Cristo até
Constantinopla. Eusébio trouxe para primeiro plano da igreja cristã os judeus.
Cassiodoro
(487-583) Reuniu e traduziu do grego três historiadores eclesiásticos,
continuadores da história de Eusébio, nomeadamente Sócrates (380-450), Sozômeno
(finais do século IV-443) e Teodoreto (393-457). Escreveu também uma história
gótica e uma crónica da época de Adão ao ano 519).
Santo
Agostinho (354-430) Foi o autor da primeira e até hoje a mais importante
filosofia cristã da história. O seu livro “De Civitae Dei” ( A Cidade de Deus)
foi uma tentativa de negar a afirmação dos pagãos seguyndo a qual a tomada de
Roma por Alarico e os saques dos vândalos eram motivados pelo desapego à antiga
religião romana.
Orósio
(até 418) Procurou mostrar em “Sete livros de história contra os pagãos” que os
tempos anteriores a Cristo tinham sido mais tempestuosos que os posteriores,
como forma de rejeitar a ideia dos pagãos de querer culpar o abandono dos
cultos anteriores a Cristo pelas desgraças que afligiam o império romano, em
particular as invasões dos povos bárbaros.
Com a obra
de Eusébio e com as continuações de Sócrates, Sazômero e Teodoreto e ainda o
manual latino que deles tirou Cassiodoro, se formou o corpo da história da
Igreja que alimentou a Idade Média.
Foi o
cristianismo a autoria da primeira filosofia de história, a tentativa de
determinar as leis porque se rege o curso dos acontecimentos. Os seus
defensores procuraram mostrar como o mundo seguiu um desígnio de Deus na sua
longa preparação para o advento de Cristo. A partir desse pnto central a
humanidade continuaria uma marcha de sofrimentos até ao juízo final. Esta ideia
foi exposta por Santo Agostinho no seu livro “Cidade de Deus” e a demonstração
coube a Paulo Orósio no seu “Sete Livros de História Contra os Pagãos”, uma
continuação de “Cidade de Deus”.
É portanto
a história providencialista, em que a evolução da humanidade aparece como
providência divina.
LIÇÃO Nº 4 – A HISTORIOGRAFIA MEDIEVAL
4.1. A Sociedade Medieval
O
império romano do ocidente desmoronou-se no século V na sequência da tomada de
Roma pelos bárbaros em 476. a destruição do império romano do ocidente, marcou
o fim da antiguidade esclavagista e o início da Idade Média, feudal, a
substituição das formas de vida política, económica, social até aí
estabelecidas. As populações abandonam as cidades retornando ao campo onde se
organizam em pequenas comunidades rurais baseadas na identidade religiosa
(nisto, diferem das primeiras comunidades rurais ligadas por consanguinidade).
Na
esfera económica, a economia urbana comercial deu lugar, a economia rural,
agrícola, de subsistência. Instala-se uma mentalidade particularista onde cada
comunidade tenta ser auto-suficiente, pois a dispersão dificulta os contactos.
A nível social os marcos essenciais forma a destruição das tradicionais
relações entre os povos devido a degradação das vias e meios de comunicação. Tecnologicamente a
regressão manifestou-se pelo desaparecimento da especialização.
O
cristianismo integra-se neste quadro criando o Mosteiro Beneditino, que a
partir do século VI passa a servir de núcleo a uma população cujo destino seria
a gradual integração na sua estrutura, em condições de dependência.
Nesta
altura o trabalho é encarado como uma provação, mas os mosteiros irão
rapidamente enriquecer passando a empresas geradoras de excedentes, comparáveis
a qualquer outro domínio senhorial. Era a transformação do cristianismo, de
religião igualitária em religião classista.
No
século XI regista-se um considerável crescimento da produção agrícola. Ao mesmo
tempo aumenta a população e ressurge a vida urbana. Inicia-se uma nova
revolução comercial, em choque com o sistema feudal. No século XIII regista-se
um notável progresso na estrutura profissional que se manifesta numa acentuada
diferenciação profissional, num grau de especialização cada vez maior e na
melhoria do estatuto do trabalhador a nível dos ofícios, particularmente nas
artes liberais e por vezes nas artes mecânicas. Era a passagem da sociedade
rural à urbana, agrícola a comercial.
Este
processo é portanto muito próximo aquele que se regista na primeira revolução
urbana com a diferença de que no lugar das casas estavam os mosteiros e em vez
do surgimento de cidade dá-se o ressurgimento das cidades romanas. Mais ainda na
primeira revolução urbana o poder espiritual sobrepunha-se ao temporal e no
século XIX acontece o contrário.
4.2. A Historiografia Cristã Medieval
No
contexto histórico da Idade Média, predomina uma história cristã, cuja produção
é da responsabilidade dos monges. Os géneros mais dominantes são os anais e os
cronicoes. Tanto uns como outros são narrativas sobretudo de factos políticos e
militares, que tomam por unidade temática períodos mais ou menos longos. A
diferença reside no facto de que os anais dividem as épocas estudadas em
períodos de um ano, relatando secamente os factos.
Também
constituem literatura histórica cristã as hagiografias, as histórias, as actas
de sínodos e concílios, as bulas e outros diplomas de origem papal, as obras de
clérigos seculares, os manuais dos confessores e outras de carácter
eclesiástico. Para a reconstituição da história medieval existem também fontes
civis de natureza oficial nomeadamente os diplomas régios bem como fontes
provenientes da cultura popular, o folcrole.
Nesta
história medieval o papel principal no processo histórico é atribuído a Deus e
seus agentes e aos reis e seus prelados. É a estes que se atribui
responsabilidade pela evolução histórica da humanidade e portanto são eles o
objecto de estudo da história. A Nível metodológico a interpretação dos dogmas
divinos constitui a principal operação do historiador em detrimento da
investigação das razoes humanas. Os aspectos morais sobrepõem-se aos vividos na
explicação dos fenómenos.
LIÇÃO Nº 5 – A HISTORIOGRAFIA DO SÉCULO XIV
5.1. O Contexto Histórico do século XIV
A
segunda metade deste século é caracterizada por revoltas, umas no campo
colocando os trabalhadores rurais contra os proprietários e outras nas cidades
entre os artesãos e os grandes mercadores. Foram acima de centena os
levantamentos em toda a Europa no final da idade média, dos quais vamos indicar
apenas alguns:
1274 –
Greve dos tecelões e pisoleiros de Gand;
1300 _
Greve – levantamento dos artesãos germânicos;
1302 –
Vitória dos amotinados de Bruges sobre Filipe o Belo; tumultos em Bruxelas;
1303 –
Revoltas populares e; Liège;
1304-1305
– Tumultos em Flandres;
1339 –
Revolta de marinheiros e artífices de seda em Génova;
1340 –
Revolta na Dinamarca;
1344 –
Levantamento em Barcelona;
1355 –
Destruição da Sinagoga em Valladolid;
1358 _
Revolta burguesa em Paris, Ajacquerie da Ile-de-France, revolta camponesa;
1379 –
Inicio da revolta de Gand;
1380 –
Agitações universitárias em Paris; Tumulto anti-tributário em Lubeck;
1411-1412
– Guerra Civil em Franca;
1435 –
Movimento geral dos companheiros de todos os ofícios nas cidades de Reno;
1449
Assalto à judiaria Grande de Lisboa.
Os
servos levantam-se contra os senhores tentando alterar a sua condição de grupo
inferior.
O
desenvolvimento do comércio leva a valorização dos mercadores sobretudo a nível
económico. Constroem fábricas, emprestam dinheiro, comandam as rotas terrestres
da Europa e da Ásia, etc. Também começam a erguer, ao lado das velhas cidades,
os burgos que lhes vão dar o nome – burguesia – projectando algumas cidades
europeias à categoria de república, como foram os casos de Veneza, Florença,
Génova, etc. Os burgueses também dominam o saber pois são eles que
maioritariamente frequentam as universidades europeias.
No
século XIV a burguesia era já suficientemente forte a nível social, económico e
cultural mas o poder politico continua nas mãos da nobreza e do clero,
detentores dos bens fundiários. Neste contexto histórico surge a partir dos
finais do século XIII um novo tipo de historiografia – palaciana – de
iniciativa régia ou senhorial produzida nas cortes reais ou senhoriais por
cronistas ao serviço dos senhores ou dos príncipes e sob encomenda destes. É
portanto uma historia que grosso modo está mais preocupada em apresentar a
imagem mais conveniente à instituição servida pelo cronista do que com a
verdade e objectividade dos factos.
Em
paralelo com esta história, alguns historiadores tentam, movidos pela ética
profissional, transmitir aquilo que julgam ser a verdade.
Por seu
turno a burguesia começa a fazer a sua própria história – a história burguesa
que se debruça sobre a cidade onde esta camada era já autónoma. A nível
metodológico os cronistas do século XIV já começavam a associar a compilação ao
inquérito no terreno. Mas havia ainda muitas insuficiências como o predomínio
da narração sobre a investigação das causas e o facto de as tomadas de posição
serem, em regra, favoráveis aos detentores do poder. No centro da análise dos
historiadores estavam os deuses a que se seguiam logo os senhores e os
príncipes.
Lição nº 6 – A Historiografia do
Renascimento (séculos XV e XVI)
6.1 A Luta da Burguesia Contra o Regime
Católico Feudal
A
reforma protestante constitui um dos acontecimentos mais marcantes, senão o
mais marcante desta época. Quando, sob a égide papal, Portugal assinaram o
tratado de Tordesilhas as Burguesias Holandesas, Inglesa e francesa, em
oposição a este tratado, decidiram proclamar a independência das igrejas
nacionais, desafiado, por tanto, a autoridade supranacional da igreja romana.
Este
acontecimento foi antecedido por outra grande revolução da Burguesia, o
movimento comunal.
A luta
da Burguesia pela sua emancipação espiritual estava assim a começar tendo como
pano de fundo a rejeição do regime católico – feudal e a implantação de uma
nova ordem mais condizente com o desenvolvimento da Burguesia. É portanto uma
revolução cultural marcada pelo desejo de mudança - o renascimento cuja tónica
dominante é a tentativa de Homem de sair da sua menoridade (incapacidade de
atingir a sua incapacidade de atingir a sua felicidade sem o recurso e o apoio
de outrem). Instiga-se a confiança no homem.
6.2 A historiografia dos séculos XI-XVI
A
evolução dos séculos XV XVI favoreceu o surgimento de um pensamento humanista
que defende o livre arbítrio, o valor da experiência e desejo de glória
individual, que conduziu a história humanista, que coloca no centro do seu
estudo o homem, reduzindo o papel de deus. O homem vai se sentindo cada vez
mais o construtor e responsável do processo histórico. A Historia evolui
inspirando-se na consciência humanista e na limitação da antiguidade clássica.
É assim que entre os humanistas alia-se uma nova consciência do mundo e da vida
a idealização da antiguidade com tentativas de secularização da história.
Nesta
altura já não são os teólogos e monges mais sim os poetas, literatos,
diplomatas, estadistas que escrevem historias falando criticamente do passado
nacional ou urbano. Há portanto um alargamento da temática histórica, muito
embora prevaleçam os aspectos políticos.
Para
alem do objecto, os humanistas alteram também a forma medieval de exposição, a
crónica. Passam então a predominar os anais, numa história orientada para a
política que tem na biografia a principal forma de exposição histórica.
O
pensamento humanista deu também lugar a ideia da relatividade das coisas e au
surgimento de um novo critério de verdade, a experiência que fez crescer a
coerência racional entre a teoria e a pratica e impôs o hábito de submeter a
validade dos juízos a sua comprovação.
O
Humanismo foi apenas o pensamento dominante pois a par da história humanista,
critica, anticlerical e antinobiliarca ouve nos séculos XV e XVI uma
historiografia exemplar preocupada em servir uma determinada ideologia
(normalmente a do poder) podendo ate sacrificar a verdade se tal finalidade
assim o justificar.
A nível
metodológico a historia recebe com uso humanistas a importantes subsídios.
Inicia-se com eles a ordenação metódica das fontes graças as contribuições de
Flávio Biondo, Tristano calchi, Lourenzo valla, Bernaldo Giustiani entre
outros.
Flávio
Biondo começou a reunir e a comparar fontes de certas épocas com algum sentido
crítico, enquanto a calchi se atribui o mérito der iniciado o uso de documento
e inscrições. Por seu turno Lourenzo Valla foi o primeiro a defender criticas
filológicas das fontes medievais. Finalmente Giustiniani se deve a critica
histórica objectiva que ele iniciou a submeter todos os dados da tradição a
critica da sua possibilidade de aplicação pratica.
6.3 Representantes da Historia Humanista
Nicolau
Maquiavel (1469-1527) – foi o mentor, no séc. XV de uma nova concepção do
estado: o estado temporal, soberano, totalmente da tutela da ijreja,
centralizado e único.
Entende
que o regime republicano com eleição de dirigentes é o ideal do estado. É um
ponto de vista inspirado na sociedade quatrocentista, na qual a burguesia
aspirava a formação de mercados nacional cada vez mais amplos e politica
economicamente integrados por forma a assegurar a livre circulação dos seus
produtos. Nas suas obras “Discorsi sopra la prima década de Tito Lívio” e “II
príncipe” Maquiavel Adopta já uma atitude científica procurando explicar os
fenómenos sociais que descrevem pela intervenção de factores naturais como o
clima, a natureza humana, ect.
Considera
ele que se deus e a fortuna têm alguma margem de intervenção na história, ao
homem cabe pelo menos metade dessa intervenção.
Lourenzo
Vala (1407-1457) – A sua obra “de falso credita et emitida costantine” passa a
assinalar a partir de 1440, o nascimento de um dos maiores instrumento de
critica histórica: a filologia humanista (comparação de estilos documentais,
erros de tradução, etc.) método com o qual descobriu a falsidade de “Doação de
Constantine” e, numerosas deturpações contidas novo testamento.
Franscis
Bacon (1561-1526) defende a superioridade dos tempos actuais em relação aus
antigos e a ciência experimental sobre as concepções teóricas do passado. Para
eles as ciências devem ser renovadas e colocadas ao serviço do progresso da
humanidade através das leis da natureza.
Jean Bodin (1530-1596) compôs um “methodus ad, facilem
historiarum
cognitionum” (1566) onde defende que a Historia não deve ser fabulosa mais uma
espécie da tábua da verdade e dos acontecimento; e que a ela se dedica não deve
começar pela historia de Deus, mais pela dos homens. Defendia igualmente a
influência do clima sobre a natureza física e psíquica dos homens.
Fernão
Lopes – prólogo da crónica D. João 1, de que ele é autor, é um documento
notável no ponto de vista da definição de Historiografia. Nele esta patente a
sua defesa da independência do historiador perante as autoridades e, o sentido
da sua responsabilidade perante o povo, procedimento que colocam-no na
vanguarda dos historiadores Europeu do seu tempo. Para F. Lopes o motor da
historia, já a maneira duque viria a ser para a historiografia romântica
liberal, é a sociedade no seu conjunto, ou maias propriamente, o povo.
Nalguns
casos, principalmente quando os reis tratavam a nação com equidistância entre a
nobreza e a burguesia, o historiador reflectindo em certa medida a ideologia
social, esforça-se por analisar os problemas e os homens com isenção e
objectividade.
Por
tanto um aspecto importante do século XV foi a formulação da regra de ouro da
história, aquele que escreve história de acontecimento deve conhecer e encadear
os factos, as datas, os projectos e os resultados.
LIÇÃO NUMERO 7 – A HISTORIOGRAFIA
RACIONALISTA – (SÉC. XVII-XVIII)
7.1 Contexto Histórico
A
partir de meados do século XVII o ambiente é de transição do feudalismo ao
capitalismo no qual está presente a luta sempre inerente a este tipo de
situação. Iniciada praticamente no séc. XIV, esta luta era agora claramente
favorável aos burgueses, embora não na mesma dimensão em todos os países da
Europa. A Inglaterra adiantou-se ao nível do capitalismo Industrial enquanto a
França se destacava no âmbito da consciência revolucionário com os antagonismos
entre a burguesia e a aristocracia.
O séc.
XVII é também marcado pela constituição também de impérios coloniais por parte
dos holandeses, Franceses, Ingleses, que já detinham a supremacia nos mares
depois de suplantarem os portugueses e espanhóis.
Neste
período dá-se também uma certa evolução material com o aparecimento dos
correios e vias de comunicação organizadas, arquivos públicos, etc., bem como
uma evolução científico-técnica, com a formulação da dúvida metódica, a
exaltação do valor da experiência na construção da ciência, afirmação do método
científico.
A Nível
da relação de produtos ocorre a passagem da economia feudal à economia
capitalista.
7.2 O Iluminismo
Neste
contexto as ideias burguesas vão se impondo defendendo particularmente dois
procedimentos básicos: o domínio da natureza pelo trabalho; e o conhecimento da
realidade através da experiência e da interpretação cientifica. É por tanto um
pensamento novo oposto a ideológica medieval dominante e que pretende tomar
como critério de verdade apenas razão.
Sob
esta visão o homem recusa a menoridade (radicada na incapacidade de alguém se
servir do próprio entendimento, sem a direcção de outrem) e procura acreditar
na quilo que lhe é dado entender, no seu próprio raciocínio. É o iluminismo
baseado na razão esclarecida e que a ideia de que os antigos eram os mais
velhos e mais sábios, transferido esses atributos ao homem moderno para os
burgueses, verdadeiramente experiente e espiritualmente maduro.
A
filosofia passa para o controle da burguesia e rejeita todos os preconceitos
que entravem a felicidade dos homens. A nível da região iluminismo implantou a
mentalidade produzida na renascença, no humanismo e na reforma e difundiu o
Deísmo (religião sem dogma), que defende que deus criou o homem livre e
concedeu-lhe autonomia plena e, dotando-o de razão para puder superar de todas
as dificuldades, já não na sua vida particular ou comunitário. Os homens do
século XVIII recusam as normais, a autoridade, os dogmas. Não são cristãos e no
lugar do direito divino crêem no direito natural.
Portanto
as ideias principais do iluminismo são:
A- A
razão – tudo deve ser sujeito a uma analise racional, tendo como algo principal
a religião e as instituições político-social;
B-
progresso – sobretudo no campo cientifico-técnico;
C- A
paz – que deve assentar na igualdade e fraternidade entre os homens.
Para o
iluminismo a razão é o supremo critério do valor para a religião, a filosofia,
as ciências, o estado o direito e a economia.
No
quadro descrito as ciências irão evoluir no caminho de iluminismo onde a tradição
é questionada e o saber livresco substituindo, como critério da verdade, pela
experiência sensorial. Valoriza-se o homem livre ou em libertação do dogma e da
veneração dos antigos. Só se reconhecesse o progresso do espírito humano na
iluminação e na razão secularizada.
Entretanto
a evidência sensorial, como critério de verdade, é mais aplicada as ciências
naturais e menos ao domínio das ideias e por isso a sua implantação sugere uma
certa preferência. Aquela área de pensamento em detrimento desta. Não obstante
este ambiente relativamente hostil o interesse pela história não se extinguiu.
Descartes
introduziu, como critério de verdade, a evidência racional, consistindo num
longo trabalho crítico, através de sucessivas analises e sínteses, acompanhadas
de uma atitude de dúvida metódica.
Surge
assim o método crítico de investigação, a base da história científica.
7.3 A Historiografia e Racionalista
Sob o
fundo iluminismo desenvolve-se a partir do século XVII uma história
racionalista.
A
história providencialista que tenta se adaptas as mudanças incurso e deixa de
interpretar o fenómeno histórico apenas no seu aspecto dogmático, admitindo a
intervenção do homem no processo histórico, mas continua defendendo a origem
divina do poder (foi no caso de Bousset) no outro extremo os burgueses tentam
fazer uma historia dirigida contra a igreja e que defende a origem popular do
poder, como fez Arnold..
À
margem desta história das lutas religiosa surgem, nos países onde prevalecia a
mentalidade católico-feudal, nomeadamente no sul e no ocidente uma
historiografia politica, interna e católica.
Com os
beneditinos franceses iniciou-se um tratamento mais cuidado e profundo da
ciência auxiliares, nomeadamente a diplomática e da paleografia. Com os
franceses e construção da narrativa histórica começa com a investigação dos
factos, sua classificação por épocas e temas, critica filológica e organização
em reportórios ou dicionários.
Já no
século XVIII a temática da história alargou-se com aparecimento de uma história
global abarcando as grandes deslinhas de evolução da sociedade (politica,
económica, cultura, etc); o surgimento de uma historia da civilização material,
a historia deixa de ser limitada ao campo político-militar.
A
consciência histórica da racionalista esta bem patente no seguinte estrago da
autoria de Voltaire: “a historia da Europa tornou-se um imenso processo de
contrato de casamento de genealogias (…) que fazem passar despercebidos os
grandes acontecimentos, conhecimento das leis o do costumes objectos bem mais
dignos de atenção (…) eu queria descobrir qual era a sociedade dos homens, como
se vivia no interior das famílias, que arte eram cultivadas (…)”.
A nível
metodológico a razão a razão burguesa incita à crítica minuciosa para o
apuramento da autenticidade, veracidade e exactidão das fontes a curiosidade e
a duvida passam a ser os maiores impulsionadores da busca do conhecimento
histórico. Pretende-se uma narrativa histórica racional e objectiva, que recusa
o secundário e supérfluo.
A
função da história também se altera deixando de servir as pessoas
(importantes/poderosas) individualmente para passar a servir a burguesia como
classe, e seus ideias sociais e políticos.
7.4. Representantes da História
Racionalista
Charles
de Secondat (1689-1755), o Barão de Montesquie, mais conhecido por Montesquieu
– Centrou-se particularmente no estudo da Filosofia política que procura
explica-la por um determinismo científico, manifestando particular preocupação
pelas grandes correntes sociais. Mostra pouco espírito crítico para além de
admitir lendas e cometer erros na datação dos acontecimentos. A sua obra de
relevo “o espírito das leis” contribuiu sobremaneira para o desenvolvimento da
ciência jurídica.
François
Arouel, vulgo Voltaire (1694 – 1778) Inaugurou uma história verdadeiramente
humana, debricando-se sobre política, finanças, religião, aspectos
demográficos, económicos, etc. mas nem sempre a sua narrativaé isenta. Admite o
anedótico e a sua filosofia é determinista e pessimista.
Antoine
de Condorcet (1743 – 1794) defende uma história global e cosmopolita. Foi, com
Robert Jacques Turgot, um dos percursoes do positivismo.
Jean
Jacques Rousseau ( - 1778) – Critica os valores tradicionais católicos –
feudais e defende a valorização da sensibilidade e da personalidade livre e
natural, contribuindo assim para uma compreensão da realidade histórica.
LIÇÃO No. 8 A HISTORIOGRAFIA DO SÉCULO XIX
8.1 Historiografia romântica
Dois
acontecimentos marcaram de modo particular o final do século XVII, a revolução
industrial e a revolução francesa. A aliança entre a ciência e a técnica que a
Revolução industrial deu lugar e permitiu encontrar soluções, aplicáveis tanto
na indústria como na agricultura, na circulação e na investigação científica.
No
século XIX a revolução industrial contava já como um.
Conjunto
de sucessos científicos e técnicos suficientes para servirem.
De base
a construção de novos valores e ao renascimento de novas.
Esperanças
no futuro dos homens. A tecnologia desenvolve-se, deixando de depender das
invenções dos práticos sem formação teórica para passar a depender de operários
especializados e devidamente orientados pelos cientistas.
Era no
contexto particularmente favorável a implantação de um pensamento científico
capaz de dar respostas as riquezas postas pela a razão e as exigências postas
pelas necessidades humanas. A industrialização trouxe progressos materiais e
com eles novas exigências nas ciências naturais, mas também trouxe uma série de
problemas a nível da sociedade tais como a propriedade privada, as relações de
classe, etc. impondo um seu estudo pelas ciências sociais como filosofia,
sociologia, pedagogia, entre outras.
A
revolução francesa iniciada na segunda metade do século XVIII, também
influenciou bastante o pensamento do século XIX. Ela permitiu a expressão de
sentimentos a muito reprimidos, criando um clima emotivo que favorece a
implantação e expansão do romantismo. O romantismo encerra a defesa de ideais
próprios como a liberdade politica, a pátria, a arte, a moral, etc. e também
pela exaltação do excepcional. Dos homens de forte carácter, da natureza e
contra tudo o que encerra formulas clássicas preestabelecidas.
Portanto
o século XIX e em vários aspectos o prolongamento o das ideias iluministas mas
com algumas situações histórico-filosóficas novas o que, no conjunto, conduz a
uma diferenciação nas maneiras de encarar e explicar a evolução da humanidade.
Como resultado surge uma grande divisão do pensamento em varias correntes que a
nível da história vai conduzir a uma fragmentação das suas concepções. Assim no
principio do século divulgou-se o romantismo enquanto na segunda metade dava-se
o aparecimento dos embriões das ideias cientificas nomeadamente o Positivismo,
o Historicismo e o Socialismo Cientifico.
8.2 O Romantismo
Surgido
no contexto da revolução francesa, o romantismo reflecte em si as várias
camadas sociais envolvidas na dita revolução. Assim destacam-se três
tendências/direcções distintas no seio do romantismo:
Romantismo Conservador Das
velhas classes privilegiadas nobreza e o clero, e cuja essência era o seu
desejo de repor a velha ordem aristocrática. Era portanto a aspiração da
reposição do poder do rei da supremacia da igreja.
Romantismo
Liberal – A ideologia da burguesia vencedora na revolução francesa e que
portanto julga efectivamente realizados os ideais da revolução. Aspira a
implantação de um novo regime, burguês, assente nos ideais defendidos quando da
revolução francesa.
Romantismo Socialista Defendido pelo
San-cullotyes, o proletariado, que ao longo da guerra desempenham papel de
relevo, determinante mesmo, mas que no fim não viram melhorada em nada a sua
condição social, tendo apenas como dizia um dos ideólogos desta camada mudando
apenas o seu opressor – tinha passado do jogo dos reis e do clero para o da
burguesia.
No
contexto do romantismo como não poderia deixar de ser registaram-se formas
próprias de concepção de história. A nível da investigação histórica, os
historiadores românticos presta particular atenção ao passado especialmente a
idade media, vista por todos como um momento particular, embora por razoes
diferentes.
Enquanto
para os conservadores ela e o centro das virtudes, momento em que se instalou o
regime ideal., para os liberais tinha sido o período do início da constituição
da classe e da sociedade burguesa.
Na
época romana há também a destacar a adopção de novos objectivos de estudos em
história abandonando-se a historia que trata exclusivamente dos factos
políticos e indivíduos e incluindo outra que considera também os ideólogos e
mentais que se preocupam com o conhecimento das sociedades e das suas
instituições como com outros povos, civilizações e costumes.
As
metodologias tiveram igualmente na época romântica com o surgimento do método
científico assente num elevado espírito de rigor, de prudência, de reserva que
pressupõe um tratamento cuidado dos factos antes de proceder a generalização.
8.3 Representantes da historia romântica
François Guizot (1787-1874) Debruçando-se sobre o facto
histórico a respeito do que apresenta uma ideia mais ampla considerando que não
e apenas o acontecimento que deve ser encarado como tal, mas também a relação
entre os acontecimentos. Afirma por outro lado, Guizot, que o facto histórico
não deve ser limitado ao político mas extensivo ao facto da civilização.
Augusto Thierry (1795-1856) Luta pela
substituição da historia dos grandes e dos príncipes pela das massas. Peca por
ser pouco rigoroso na crítica às fontes.
Jules
Michelet (1798-1874) É o percursor da actual “historia total”. Presta atenção
especial aos factos económico-sociais, culturais, religiosos, e psicológicos.
Alexandre
Herculano Seguiu o caminho de Guizot e Thierry. Da grande importância a
sociedade e valoração do povo trabalhador. Procurou, no lugar da história dos
indivíduos e peripécias, fazer a história da colectividade através das
instituições, do direito, sentimentos colectivos, relações politicas entre as
diversas formações de classes sociais.
LIÇÃO Nº 9 – AS RAÍZES DAS IDEOLOGIAS
CIENTIFICAS
9.1 O positivismo
Surgiu
no âmbito da euforia científica do século XIX tendo como principal teórico o
filósofo alemão Auguste Comte (1798-1857). Surge na altura, sob impulso, do
triunfo da Burguesia, do regime parlamentar, da elite e da fortuna; o período
do impasse entre o idealismo e o materialismo pré-marxista.
9.2 A Doutrina Positivista de Comte
Tentando
resolver o conflito que se instala entre os idealistas e os materialistas, em
que os princípios defendiam a primazia do espírito sobre a natureza e a
evolução autónoma daquele, enquanto os materialistas advogavam o contrario,
Comte avançou uma ideia segundo a qual não existe conhecimento absoluto.
Admitindo sempre a existência duma área incognoscível, vedada a razão humana,
sugere que apenas os fenómenos são cognoscíveis. Portanto o Positivismo comtiano restringe o conhecimento aos
fenómenos e as relações entre os fenómenos.
Como
dizia A. Comte “Não podemos conhecer o que esta para alem da experiência e as
reivindicações metafísicas quanto ao conhecimento de inobserváveis “essenciais”
reais e de “causas finais” são pretensões sem nenhuma garantia. O modelo de
investigação, em todas as esferas deve portanto ser dos processos adaptados
pelas ciências empíricas particulares, cujo objectivo único e descobrir as
regras que governam a sucessão e a coexistência dos fenómenos.
É a
este sistema, que defende a relatividade do conhecimento em oposição ao
conhecimento absoluto e pelo objectivismo em oposição ao subjectivismo, que
Comte chamou Positivismo
A
análise de Comte alastrou-se para o campo da sociedade, sustentado que a
evolução da humanidade tinha conhecido três etapas correspondentes a outros
tantos estádios de desenvolvimento do intelecto humano.
●
O estádio teológico em que as causas dos fenómenos
eram atribuídas a Deus ou Deuses, que corresponde politicamente ao estado
Teocrático;
●
O estado metafísico em que as causas dos
fenómenos eram vagas imaginárias, politicamente conotadas com o estado
Anárquico;
●
O estado positivo no qual os fenómenos tem causas
naturais e que corresponde ao estado Sociocrático.
9.3 A Historiografia Positivista
Baseou-se
na noção positivista de ciências da natureza. Para eles o processo histórico
era idêntico e ao processo natural, por isso os métodos das ciências da natureza
eram aplicáveis a interpretação da história. Corresponde a dizer que os
historiadores positivistas privilegiavam a determinação dos factos, pois
segundo a sua ideia de que só nos fenómenos são cognoscíveis este era o único
caminho para se chegar ao conhecimento.
Portanto
o aspecto dominante da historiografia positivista foi a sua tendência de
confundir o conhecimento histórico com a recolha e classificação dos factos,
procurando depois o historiador formular leis de evolução histórica da
humanidade e estabelecer em seguida os factos com um rigor crítico dogmático.
Assim o
que os positivistas produziram foi acima de tudo um conhecimento histórico
pormenorizado resultante de um exame cuidado das fontes. A consciência
histórica passou a se identificar com o escrúpulo infinito em relação a todo o
facto isolado, o que conduz a uma história assente na monografia.
Do
ponto de vista metodológico privilegiou-se a compilação acompanhada de uma
busca constante de fontes sujeitas, depois a um rigoroso exame crítico.
Os
positivistas consideram que não era trabalho do historiador estabelecer as
relações entre os factos, mas sim do sociólogo, que aparecia como um
super-historiador que fazia ascender a historia a categoria de ciência.
Embora
se possam fazer inúmeras criticas aos positivistas reconhecem-se nas suas
ideias importantes contributos para a ciência histórica. Podemos a este
respeito mencionar a ideia de que a sociedade humana constitui objecto de
investigação científica como qualquer outro, a ser compreendido a luz de leis
verificáveis em correlação com factos observados. Também teve mérito ao
reivindicar a interpretação dos chamados fenómenos psíquicos ou mentais.
Outro
ideal positivista de grande valor histórico e a sua perspectiva e sua convicção
de que forcas sociais e intelectuais básicas constituem a verdadeira
determinante da evolução histórica, uma vez que a eficiência da legislação e da
iniciativa politica dependem do grau em que se adaptem a tais forcas.
Na
historiografia positivista critica-se particularmente a ânsia de encontrar leis
o realce exaustivo das fontes, limitando demasiado o papel interpretativo do
historiador na construção histórica. Para alem disso e uma historia que
privilegia os aspectos institucionais e políticos. Critica-se nela igualmente o
facto de ser uma história que trabalha a nível dos eventos e do tempo curto em
detrimento das estruturas e conjunturas (sobre as dimensões do tempo histórico
falaremos mais a frente). A acepção positiva de facto histórico e também
questionável
9.4. Os historiadores positivistas
Ernest Renan (1823-1892). Tentou dar
uma explicação racional aos milagres referidos na tradição crista.
Hipolite
Taine (1828-1892) – Atribui importância aos factos económicos mas deixa-se
levar pela sua preferência pela aristocracia. Para alem disso confia em fontes
suspeitas.
Fustel
de Coulagens (1830-1889) – Procura explicar as estruturas das sociedades
antigas só pelo facto religioso. Limita a critica histórica ao estudo minucioso
e imparcial dos documentos apesar de não se preocupar coma origem e
credibilidade das fontes narrativas. Para ele “a historia não e uma arte, e
pura ciência”. Consiste com qualquer outra ciência em verificar os factos,
analisa-los, aproxima-los, em anotar o elo duns com outros. Sua únicas ambição
e ver bem os factos e compreende-los como Fustel crê que não se pode ser um
verdadeiro historiador e sem independência de espírito.
9.5 O
Historicismo
O
percursor desta linha de pensamento foi o alemão Leopold Von Ranke (17956-1886)
Os
historiadores distanciaram-se em muitos aspectos dos positivistas. Com efeito,
diferentemente destes, os historicistas defendem uma maior intervenção do
historiador que, dizem,”: deve compreender como as coisas”.
Para o
historicismo o conhecimento histórico e especifico e diferente do conhecimento
cientifico.
Deste
modo surge que enquanto as ciências exactas formulam leis gerais e abstractas a
historia descreve factos individuai, particulares e únicos e por isso e avessa
a generalização da lei. Mas no insistir na singularidade dos factos esta
corrente acabou negando a historia o estatuto de ciência.
Ora
aqui pode notar um aspecto em comum como positivismo, a valorização dos factos
históricos, com, a diferença de que para uns, os positivistas, os factos falam
por si e por isso o historiador não pode nem deve emitir qualquer opinião,
enquanto para os historiadores o mesmo tem um papel praticamente importante,
pois o conhecimento histórico pressupõe uma interpretação dos factos e não a
aceitação passiva dos mesmos.
Um
desenvolvimento particularmente notável regista-se a nível da metodologia pois
para o historicismo não basta descrever, e preciso intuir, procurar compreender
os factos históricos. Porém, peca por sobrevalorizar essa intuição, ou seja a
personalidade do historiador pois abre caminho ao subjectivismo e ao
relativismo.
LIÇÃO
Nº 10 AS RAÍZES DAS IDEOLOGIAS CIENTIFICAS – CONCLUSÃO
10.1 O
Socialismo cientifico
O
socialismo cientifico foi fundado por Karl Marx (1818—1883)e Frederich Engels
(1816—1895) que foram os seus maiores representantes no século XIX, O contexto
do seu surgimento e dominado pela luta entre o capital e o trabalho, pela
exploração da mão-de-obra e, consequentemente
,por revoltas e lutas armadas.
E
igualmente momento da expansão da revolução industrial e do capitalismo, do
triunfo dos movimentos nacionalistas, das ideias autonomistas dos povos, do
sindicalismo.
As
ideias de Marx e Engels foram no essencial produto da sua tentativa de
compreensão e explicação dos fenómenos do seu tempo, que segundo Marx são
produto e expressão da tal luta de classes entre o proletariado e a burguesia.
O
pensamento de Marx não foi uma inovação, mas sim a continuação e sobretudo o
melhoramento e critica de ideias já avançadas por figuras como Jonh Ball,Thomas
More,Feuerbach,Rousseau,Hegel,Darwin,os socialistas utópicos etc.
Sem
menosprezar os outros professores de Marx, hegel foi quem, com as suas ideias,
impulsionou particularmente o pensamento marxista, o socialismo científico.
Criticando
Hegel que defendia que todo o processo histórico `e uma transformação -mudança
das vontades humanas que se exprimem pela acção.
Marx considerou que também as formas
de vida, que exprimem as ideias, se transformam modificando estas. Dai conclui
que `e a realidade exterior que cabe o papel essencial e dinâmico sendo, por
isso, as realidades económicas, a forca -motriz do processo histórico.
Para
Marx `e a realidade económica que determina as relações de produção que por sua
vez geram as relações sociais especificas, que movidas por interesses
antagónicos conferem ao processo histórico a sua própria dinâmica a dinâmica da
luta de classes.
10.2 A
concepção marxista de historia
Tem com
base o processo produtivo e a compreensão da forma de intercâmbio relacionada e
criada por este modo de produção.
Tenta
explicar as várias produções teoréticas e as várias formas de consciência. de
religião, de filosofia, de moral, a partir da sociedade, o que permite,
evidentemente, representar a coisa na sua totalidade.
A
concepção marxista histórica, não só explica a partir da ideia, mas a formação
das ideias a partir da prática material. Deste modo entende-se que não `e a
critica, mas a revolução, a forca impulsionadora da historia e bem assim da
religião, da filosofia e das demais teorias.
Do
exposto acima surge que para os marxistas a historia das sociedades humanas
consiste numa sucessão de modos de produção - esclavagismo, feudalismo,
capitalismo - no seio de cada um dos quais a estrutura económica impõe-se `a
super estrutura jurídica, politica e ideológica, embora haja interacção entre
todos esses factores, pois a historia e globalizante. A passagem de um modo de
produção para o outro resulta da luta de classes - contradição sempre presente
quando as forcas produtivas entram em choque com as relações de produção.
Mostras
portanto que as circunstancias fazem os homens, tanto como os fazem as
circunstancias.
Pois
bem a concepção marxista de história alarga o objecto de estudo da história
pois implica estudo das condições materiais de existência dos homens e da
história das técnicas e de desenvolvimento económico no contexto global das
relações industriais. Pressupõe também o estudo do papel das massas no processo
histórico.
Vários
subsídios a nível das metodologias foram, legados pelos marxistas a história
moderna. Os marxistas deixam de se limitar a simples descrição para passar a
contemplar no seu trabalho a investigação de processos sociais e económicos
mais complexos e de maior amplitude; introduziram uma nova tendência histórica
a história global, que abarca diferentes aspectos da vida social (económica,
politica, mental) e que sobrevaloriza as estruturas sobre os acontecimentos,
--------- sobre o individual, o quotidiano sobre o acidental. O marxismo
iniciou igualmente uma nova história problemática, interdisciplinar, apoiada na
longa duração e numa perspectiva global.
Apesar
do seu inegável mérito a concepção marxista de história não teve inserção e
muito menos influenciou o pensamento historiográfico do seu tempo. A razão
disso é que o marxismo mais do que uma simples direcção de pensamento integrou
igualmente a contestação dos seus autores ao sistema capitalista na altura
dominante, o que levou ao chamado bloqueio anti marxista.
Alguns
reparos devem entretanto ser feitos `a história marxista:
i
a sobrevalorização das estruturas económicas
sobre as restantes que leva a que todos os fenómenos sejam explicado com base na economia.
ii
A colocara das mentalidades na super estrutura,
contrariando a actual tendência da historia que `e a de coloca-las como ponto
fulcral da evolução histórica.
iii
`e uma historia que acredita numa evolução
linear, considerado um único modelo de construção do processo histórico.
EXERCÍCIO
Nº 2
Questões
resolvidas
1
O renascimento constitui no essencial a rejeição
dois valores medievais e a preferência pelos da antiguidade.
-Em
que medida esta atitude renascentista influenciou a historiografia do seu
tempo?
Resposta:
Nos séculos XV-XI e acompanhando a evolução e o pensamento dominante a historia
conheceu uma reformulação em quase toda a sua dimensão. O seu objecto passou a
ser o homem que do renascimento consideravam o verdadeiro responsável pelo seu
próprio progresso, contrariando o pensamento cristão dominante na idade média.
O método passa a ser a análise da actividade humana e não procura do desígnio
de Deu sou a compilação dos dogmas; Os autores e ate a forma de exposição da
historia também se alteram na época do Renascimento.
2
O século XVII trouxe importante contributo para
o desenvolvimento da história
Em
que `e que consistiu tal subsidio?
Resposta:
O maior desenvolvimento verificado na história do século XVII foi o
aparecimento de novas metodologias e em especial de disciplinas auxiliares da
história tais como a diplomática numismática entre outras. Portanto o principal
contributo dos historiadores do século foi no alongamento do campo metodológico
da história.
3.
“ O SÉCULO XVII o surgimento da verdadeira consciência histórica.
-Porquê
esta afirmação?
Resposta:
`E no século que os historiadores começam a questionar o tipo de história
limitada a alguns sectores da sociedade ou ate de actividade propondo um
tratamento mais amplo da evolução da sociedade abarcando os diferentes
extractos e actividades sociais. Estas ideias de Historia estão bem explicitam
nas afirmações de historiadores da época como Voltaire, Condorcet, etc.
Questões
não resolvidas
1
Caracterize brevemente o renascimento.
2
Que subsídios proporcionou o renascimento a
historiografia?
3
O iluminismo, e. nos séculos XVII-XVIII , o pensamento dominante.
-
Caracterize a historiografia feita sob a influência do iluminismo.
4.
Qual `e foi o contributo dos historiadores franceses na historiografia do
século XVII.
5.
Analise o contributo de Voltaire e Rousseau na evolução da ciência histórica.
6. Criticado e quase interdito no seu tempo o
pensamento histórico de Marx e Engels revelou-se no século XX um dos pilares da
Historia Nova. Argumente.
LIÇÃO
Nº 11- A CRISE DA HISTORIA NO INICIO DO SÉCULO XX
Nos
finais do século XIX a historia era dona e senhora do conhecimento humano, uma
vez que por privilegiar os aspectos políticos, institucionais e culturais, como
era característico da história positivista, tornou-se o domínio preferido dos
dirigentes, o único modelo susceptível de fornecer normas de acção.
A
partir do século XX a historia começou a perder importância devido vários
factores;
1.
A critica feita por novas correntes historiográficas a historia tradicional.
a)
O materialismo histórico - que trouxe uma nova concepção, materialista, de
historia acentuando o papel das massas e não dos indivíduos, a importância da
historia estrutural e de longa duração em detrimento daquela que privilegiava
os aspectos particulares e factuais, o estudo das economias e das sociedades no
lugar dos aspectos políticos, a descontinuidade do processo histórico e o papel
da luta de classes;
b)
a “revué de sinthese hiostorique”/, fundada por Henri Beri, em 1990 marcou a
ruptura com o positivismo e o historicismo. A visão analítica, factual e
monográfica foi substituída pela visão de síntese.
c)em
1903 Francois Simiand denunciou a historia politica, individual e cronológica.
2
As novas correntes de pensamento
a)
Os estudos filosóficos - que alargaram o conhecimento do homem de si mesmo;
b)
O estruturalismo - cujo surgimento alterou o conceito de homem e da própria
historia.
c)A
evolução científica da época a rápida evolução dos conhecimentos científicos,
que agora se renovam constantemente, revolucionou os quadros do saber
estabelecido que assim deixa de ser um facto acabado para ser em constante
mudança, como os homens.
4.
A emergência das ciências sociais e humanas
A história perde na segunda metade do
século XIX o exclusivo do conhecimento do homem devido a individualização e
institucionalização, como ciências, de novos campos de análise e compreensão
dos fenómenos sociais e humanos; sociologia, Geografia humana, Antropologia
social e cultural, etc.
O
aparecimento destas ciências e a sua entrada no campo que antes era exclusivo
da história veio colocar aos historiadores ter novos problemas, nomadamente o
da definição do conteúdo específico da história, o da reformulação da sua
função objectiva nas sociedades modernas e o da metodologia.
11.3 As
manifestações da crise da histórica
Dissemos
que a historia entrou num momento de crise nos princípios do século porque a
partir destra altura e na sequência dos factores mencionados acima a historia
deixa de monopolizar o conhecimento do homem e das civilizações, ou seja, neste
momento já não `e soa historia que nos fornece todas as informações relativas
ao homem.
A crise também se manifesta pelo facto de
certas questões antes eram tratadas em historia terem passado para outros
domínios do conhecimento, o que corresponde a dizer foram arrancados da
história certos conteúdos.
Para
alem disso a historia perdeu credibilidade por se atrasar na adopção de uma
metodologia científica própria e a sua função específica começou a ser
contestada.
LIÇÃO
Nº 12- A HISTORIA NOVA
12,1 Os
Ananales e o surgimento da nova historia (1929-1946)
Os
primeiros anos do século XX, como já dissemos anteriormente, viveu-se um
momento de contestação a história tradicional e procura de novos caminhos a
nível do pensamento. Impunha-se uma reformulação o que começou com a criação da
revista Annales por Lucin Fabvre e Marc Bloch em 1929
Nos
Annales foram publicadas varias ideias novas sobre a historia, produzidas a
partir da evolução historiográfica dos séculos XVII e XIX, tornando-se esta
revista uma verdadeira escola historiográfica.
Ate
1946 os Annales tiveram nos seus fundadores os maiores impulsionadores o que
não significa que tenham trabalhado totalmente sozinhos nesta transformação da
historia, durante esta fase ocorreram importantes modificações na ciência
histórica.
Um dos
pressupostos básicos da história dos Annales era a luta contra a historiografia
positivista tradicional. Era portanto a luta contra a história politica e
individualizada, factual e superficial, opondo a esta história a dos homens e
populações totais, económica e social que se pretendia elevar a uma histórica
comparada das civilizações.
Baseava-se
uma história explicativa, problemática e não automática, profunda e total.
A
história dos Annales propõe um alargamento do território do historiador ou seja
uma história total, global. Recusa a selecção simples dos factos e a
valorização apenas dos referentes aos dirigentes da vida pública ou a classe
dominante e considera importante todo o facto que influa nas condições
basilares de existência da sociedade modelando atitude de vários grupos na vida
real dos seus componentes.
`e
portanto por uma historia de todos os homens ou simplesmente a historia humana.
O
desejo dos Annales sobre o alcance da história esta bem expressa na seguinte
frase de Marc Bloch: “A verdadeira historia `e uma historia universal”
Os
Annales apresentam uma nova visão de documento histórico. Para eles documento
histórico não `e só escrito, mas também o figurado, o vestígio arqueológico, a
informação oral, etc. Tudo o que pode informar sobre o passado dos homens.
Finalmente
também os Annales tem uma atitude diferente da dos positivistas no que diz
respeito ao papel do historiador, pois para eles tem um activo na construção
histórica.
Para os
Annales o facto nunca existe, senão num certo contexto e que o acontecimento só
chega a categoria de facto histórico depois que o historiador o tiver conduzido
a isso integrando-o numa determinada teia de relações. Por isso o facto
histórico e uma criação do historiador.
Sendo
assim, embora sem exageros dos historiadores Annales conferem aos historiadores
um papel importante na construção do conhecimento histórico. Também lutam por
uma história que não se limitasse na descrever os acontecimentos, mas que
procurasse resolver ou pelo menos colocar problemas pela história - problema,
para eles a grande história.
12.2 A
evolução da historiografia a partir de 1946
A
partir de 1946 a revista annales alargou os seus horizontes já com L.Febvre
sozinho a frente da direcção (Marc Bloch
foi assassinado pelos nazis em 1944) mas contando com uma valiosa contribuição
de Robertt Mandrou, Marc Ferro, Charles Moraze, Fernand Braudel,Vitorino
Magalhães Godinho,etc.
“ Hoje
a “ Historia Nova “ (…), procura estruturar-se melhor, definir os seus campos,
a sua problemática, os seus métodos e técnicas, (…).Por todos os países vão
surgindo novas maneiras de ver a Historia, adaptadas muitas vezes a condições e
problemas nacionais. Dai a multiplicidade de obras que vão sendo o lume sobre
metodologia e epistemologia nova da Historia, mas também novas obras sobre
problemas ate a pouco tempo desprezadas pelos historiadores: a família, o amor
,as festas populares, o clima, etc.”
Portanto
a historia regista a partir de 1946 uma reformulação: (i) a nível do objecto de
estudo – com a adopção de novos objectos como a família, a sexualidade, a
morte, a delinquência religião popular, etc. ate ai reservados a outras
ciências sociais. Também busca novos heróis: marginais, mulheres, camponeses,
operários, etc.
Tudo o
que diz respeito ao homem `e agora matéria de estudo em história.
(ii) a
nível metodológico – aperfeiçoando o seu método de investigação e analise e
encontrar novas técnicas e meios de investigação podendo assim, utilizar muitas
fontes históricas, o que se deveu a evolução cientifica da época, em geral, e
ao aperfeiçoamento das ciências auxiliares da historia, em particular. Deste
desenvolvimento resulta um alargamento do âmbito cronológico da história. Surge
assim na história nova há uma espécie de dialéctica entre o passado e o
presente, em que se procura compreender o presente pelo passado e o passado pelo presente.
no
campo geográfico – Passando a defender a universalidade em oposição ao euro
centrismo. A história nova nega a sobrevalorização de certos povos minimizando
outros. `e também contra a analise individualizada dos diferentes povos
propondo a integração das sociedades num todo, destacando-se claramente os
delineamentos, marcando as relações e as inter-influencias, as condições de
isolamento, discernindo os centros donde partem as invenções, num, a sucessão
cronológica, daqueles que as recebem.
LIÇÃO
Nº 13 A HISTORIA ESTRUTURAL
Após a
morte de Lucien Febvre em 1956, os annales passaram para a direcção de Fernand
Braudel e iniciou-se uma nova etapa na evolução da história particularmente
desde que em 1958 Braudel publicou o seu artigo “Historia e ciências sociais: a
longa duração” contendo as linhas mestras da actual etapa da história nova: a
historia estrutural baseada na longa duração.
Estrutura
– Designa principalmente as formas e as actividades relativamente permanentes
nas relações de proporções, nas dimensões relativas, nas relações entre as
forcas de produção. Em geral as estruturas evoluem lentamente, mas certas
modificações podem tornar a forma de mutações violentas como por exemplo uma
inovação técnica, uma revolução politica, etc.
13.1
Características da Historia Estrutural
A
recusa da concepção positivista do facto singular como objectivo principal do
conhecimento histórico impôs que a historia recorresse a conceitos de outras
ciências sociais. Neste contexto a conjuntura e a estrutura entram no âmbito da
história, que agora pretende privilegiar o conjunto, as grandes massas, estar
atente as flutuações, dinâmica no tempo e no espaço. a partir desta base
Braudel e o sociólogo Gurvitch introduziram as noções de geo-historia e o
complexo histórico-geográfico, vir-se-ia a tornar num importante subsidio para
a periodização e síntese histórica. Estas noções permitem fazer mais
inteligível o que aparece como caótico, integrando os acontecimentos em
estruturas, num espaço determinado.
a)
Introduz-se um novo conceito de tempo histórico, recusando o tratamento dado ao
tempo pelas correntes tradicionais
Braudel
sugere que o tempo histórico deve ser medido de acordo com a duração,
sequencia, permanência ou mudança dos fenómenos e não pela sequência do
calendário pois, nem sempre o tempo social coincide com o tempo cronológico.
Partindo
desta base Braudel propõe um modelo triplo de duração histórica:
-Um
tempo curto ( o tempo dos acontecimentos ) que se ocupa com as ocorrências de
superfície que não exige nem investigação nem analise profunda.
-A
média duração estuda as pequenas varia coes cíclicas – as conjunturas
- A
longa duração estuda as grandes repetições ou as grandezas e permanências. ` e
o tempo das estruturas ou a historia estrutural.
b) A
aproximação das ciências sócias e o valor da interdisciplinaridade
O ideal de história total e a teoria da longa
duração levaram a história a uma maior aproximação com as ciências humanas e
sociais, a interdisciplinaridade, a fim de captar o social na sua totalidade. De facto seria
impensável fazer-se o tipo de história que se defende nesta altura sem o
recurso a outros campos do saber.
Assim a
historia tem ligação com a antropologia, sociologia, economia, geografia,
psicologia, linguística ciência da vida, matemática, etc.
c) A
revolução nas metodologias
- a
especialização e o trabalho em equipa
A
história total, global, interdisciplinar e comparativa que se pretende na
história nova impõe cada vez a especialização, apoiada e completada por um
trabalho de equipa, interdisciplinar e integrador.
- A
critica `a historia nova
Não
obstante os progressos registados ao longo de séculos de aperfeiçoamentos a
todos níveis continuam em pleno século XX a se apontar incorrecções na ciência
histórica. Alias isso não `e de espantar pois todo o conhecimento `e relativo e
nunca se constitui como um dado feito, esta em constante reformulação.
Entre
as limitações da história nova aponta-se em primeiro lugar a falta de
originalidade, afirmando os críticos, que os annales atribuírem, dignidade
histórica a outros heróis campos, sem mudar a perspectiva, não fizeram mais do
que retirar esses elementos a outras ciências, portanto a nova historia não tem
nada de original.
Na
continuação das críticas considera-se que nova, ao mesmo tempo que suscitou o
gosto pela história aproveitou-se dela para fazer da história uma forma de
literatura, um espectáculo enquanto o historiador se transformava num
encenador. Consideram assim que a historia feita como a entendiam os defensores
da história noiva acabou perdendo rigor científico passando a partir da
intriga, da “conversa de café”mas não terminam por aqui as criticas.
Considera-se igualmente que a tentativa de explicação da problemática do
passado, conduz o historiador a reflectir, nas suas obras, mais nos problemas
do presente, de que `e portador e com os quais se identifica, do que nos da
época sobre que se debruça. Assim a historia perde objectividade.
Outros
aspectos críticos na historia nova são a dispersão da atenção do historiador
pelos campos da sociedade, economia, psicologia, etc.e a consequente
especialização que, dizem, leva a uma imagem de uma historia em fatias, aos
bocados, devido aos muitos trabalhos que passam a ser necessidades na historia
nova e; a perspectiva demasiado sincrónica da historia estrutural e o desprezo
pelo acontecimento e pela diacronia que se entende como procedimentos que
desvirtuam o sentido da historia.
--As
novas propostas
As
críticas a historiografia nova foram acompanhadas pelo surgimento, nos setenta,
na Inglaterra, e E.U.A. de novas correntes historiografias, por um lado
herdeira da história nova por outro lado, reagindo contra aquilo que se pode
considerar limitações dessa história. Estas correntes dão corpo a uma nova
perspectiva chamada Novo Estruturalismo.
13.2
O novo estruturalismo
Eis
as suas ideias – chave:
O
retorno a narrativa e a visão linear do discurso histórico;
(ii) O
regresso a valorização do acontecimento, agora integrado sob todos os prismas,
no seu próprio tempo;
iv
O retorno a historia politica.
v
O novo estruturalismo e por uma nova noção de
tempo que nega a tradicional, que o coloca como pano do fundo dos
acontecimentos, propondo que se encare COMO PARTE INTRÍNSECA DO ACONTECIMENTO.
ASSIM segue-se o princípio a tripla dimensão iniciada por Braudel, mas
considera-se que o historiador deve ser atencioso no seu tratamento evitando
sobre valorizar uns e menosprezar outros.
LIÇÃO
Nº 14- A EVOLUÇÃO DA HISTORIOGRAFIA AFRICANA
Depois
da análise historiografia feita desde antiguidade ate a época contemporânea,
tratando da Europa e parte do oriente, passamos agora análise da historiografia
africana.
O que
se pretende nesta abordagem e uma tentativa de mergulhar nos imensos problemas
ligados a elaboração e concepção da historia como ciência em Africa.
Ao
estudarmos a evolução da historia da Africa importa notar, antes de mais, que
esta foi extremamente distinta entre o norte, tradicionalmente ligados as
civilizações mediterrânicas e Árabe e, o sul do Saara.
Os
primeiros trabalhos sobre os trabalhos da Africa com o surgimento da escrita.
Entretanto essas são referentes ao norte da Africa que integrava as
civilizações do velho mundo mediterrânico e islâmico medieval.
A
Africa tropical continuava fechada, sem conhecer a critica com o seu passado
conservando-se e transmitindo por da oralidade e experiência.
Foi
assim ate a expansão do império Otomano no século XVI.
A partir dos finais do século XVIII, com a
expansão do Napoleão Bonaparte (1798) ao Egipto, renova-se o interesse pelo
norte da Africa. Tal como antes a Africa negra não e ainda referencia preferida
dos historiadores.
A
tomada de Argel pela Franca (1830) e do Egipto pela Inglaterra (1882) será
acompanhada pelo surgimento de um ponto de vista europeu colonialista na
história do norte de Africa.
A
modernização do Islão desenvolvimento da instrução do tipo europeu nas colónias
e o surgimento dos movimentos nacionalistas levou ao surgimento de escolas
historiografias produzindo escritos em árabe, inglês e francês.
Na
Africa tropical o estudo foi bastante limitado e as informações de autores
antigas para alem de raras não inspiram muita confiança. Só na época clássica
aparecem primeiras fontes credíveis sobre o mar vermelho e o Indico escritas
pelos mercadores. Africa ocidental, norte do Sudão e de Africa oriental as
melhores a lá passavam informações são dos autores árabes que por
Sobre ou se
tinham instalado fazendo comercio. Al-Masudi (morreu em 950), Al-Bakri
(1029-1094), Al-Idrisi (1154), Ibn Battuta (1304-136y9), Hassan Ibn Muhamad al
Wazzan’n (Leão africano-1494-1552), etc. foram os autores das fontes mais
importantes dos séculos XI a XV.
Contudo
não estávamos ainda em presença de historiadores de facto pois o seu trabalho
não passou de descrições de regiões de Africa a partir das informações
possíveis na época, não fazendo qualquer estudo sistemático sobre as mudanças
ocorridas ao longo do tempo. Para alem disso era informações duvidosas.
Um dos
primeiros e mais importante historiador da Africa foi Ibn Khaldun (1332-1406).
Estudou a Africa e suas relações com o Mediterrâneo e o Próximo oriente,
introduziu o modelo de ciclo para a história da Africa e tentou chagar a
verdade histórica através da crítica e da comparada. Estudou também o Mali com
base na tradicional da época.
Quando o Islão e com ele a escrita, chegou a Africa
oriental, os negros africanos começaram a conservar a sua historia através de
textos escritos. Foi o caso dos Ta’rikh All-Sudan,Tarikh Al-Fattash,a crónica
de Kano, a crónica de Kilwa, etc.
No século XV os europeus começaram o contacto com a costa
africana dando lugar a produção de obras literárias de valor histórico. Foram
produzidos na costa da Guine materiais que fornecem testemunhos directos e
datados bem como compilações de relatos. Mas eram mais descrições sobre a
situação contemporânea da época do que historia. Noutras regiões da Africa
tropical foram igualmente produzidos materiais históricos especialmente por
missionários.
A partir do século XVIII a Europa começa a prestar uma
certa atenção a Africa. No século XV os europeus começaram o contacto com a
costa africana dando lugar a produção de obras literárias de valor histórico.
Foram produzidos na costa da Guine materiais que fornecem testemunhos directos
e datados bem como compilações de relatos. Mas eram mais descrições sobre a
situação contemporânea da época do que historia. Noutras regiões da Africa
tropical foram igualmente produzidos materiais históricos especialmente por
missionários.
A partir do século XVIII a Europa começa a prestar uma
certa atenção a Africa. Os livros opeus de historia começam a contemplar a
Africa um número considerável de páginas e algumas monografias sobre história
são produzidas. No entanto e uma historia eurocêntrica que se faz sobre a
Africa neste período e nos tempos que se irão seguir.
A visão euro centrista da história resultou da
convergência do Renascimento, do Iluminismo e da evolução científica e
industrial. Partindo do que chamavam herança greco-romana única os euro
centristas julgavam os objectivos, conhecimentos, poder e riqueza da sua
sociedade preponderantes e que como tala civilização europeia devia se sobrepor
as demais. Consequentemente a sua história era a chave de todo o conhecimento e
dos outros em especial a africana sem nenhuma importância.
Hegel foi muito claro a este respeito quando disse:”A
Africa não e um continente histórico; ela não demonstra nem mudança nem
desenvolvimento.”
Este ponto de vista manteve-se no século XIX e tem ainda
alguns adeptos em pleno século XX.
A implantação da nova história da Africa foi obra de
historiadores profissionais que fizeram dela o objecto do seu ensino e os seus
escritos. Quase nulo em 1950, o num, erro de historiadores profissionais com
nível de doutoramento ou equivalente escrevendo sobre Africa rondava os 500 em
1970.
A promoção de uma história de Africa descolonizada começa
por volta de 1947, quando intelectuais africanos começaram a definir a sua
própria concepção em relação ao passado africano e a buscar nele fontes de uma
identidade cultural negada pelo colonialismo. Tenta-se já uma história livre de
mitos e de preconceitos subjectivos.
A partir de 1948 foram criadas Universidades com
Departamentos de historia marcando um novo impulso a história de Africa. Surge
uma história de Africa comparável a de qualquer outra parte do mundo.
A fundação de novas universidades criou a necessidade e a
possibilidade de uma história renovada da Africa, sob um ponto de vista africano.
O início do estudo da história de Africa noutros
continentes constituiu igualmente um factor importante para a reestruturação da
história africana.
As independências dos países africanos a partir da década
de 1760 criaram um renovado interesse pela Africa e uma considerável
curiosidade popular.
Antes porem, a partir do princípio do século XX e
sobretudo depois da primeira guerra mundial, tinha se espalhado um pensamento
que pretendia minimizar e ate negar a influência de presença europeia em
Africa, apresentando-a como um acontecimento de ínfimo impacto na evolução
histórica da Africa .Este pensamento afro centrista constitui também uma etapa
importante na evolução da historiografia africana.
Portanto, começando do século XIX altura em que começa a
ser regular e ate seriamente escrita, a história da Africa seguiu três
correntes principais: o euro centrismo, o afro centrismo e ainda uma corrente
intermédia, a que alguns dizem progressista, que tenta estabelecer um certo
equilíbrio entre as duas primeiras claramente radicais em defesa dos objectivos
que perseguem.