Por essa altura, o Exército Iugoslavo tinha recuperado o controle de uma parte considerável do Kosovo e os EUA recorreram à chantagem direta: não haverá paz com os kosovares, comecem a se preparem para o pior. Slobodan Milosevic foi obrigado a ceder. Eu estive em Belgrado nessa altura e convivi muito com os meus colegas jornalistas. Todos eles diziam que Milosevic compreendia perfeitamente que, mais dia, menos dia, iria ter início uma guerra contra a Sérvia. A OTAN já se estava preparando para isso havia mais de seis meses, mas a opinião pública norte-americana e europeia ainda não estava preparada e isso requeria tempo e dinheiro.
 Logo depois de Milosevic ter aceitado, em 13 de outubro de 1998, as condições de Holbrooke e Clinton, teve início uma nova campanha de propaganda contra a Iugoslávia. Os primeiros a levantar a voz foram Ibrahim Rugova e Hashim Thaci. Eles diziam que não estavam satisfeitos com os acordos alcançados em Belgrado para uma solução pacífica do problema do Kosovo e que nunca iriam acreditar na boa vontade da Iugoslávia, apelando de novo aos norte-americanos para que estes atacassem as forças sérvias.
 No dia 15 de outubro de 1998, as mesmas posições belicistas foram defendidas em Genebra, num apelo à comunidade internacional, pelo “representante político do ELK” na Suíça Bardhyl Mahmuti. Numa coletiva de imprensa no Palácio das Nações, em Genebra, ele classificou de “absurda” a decisão da deslocação para o Kosovo de 2000 observadores da OSCE, tendo atribuído às autoridades iugoslavas a intenção de usá-los como escudos humanos para o caso de se realizarem ataques aéreos da OTAN. Mahmuti exigiu a participação do ELK no processo negocial sobre o Kosovo, tendo posto em causa os acordos alcançados entre o emissário Holbrooke e o presidente iugoslavo Slobodan Milosevic. “Ninguém tem o direito de firmar acordos sobre o estatuto do Kosovo sem a participação do ELK, e este não vê qualquer outra decisão a tomar que não seja a independência”, concluiu o representante de Thaci.
 Mahmuti declarou igualmente na altura que, relativamente ao armamento, o ELK “não tem qualquer problema, há muito disso nos Bálcãs”, tendo acrescentado: “Nós estamos dispostos a continuar a luta armada até à independência”. O representante do ELK discursou no mesmo dia em Genebra com declarações contraditórias relativamente aos direitos civis dos sérvios no futuro “estado independente”. Primeiro, ele assegurou que “no nosso estado independente” a população sérvia e as restantes minorias teriam os mesmos direitos que os albaneses e que “não haverá represálias” contra a minoria sérvia. No entanto, passados alguns minutos, ele já insistia que os sérvios e os albaneses, tendo histórias e culturas diferentes, não podiam viver juntos.