sábado, 28 de dezembro de 2013

Despartidarização e Inclusão na Unidade Nacional

 
A agitação que se verifica actualmente nalgumas mentes dá razão à Kennedy, o presidente americano dos anos 60, quando disse que «quando uma sociedade livre não é capaz de ajudar os muitos que são pobres, não pode salvar os poucos que são ricos». Existe uma ideia generalizada mas compreensível de que a Frelimo, partido no poder desde 1975 e que representa apenas uma parte de forças políticas nacionais com apenas meia ideia sobre cada assunto, assumiu o controlo absoluto de tudo o que se passa sobre o país. Nas negociações levadas pela Renamo para junto do Governo, consta a despartidarização como um dos quatro pontos de maior relevo, ao lado da Paridade, da Economia e da Segurança. Fala-se de um Estado Partidarizado e da urgência da sua despartidarização. Tenho defendido a inclusão como meio-termo para reduzir as animosidades nesta questão. De facto, o Presidente Guebuza, na maioria dos comícios populares que orientou, enfatizou a inclusão e até chamou de inclusivas as suas viagens aos vários cantos desta pérola do Índico. Será a inclusão uma realidade na administração de Armando Guebuza?
 
Dependendo do ângulo a partir do qual se observe a realidade uns dirão «sim» e outros dirão «não». Esta é exactamente a dificuldade com que nos debatemos hoje em dia. Os críticos de Guebuza dizem que temos poucos exemplos de inclusão na verdadeira acepção da palavra: o que existe são apenas muitos reflexos, variações e diluições de elementos da oposição na administração pública e, quando estes se revelam abertamente, são forçosamente afastados das direcções, dos locais de trabalho e mesmo despedidos do emprego. Acrescentam que para conseguir conquistar uma posição na sociedade, o funcionário público deve parecer-se o mais possível com os ideais de quem governa, reflectir as suas ideias, opiniões, virtudes, motivações, preconceitos e vícios. E concluem que as características técnicas e a competência profissional são ignoradas e reprimidas devido à dependência, pois enquanto for o Governo a alimenta-lo, diga-se, ele tentará agradar ao dador e adaptar-se às suas condições. Todavia, a experiência e os exemplos recentes mostram que um funcionário assim mantido utiliza meios indirectos – como o voto – para se controlar, desenvolvendo exactamente, na maioria dos casos, as características que em ambos necessitariam de ser eliminadas. Não é de admirar que mais tarde, alguém fique horrorizado com os resultados dos seus próprios excessos e lamente amargamente que a falsidade, o egoísmo, a traição e os insultos à sua entidade sejam a lei da vida. E nestas condições não é possível combater a pobreza absoluta a qual exige de nós uma luta absoluta contra a pobreza implicando o envolvimento de todos e a primazia da técnica e do profissionalismo.
 
É chegado o tempo de ver tudo sob o prisma da prática, senão todo o esforço verbal é uma simples cabeça no ar. E aceitar as coisas como são, tirando-lhes o melhor partido possível. Esta hora exige um novo Evangelho da Unidade Nacional que exalte a pureza da inclusão independentemente da cor partidária para elevar o país a planos superiores de acção. Há muitas pessoas no país que realmente não compreendem, ou dizem não compreender, qual é a grande questão entre a partidarização e a inclusão. E há quem diga que a inclusão é a onda do futuro enquanto a partidarização pertence ao passado. Eu defendo inclusão! A inclusão também dos quadros da oposição em todas as esferas públicas – desde que aceitem – como primeiro passo. À Renamo, cujas preocupações parte do povo partilha, é necessária uma promessa da lealdade de amigos fiéis porque unidos, é muito pouco o que não podemos fazer no quadro de inúmeros desafios de hoje. Divididos, pouco podemos fazer. Aos outros partidos basta recordá-los que, no passado, todos aqueles que insensatamente procuraram o poder montados num tigre acabaram dentro dele. Ao povo que, nas matas e aldeias do país, luta para quebrar os grilhões do engano, é preciso envidar os maiores esforços para o ajudar a ajudar-se a si próprio, durante o tempo que for necessário – não porque a oposição o possa estar a fazer, não por interesse nos seus votos, mas sim porque é atitude correcta.
 
Tudo o que for feito para elevar a confiança de cada moçambicano nas suas próprias forças e competências promoverá uma nova época de paz e perfeição para a nação. Quando falo da inclusão, não quero que pensem que apenas limitar-me-ei na teoria. Mas também não quero que pensem que defendo o Governo de Unidade Nacional ou, na pior hipóteses, dividir para reinar. Pretendo, num espírito puro, mostrar que é possível evitar a existência de tribos renegadas que vejam no Governo e nos governantes a face da opressão ante a nova epopeia do realinhamento das identidades. Tomemos o exemplo de Sofala, terra que viu a nascer Afonso Dhlakama, a face visível da oposição nacional. O que pode acontecer se Armando Guebuza nomear Dhlakama como Governador desta província? Iria Dhlakama recusar ou aceitar e como ficariam os seguidores da Renamo e provavelmente das outras forças políticas incluindo da própria Frelimo? Na verdade, um gesto desta magnitude iria trazer benefícios mútuos e testemunharia o pico do que significa, na voz do pai da nação, a inclusão. Nesta primeira abordagem, refiro-me também à inclusão daquelas pessoas que são a face visível da Renamo, cujos argumentos e ideias mostraram serem competentes, entre as quais Ivone Soares, Fernando Mazanga, A. Muchanga, só para citar poucos. Imagino a cara de todos aqueles que conhecendo a minha postura ficaram estupefactos com a minha proposta e têm dúvidas quanto à sinceridade das intenções por detrás deste exemplo. Ninguém conceberia nunca que aos frelimistas preocupassem as vias de inclusão.
 
No Moçambique de hoje, com toda a sua agitação, assistimos a um esforço constante para desacreditar a Frelimo e destruir todo o equilíbrio de forças da sua grandeza: antigos combatentes, quadros seniores e cofundadores do partido, jornalistas, médicos, madjermane, cientistas nacionais, secretários de povoações e de bairros. Mas a História, qual mãe carinhosa, está constantemente a tentar mante-la no seu respectivo lugar, a apaziguar os furiosos ventos e vagas, para que a paz, a harmonia e a unidade da nação possam reinar supremas. Por isso, o nosso tempo exige já o alargamento da participação política da oposição e, no lugar de combater os críticos «internos e externos» acomodar-lhes as suas justas reclamações. A inclusão das figuras da Renamo na governação, longe de ser uma fraqueza e ameaça à hegemonia frelimista, representaria melhor o todo e protegeria melhor os argumentos de quem verdadeiramente é o garante da Unidade Nacional. E se um princípio de cooperação com a Renamo conseguir fazer recuar o ódio escondido na selva suspeita, que nos juntemos numa nova empresa de inclusão dos restantes partidos políticos, dos restantes críticos num país onde os fortes sejam justos enquanto os fracos estão em segurança e se preserva a paz. Não será possível realizar tudo isto em um ano, em um mandato, nem provavelmente durante as nossas vidas. Mas comecemos e unamo-nos para que em todos os lares deste país seja ouvido o recado de Jesus Cristo «na casa do meu Pai há muitas moradas».
 
Nas mãos da Frelimo, mais do que nas da oposição, está o sucesso ou o fracasso do nosso projecto como nação. Desde a sua fundação em 1962, cada frelimista tem sido chamado a provar a sua lealdade nacional. As campas dos que responderam à chamada estão espalhadas por todo o país. Agora, o clarim toca de novo – não em chamada às armas, embora precisemos delas, não para combatermos, embora estejamos em combate, mas sim para carregarmos o fardo de uma longa e sombria luta, ano após ano, alegres na esperança, pacientes no sofrimento, um combate contra o inimigo do nosso fracasso: a exclusão social e a elitização das oportunidades. Contra estes inimigos, forjemos uma aliança nacional que possa assegurar uma vida mais frutuosa para todos. Requer uma decisão histórica pois na longa história do Mundo, poucas foram as organizações políticas às quais foi concedido o papel de defender a sua sobrevivência na sua hora de maior perigo. Que a Frelimo não recue perante essa responsabilidade e não a deixe para os outros, pois mais cedo ou mais tarde ela será uma realidade e feliz será quem a puser em prática. Não acredito que algum de nós veja vantagens na exclusão político-social. A energia, a fé, a devoção que pusermos nesta empresa iluminará o nosso país e todos os que o querem servir e o brilho deste fogo poderá, na verdade, iluminar as vitórias futuras. Já não podemos arriscar improvisos de emergência na garantia da Unidade Nacional. Como nação, lutemos para sermos poderosos e estarmos prontos para entrar em acção, para que nenhum potencial agressor possa sentir-se tentado a arriscar a sua própria destruição. Que assim seja!!

Eusébio A. P. Gwembe

1 comentário:

  1. Está no bom caminho, Eusébio, quando sugere uma política de inclusão. Não creio que atribuir o cargo de governador provincial ao líder da oposição seja a forma correcta. Uma vez que Óscar Monteiro falou naquilo que designou de tradição descentralizadora da Frelimo desde o II Congresso, creio ser apropriado o regime começar a pensar em termos de autonomia num esquema federativo. É uma forma de consolidar a unidade nacional. Embora a unidade nacional seja um dos pilares do programa do regime Frelimo enunciado desde a independência, a política de exclusão por ele seguida actuou como o oposto desse princípio. Não seria um exagero dizer que na prática a política do regime constitui uma ameaça à unidade nacional por ele preconizada. Usando uma expressão de Sebastião Mabote, utilizada durante a crise estudantil de 67, o regime da Frelimo tem " anda(do) a brincar com a etapa ".

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