No Notícias de 24 de Setembro corrente, do Centro de
Conferência Joaquim Chissano não saiu nenhum fumo branco. A Renamo voltou a
insistir na imperiosa movimentação das forças de segurança estacionadas em
Gorongosa e Vanduzi como condição para o seu líder aceitar deslocar-se a Maputo
ao encontro com o presidente da República. Estamos assistir serenamente a um
partido político dar ordens a um governo sobre onde e quando deve colocar as
forças operacionais. Mas a Renamo não está só movida por forças motrizes
internas e a sua insistência em impor a presença de observadores internacionais
é prova inequívoca de estar ao serviço de poderes estranhos aos interesses
nacionais. Não é a transparência! A Renamo confia mais nos estrangeiros do que
em moçambicanos. Se, nopassado, praticamos o erro e lhe sofremos os prejuízos, saibamos
ao menos aproveitar dele a lição: aceitar, sem salvaguarda suficiente, teses
estrangeiras construídas para a defesa directa ou indirecta de interesses que
não são os nossos é preferir ao risco de
morte na guerra a certeza do suicídio na
paz. Que os estrangeiros não nos entendam ou não lhes convenha entender-nos –
vá!. Mas sabendo todos, de História certa e feita de experiências ainda a
sangrarem, não ser hoje possível com a Renamo qualquer entendimento que não se dirija,
a ritmo vertiginoso, para a destruição de Moçambique em seu património moral e material,
já custa muito admitir que algum moçambicano possa pôr em causa a política do
Governo, na medida em que ela defende, pela palavra e pelo sangue, a
integridade da nação e a resolução dos problemas nacionais por moçambicanos.
Até porque, diz o mesmo Jornal, o Governo dá à Renamo a possibilidade de
aumentar o número de integrantes do seu grupo negocial. Enquanto isto, informações que nos chegam do palco dos
confrontos não dão margem para dúvida. A Renamo continua ela própria com o seu
plano primordial dos tempos da glória: destruir e matar enquanto engana, aos
ecráns, a opinião pública, de estar interessada no diálogo. O diálogo, como é agora
moda dizer-se, só pode ser estabelecido, e é indispensável, acerca de problemas
nacionais que comportem mais do que uma solução nacional. Mas não há diálogo
sobre o «sim» e o «não» porque não pode transacionar-se o que é insusceptível
de ser transacionado. Nós sabemos – e nisso o mundo inteiro está de acordo
connosco – que qualquer negociação sobre a situação política actual recorrendo
aos negociadores estrangeiros corresponderia fatalmente a aceitar que deixasse
de ser moçambicana uma parte dos problemas moçambicanos. Os defensores da
caducidade histórica da Renamo pretendem forçar a situação a fim de integrarem
o Governo por vias não democráticas e assim, poderem reconhecer que, de facto,
o governo moçambicano é inclusivo. Dai que o diálogo sobre a política que sustenta
a solução de concessão unilateral, na diversidade das suas opiniões, só tenha
viabilidade e sentido no plano em que os renamistas se vejam no poder e com
reforma garantida.
Não sei de um só homem
que, forçado a reconhecer a brutalidade objectiva da situação do caos a que as forças da Renamo
meteram parte do solo pátrio, tenha a coragem de defender o negócio com os estrangeiros
sobre a política nacional, para maior bem estar imediato do país e para aplauso
pelo estrangeiro de um governo que, traindo a pátria, logo seria considerado o
mais representativo de quantos governam o mundo livre. Por este preço não. Não conheço, aliás, governo de nação digna desse nome
que precise de recorrer a prévio reconhecimento derrotista para defender a
integridade do solo pátrio. Mas o levantamento do povo por Moçambique, o seu
sofrimento por Moxungue, que mais expressivo e mais solene exemplo? A Renamo Sabota
o progresso, ela sabota negociações e, por cima, sabota as vias para a construção dos caminhos
para o entendimento. Só lhe não poderemos chamar «sabotagem» por ser ela o coro,
a uma só voz, de todos os que lançam a culpa, no seu direito, ao governo. Todavia, aos que duvidaram, há poucos meses, da possibilidade
de dominarmos o terrorismo da Renamo, a nação, virada ao futuro, responde hoje
com a sua política de diálogo interno. Hoje, nós podemos dizer-lhes que, na hora
incerta do Mundo, esta é a hora certa de Moçambique e para moçambicanos que
recusam seguir a bússola do colapso sustentada pela Renamo.
Pedro MAHRIC