«E desceu a chuva, e correram rios, e
sopraram ventos, e combateram aquela casa; e não caiu, porque estava edificada
sobre a rocha». Estas palavras, ditas por Jesus Cristo, perto de Cafarnaum, na
Palestina, cerca de 30 d.C., continuam a fazer eco nos nossos tímpanos
politizados com uma aplicabilidade multissectorial.
Tenho lido, em alguns veículos de
comunicação de massas, a pseudo-preocupação sobre a sucessão de Guebuza. Fala-se
de um Guebuza apegado ao poder, desejoso de só o deixar quando garantidos os
seus negócios. Falam de que a Frelimo precisa tempo para fazer o marketing
político do seu candidato a fim de ser conhecido por todos. Até aqui tudo bem.
Todavia, a capacidade de muitos dignos cavalheiros, militantes ardilosos do
lado menos visível do metical, deixa muito a desejar. Tal como os fariseus,
começam por elogiar como se tivessem um bom desejo para a Frelimo escondendo o
que realmente lhes move. Sim, o móbil dos seus desejos. E qual ou quais os
móbeis por detrás dessa campanha toda?
Evidentemente, são vários, mas no topo
da agenda é o ódio, a aversão e a antipatia que sentem para com Guebuza e para
com todos os que com ele se relacionem. É o ódio a Guebuza que mais lhes move
as pestanas do que a razão que os seus corações tanto necessitam. É o desejo de
linchamento político e público, de assassinato de carácter da figura que for
indicada. É a pretensão de criar um poder paralelo dentro da Frelimo e, por via
disso, equacionarem a possibilidade dos seus lugares ao sol. Mas sobretudo,
pretendem promover a campanha edificadora das potencialidades dos seus líderes,
enaltecendo-lhes as qualidades em função dos golpes por infligirem ao escolhido.
O resto das suposições benevolentes não passa disso mesmo: resto.
Se se exige a saída de Guebuza e até há
Jornais que perfilam a buscar desvendar o mistério da sua sucessão, não faz
sentido lógico que estes nobres e bem intencionados analistas questionem o carácter
perpétuo do Engenheiro Daviz Simango na Beira? É que está a sufocar a mente de
muita gente identificar uma cidade com uma pessoa e vice-versa, incluindo outros
edis frelimistas que já estão ao segundo e terceiro mandatos. Ao menos Guebuza
já o disse publicamente não pretender continuar. Quando é que ouviremos um
Simango a dizer o mesmo?
É legítimo que
se questione a sucessão de Guebuza mas quando se insinua alguma bondade nisso
também é de questionar. Não basta a mudança de pessoas para que a bandeja da
bonança se destape e a riqueza se espalhe, pronta a ser recolhida. É preciso
que tal mudança não traga instabilidade. É isto que qualquer líder sensato
procuraria fazer. É mais conhecida a máxima «cada sociedade tem/possui os
governantes que merece». Separar os governantes da sociedade é um erro. Nenhum
governante brotou do subsolo como um cogumelo. Podemos colocar uma pergunta de
leve: a quem interessa a sucessão de Guebuza?
E até provas
em contrário, recuso-me a acreditar que os que a desejam fazem-no ao interesse
da nação. Pode ser que o façam porque o círculo se aperta à sua volta e à volta
daqueles para quem desejam combater até ao último homem. E até provas em
contrário, recuso-me a acreditar que o verdadeiro povo moçambicano queira debater
a sucessão no lugar de debater os problemas de comida, luz, água, estradas,
hospitais, escolas, pontes, que representam o verdadeiro interesse nacional. Há
funcionários públicos metidos nesta campanha? Sim, e muitos! E o que eles
desejam, a nível pessoal e privado, fora do que se disse acima?
Para responder
a esta pergunta, outras se fazem necessárias: o que move estes indivíduos, por
vezes formados a custo zero e com salário público em dia, a serem rebeldes de
consciência, por pensamentos e palavras, actos e omissões, contra o próprio
governo que lhes deu a formação e o emprego? Será por causa do sentimento
filantrópico que defendem estarem imbuídos ou apenas pela necessidade de um
reconhecimento público que a Administração Guebuza lhes negou? As respostas a
estas perguntas não cabem num texto deste tamanho. Mas a intuição leva-nos a
responder apressadamente que entre as várias razões privadas figuram:
i)
Auto valorização exagerada em relação ao
percurso da própria vida familiar, escolar e profissional;
ii)
Resistência camuflada à obediência no local de
trabalha causada pelo espírito de superioridade, ainda que pareçam cumprir com
os deveres laborais;
iii)
Falta de vocação para o trabalho em que estão
formados ou a desempenhar;
iv)
Alto índice de expectativa pela recompensa e
consequente demora desta pelo trabalho feito que julgam merecer;
v)
Ambição em serem os primeiros entre os iguais.
Já que
a saída de cada líder convida novos actores, estes indivíduos desejam ser os próximos
da linha. Portanto, a promoção da questão da sucessão de Guebuza encobre
interesses privados, camuflados de nacionais. É uma questão de preparação de
terreno para os próximos lambebotas. Nela, não existe nenhum interesse
nacional, ao menos na forma como tem sido debatida, muito menos para a
fortificação da Frelimo. Se estas chamadas de atenção não contribuem para
sossegar os espíritos revolucionários, esperemos pela caída da chuva, e pela
corrente dos rios, e pelo sopro dos ventos, e pelos combates e veremos qual das
casas não cairá porque edificada sobre a rocha.
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