quarta-feira, 15 de março de 2017

Amurane, o ovo de ouro que o galo não quer perder


Da pomposa acusação contra Amurane, resultou uma crise angustiosa do MDM que mereceu uma resposta jocosa de Daviz Simango. A gravidade épica do caso, insensivelmente, leva a nossa pena, ao escrever do assumpto, a cair em ecos que fazem rimas, como se o argumento estivesse a pedir epopeia. Camões há bastantes anos que desapareceu na poeira do sepulcro, e é de recear que não apareça por aí cantor á altura do feito, vate á prova de novos traidores. Dentro das fileiras emedemistas, formou-se e consolidou-se este dogma que, como dogma, já ninguém discute: Amurane já está de saída. Isto é dogma para os apoiantes do Daviz Simango, porque lhes convém que assim seja. E são eles que teimam em esbaforir-se por causa da sua crença numa aurora de reconciliação interna que, realmente, não chegará a ser dia. A força de tanto se ouvir esse preceito, também ele tem sido para nós um dogma, simplesmente sem a lata interpretativa que lhe possamos dar. Resta saber se Amurane sai sozinho ou por uma ordem de expulsão.
Em apuros, pesadelo prolongado, desespero, são algumas das palavras honestas para classificar o clima no MDM. Os seus conselheiros espirituais, os seus adeptos virtuais e reais estão divididos. Não sabem se apoiam ao galo ofendendo o pinto ou se ao pinto ofendendo o galo. “Amai-vos uns aos outros” é o apelo do momento. Amurane, o edil de Nampula, exige do Simango, o edil da Beira, um pedido público de desculpas. Sinango fala em democracia interna. O pomo da questão reside no facto de o primeiro julgar-se vítima de calúnias, aparentemente promovidas por testas-de-ferro nativos do segundo. O ambiente é, por assim dizer, de cortar á faca. Uns dizem que Amurane é um corpo de ferro com pernas de barro. Qualquer movimento em direcção a água irá causar danos porque o barro com que se moldaram as suas pernas irá derreter. Para eles, Simango pode dizer “Pai, se for possível afasta de mim este cálice”. Outros, em número reduzido, continuam dando razão ao Amurane.
Para nós, trata-se de uma luta cultural. Para o bem do partido e para o bem do próprio Amurane, uma cisao quanto cedo melhor, antes que se criem danos mútuos maiores. Haverá coragem para tal? Pelo sim ou pelo não, com ou sem machado na mão, pronto a cortar o mal pela raiz, a marginalização de Amurane será sinónimo de uma afronta cultural entre os fantoches de Simango e os macuas da casa, não só da cidade de Nampula como também dos distritos daquela província. Na verdade, a luta não pode ser vista como entre Amurane e MDM ou entre aquele e Simango, mas o início de uma resistência e necessidade de afirmação da cultura e das lideranças macua ante a expansão Ndau, representada primeiro por Dhlakama e agora por Simango. Amurane pode ser desses ovos que não aparecem por acaso. Os ovos de ouro. Terá algum suporte e coragem? Por quanto tempo, ninguém sabe dizer.
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