domingo, 31 de março de 2013

Guebuza é que tem patrões estrangeiros - CONTINUAÇÃO

E como está o processo de transfer-ência do sistema de gestão dos transportes públicos do Governo para o município da Beira?
Também fomos infelizes. Submete-mos a proposta à Assembleia Mu-nicipal, mas rejeitaram a proposta. Tivemos oportunidade de falar com o vice-ministro dos Transportes e Comunicações para compreender-mos como funciona o processo de transferência da gestão de trans-portes públicos e a recomendação foi que era preciso criar uma em-presa municipal de transportes e a partir dela solicitar a transferência. A criação da empresa foi recusada pela Assembleia Municipal e auto-maticamente todo o processo ficou bloqueado.
Qual foi o argumento que a Assem-bleia Municipal apresentou para chumbar a proposta?
Não apresentou nenhum argumento. Apenas disse que não dava. E nós tínhamos planeado dois modelos. No primeiro, o município recebia os resíduos da empresa TPB e no seg-undo dizíamos que o que existe da empresa TPB sai muito caro para o município, pelo que vamos comprar novos autocarros para o transporte público na Beira.
O Governo Central transferiu re-centemente a gestão do transporte público urbano para os municípios de Maputo e Matola. Mas o mu-nicípio da capital do país já está a abater alguns autocarros que herdou da empresa pública TPM. Não teme receber prejuízos dos Transportes Públicos da Beira?
O problema é que por mais que os colegas autarcas de Maputo e da Matola tivessem vontade de manifestar a sua indignação perante o que receberam do Governo Central, não tinham muito espaço. Veja que o Governo trouxe os autocarros de onde trouxe e entregou-os aos mu-nicípios para gerir. Nós nãos íamos aceitar isso. Porque não é concebível hoje que se adquira um equipamento que ao nível do mercado interno não se encontre sobressalentes ou acessórios para a sua manutenção.
A Assembleia Municipal da Beira queixa-se que o Conselho Mu-nicipal às vezes não cumpre com as suas deliberações. Por exemplo, a proposta da alteração dos sentidos nas vias da cidade que foi reprovada pela Assembleia Municipal através da deliberação N°42/AMB/2012. Mesmo assim, consta que o Consel-ho Municipal avançou com a nova sinalização…
O Conselho Municipal trabalhou com a Associação dos Transpor-tadores da Beira, trabalhou com a Polícia Trânsito e trabalhou com o INATTER e outras instituições vocacionadas na gestão rodoviária.
Fizemos uma proposta concreta que foi assinada por todas estas institu-ições especializadas e propusemos à aprovação da Assembleia Municipal. Nós como Conselho Municipal tive-mos a iniciativa de ir trabalhar com as instituições de Direito que nos aconselharam e o Conselho Mu-nicipal simplesmente chumbou.
Imagine o nível da compreensão da Assembleia Municipal, até ao ponto de chumbar instituições de Direito que regulam o funciona-mento rodoviário. É extremamente grave. O que fizemos é que já havia um sinal num dos troços onde havia acidentes e era preciso agirmos. São vias que registavam muitos acidentes. Portanto, não podíamos parar sabendo que há vítimas hu-manas. Temos outro exemplo em que o Conselho Municipal ignorou a de-liberação N°45/AMB/2012 da Assembleia Municipal que ordenava a devolução do espaço e material de construção confiscado pelo mu-nicípio ao cidadão Samuel Rodri-gues. Até hoje o Conselho Munici-pal ainda não devolveu nada a este cidadão…
Não posso mentir, não estou a ver quem é esse cidadão. Para respond-er precisaria de me inteirar junto dos colegas do município.
O senhor Presidente não se lembra de nenhum conflito de terra que envolve o município?
Conflitos de terra são tantos e vão existir sempre. Eu poderei dar mais dados assim que souber quem é esse cidadão e o que terá acontecido. Sei que tivemos várias petições na As-sembleia Municipal, mas algumas eram petições de burla, outras em que certos cidadãos faziam-se pas-sar por pessoas de boa-fé e queriam burlar empresários e nós somos rígidos quanto ao combate à cor-rupção. Temos também casos de membros da Assembleia Municipal que vendiam terrenos e nós agimos contra eles. O município é também acusado de expropriação das machambas dos munícipes e em compensação paga, de forma indiscriminada, dois mil meticais. Não acha que estão a cometer uma injustiça contra os munícipes?
Em Moçambique existem leis li-gadas ao Ministério da Agricultura que definem quanto custa uma ár-vore, uma árvore de fruta, macham-bas, etc. O Conselho Municipal está a cumprir a lei que define o custo de cada benfeitoria.
Mas temos de perceber que a cidade da Beira é um pântano. Onde hoje existe o edifício do Conselho Municipal eram machambas, onde existem todos os prédios eram pân-tanos. E por natureza própria, os pântanos são favoráveis à produção de arroz em tempo de chuva e à produção de batata-doce em tempo seco. E é assim como vivemos. Mas é preciso compreender que a expan-são urbana está a crescer e a gestão do solo urbano está a cargo da au-tarquia. Nós temos um plano de es-trutura urbana e fizemos uma coisa inédita: Estamos a preparar o plano 2035 que vai integrar o porto, a ex-pansão da energia, de água… Hoje o plano do próprio Porto da Beira está ultrapassado, pois verifica-se um congestionamento de camiões.
E isso não pode acontecer, o porto tem de expandir, tem de ter uma área de reserva tendo em conta a sua importância para o desenvolvi-mento da cidade. Os camiões não podem continuar a entrar na cidade para chegar ao porto, tem de se en-contrar estradas direccionadas para a zona portuária e industrial.
Como avalia a convivência política entre o Conselho Municipal e o representante do Estado na Beira?
Nós temos um feitio próprio de es-tar. Temos uma missão, temos um legado que nos foi incumbido pelos munícipes para dirigir o município e tomar conta dos seus destinos. Naturalmente o Governo entendeu nomear um representante do Es-tado que tem as funções próprias. Portanto, nós não nos cruzamos com eles.
E com o Governador?
Cada um faz o seu papel. É verdade que nas cerimónias púbicas troca-mos abraços, o Conselho Municipal tem parcerias com o governo pro-vincial, assim como eles devem ter parcerias com o Conselho Munici-pal. E assim vamos continuar nesse ambiente de trabalho.
Em Moçambique, os municípios ainda dependem do Governo Central em termos financeiros. Em que nível estão os níveis de colecta de receitas no município da Beira?
A cidade da Beira recebe fundos do Governo Central através do Fundo de Compensação Autárquica, mas não está atado a esses fundos. O Conselho Municipal esforça-se no aumento de receitas internas. Ex-igimos metas aos nossos colectores de receitas e estão a lograr sucessos. Nós começámos o primeiro man-dato com receitas nos mercados na ordem de oito mil meticais/dia e hoje estamos a cobrar 64 mil met-icais/dia. Os mercados são uma das principais fontes de receitas.
Os nossos orçamentos andam por volta dos 700 a 800 milhões de meticais/ano e as colectas internas cobrem cerca de 60% do nosso or-çamento. Por outro lado, a cidade da Beira é uma escola na gestão do fundo da redução da pobreza urba-na. Nós não fazemos o que acontece em outras cidades onde os edis ou administradores entregam dinhei-ros. Nós recebemos a transferência do Governo Central que são um pouco mais de 14 milhões de met-icais e metemos no Banco Terra. Os conselhos consultivos recebem e se-leccionam os projectos e submetem à revisão e estudo da viabilidade da comissão técnica constituída por funcionários do Conselho Mu-nicipal e membros da sociedade civil. Este por sua vez propõe a ho-mologação dos projectos aprovados do Conselho Municipal. O nível de desembolsos ultrapassou no primeiro ano sete milhões de met-icais. Este é um caso de estudo e de divulgação, mas ninguém divulga.
Recandidatura nas mãos dos partidários do MDM Senhor Presidente, está no fim do seu segundo mandato, vai avançar para a corrida do terceiro mandato?
Eu sou cidadão filiado a um par-tido político que é o Movimento Democrático de Moçambique. Os órgãos do partido é que vão deter-minar quem são os candidatos aos municípios. A minha posição está entregue ao partido. Pensamos nós que em Abril ou Maio o MDM fará apresentação pública dos seus candidatos.
Se o MDM indicar o seu nome para candidato do partido na Beira, vai aceitar disputar o terceiro mandato?
Eu continuo e continuarei a ser es-cravo do partido e a servir o partido.
Há quem diga que se o MDM apostar num outro candidato para a Beira pode vir a perder, porque há mais pessoas que apoiam a figura do presidente do município tido como vítima da Renamo do que propriamente do partido.
O Daviz Simango nunca foi vítima nem será vítima da Renamo. A min-ha expulsão foi normal, é uma coisa que acontece. O Daviz Simango não venceu as eleições de 2008 por ter sido vítima, venceu porque tinha uma equipa de trabalho que vinha exercendo algo palpável. E hoje, à frente do município, Daviz mantém uma outra equipa profissionalizada. Eu penso que qualquer elemento deste grupo de trabalho é elegível a presidente do Conselho Municipal.
O MDM vai concorrer em todos os municípios?
Sim, vamos aos 43 municípios.
O partido considera a possibilidade de apoiar candidatos independentes?
Ao nível do MDM se aparecerem figuras que se identificam com os manifestos do partido é claro que terão o nosso apoio. Nós não somos egoístas. Somos por um Moçam-bique para todos, temos uma visão patriótica, o que interessa o MDM é que de facto as figuras comunguem connosco, tenham simpatias connosco e peguem nos nossos manifestos como cavalo de batalha para o desafio eleitoral.
Guebuza é quem tem patrões estrangeiros nos seus negócios Num passado recente, Sérgio Viei-ra disse ao SAVANA que o MDM era um partido ao serviço de inter-esses estrangeiros e com agendas estranhas à nação moçambicana. No último fim-de-semana, o Presi-dente Armando Guebuza, disse, na qualidade de presidente da Frelimo, que chega de patrões estrangeiros.
Qual é opinião do presidente do MDM em relação a esses pronun-ciamentos?
É com certa tristeza que alguns ainda continuam a comentar que o MDM está ao serviço de patrões estrangeiros. Os grandes sócios de Guebuza nos seus negócios são es-trangeiros, os grandes assessores de Guebuza não são moçambicanos, os grandes financiadores e colabo-radores do Orçamento do Estado não são moçambicanos. Afinal de contas quem tem patrões estrangeiros? É o próprio Armando Gue-buza que tem patrões estrangeiros.
A primeira cidade moçambicana a assinar acordos de gemelagem com o município da Beira foi Queli-mane da era Araújo. Há quem diga que aquilo foi uma estratégia para drenar dinheiro do município da Beira para Quelimane, numa altu-ra em que Araújo não tinha acesso às contas do município para imple-mentar o seu manifesto.
É preciso compreender que nós vamos continuar a assistir tecnicamente o município de Quelimane. Nós ganhámos Quelimane com muito suor, precisamos de manter o município, precisamos de revalidar o mandato. Também é preciso ver que o MDM é um partido que tem um departamento de governação local. E este departamento har-moniza a forma de estar do MDM na sua governação local. Por isso é natural que tivéssemos uma ge-melagem com o município de Que-limane, permitindo dessa forma que a ideologia política e de governação do MDM se mantenha.
É bom compreender que não se pode drenar dinheiro de um mu-nicípio para outro município. É importante saber que o município da Beira tem gemelagens com outros municípios e o mesmo sucede com Quelimane.
Manual de Araújo quando chegou à presidência do município de Quelimane apostou naquilo que chamou de competência técnica, integrando no seu executivo mem-bros de outros partidos, como a Frelimo. Como é que o MDM en-carou essa situação?
Os edis são eleitos. Nós como partido político não interferimos naquilo que é selecção a dedo das pessoas. Nós temos um perfil próp-rio. Porém, é importante também que qualquer edil seja rodeado de pessoas competentes, é natural que qualquer um de nós esteja rodeado de pessoas que ajudam a resolver problemas e não pessoas que ven-ham apenas para complicar.
A manutenção de vereadores que eram de Pio Matos não chegou a criar alguma crispação no partido?
É preciso perceber que o mandato de Quelimane foi extremamente curto, era preciso estudar o ambiente de Quelimane. Era preciso aprender com essas pessoas como é que as coisas eram feitas e nós aprendemos. Daviz Simango quan-do chegou no município da Beira também fez o mesmo.
Tem mantido alguma relação com o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama?
Não falo com ele deste 2008.
Alguns analistas criticam aquilo a que chamam de concentração de poderes na figura do presidente do MDM. Porque mudaram as regras de jogo?
Não é bem assim. O presidente do MDM não concentra poderes. Porém, há situações próprias dum partido recém-criado que devem ser percebidos.
Considera-se um homem rico?
Considero-me rico porque vou deixar um legado. Na minha presidência no município da Beira aprendi e aprendo muito com os munícipes, parceiros e colaboradores.
Estamos a falar do património.
Temos informações de que o presi-dente está a construir um condomínio em Inhamizua…
Sou moçambicano e como moçam-bicano invisto no meu país. Tenho investimentos na área imobiliária. É muito importante saber que muito antes de ser autarca já tinha esses investimentos. Sou um engenheiro civil que chegou ao município da Beira com mais de 20 anos de ex-periência.

Daviz Simango em entrevista ao SAVANA: Guebuza é que tem patrões estrangeiros

Savana 29-03-2013 Savana 29 -03-2013 15
NO CENTRO DO FURACÃO
 
Por Emídio Beúla e Raul Senda Fotos de Urgel Matula
 
A o cabo de mais um mandato como Pre-sidente da autar-quia da Beira, a segunda maior cidade do país, Daviz Simango coloca a sua corrida ao terceiro mandato nas mãos dos militantes do MDM que em Maio vão escolher os 43 candidatos às autárquicas de 20 de Novembro. Reconhece os problemas de transitabilidade das estradas da Beira e avança com soluções para um problema que diz ser mais complexo do que pode parecer. Aos recados de alguns militantes seniores da Frelimo, ele responde na mesma medida, dizendo, por exemplo, que “Guebuza é que tem pa-trões estrangeiros”. Acompanhe a entrevista feita na tarde desta quarta-feira em Maputo, onde Daviz vinha participar da reunião dos municípios, organizada pelo ministério da Administração Estatal.
 
Faltam menos de 10 meses para o término do seu (segundo) mandato como Presidente do Município da Beira. Das várias promessas que fez ao eleitorado, o que é que conseguiu concretizar?
 
Nós concorremos para as eleições de 2008 com um programa vasto que assentava em alguns pilares básicos. Estamos a falar do projecto de pro-tecção costeira, do projecto de saneamento e abastecimento de água e do projecto de integração social das nos-sas comunidades.
 
Conseguiu materializar esse programa?
 
Em relação à protecção costeira con-seguimos, através da conferência de doadores, mobilizar fundos. Vários parceiros responderam positiva-mente às nossas solicitações e hoje estão a decorrer obras de protecção costeira. A cooperação suíça finan-ciou com três milhões e duzen-tos e cinquenta mil dólares (USD 3.250.000) e o Banco Mundial vai financiar com 70 milhões de dólares (USD 70.000.000). O financiamen-to do Banco Mundial está virado para as mudanças climáticas e vai consistir numa rede de águas para a cidade da Beira. É uma malha de rede de águas para resolver o prob-lema das inundações. Como sabem, Beira é uma cidade plana, erguida sobre um pântano e as águas por si só não conseguem correr. É preciso que haja outro tipo de exercício. Do Banco Mundial estamos também a mobilizar 15 milhões de dólares (USD 15.000.000) para materializar a nossa intenção que consiste em de criar condições para que as valas ab-ertas não sejam transformadas pelos
munícipes em depósitos de lixo e outros detritos sólidos. O Conselho Municipal pretende privilegiar as margens das valas com arruamento e zonas de diversão para desencorajar a prática de hábitos que contribuam para a degradação das mesmas.
 
Conseguimos mobilizar fundos do Banco Árabe para reabilitar as valas e alargamento da rede de saneamento na zona de Macurungo. A abertura do canal de Chiveve faz parte do programa das mudanças climáticas?
 
Sim, ainda na componente mudan-ças climáticas mobilizámos cerca de 13.5 milhões de Euros através
do Banco Alemão KFW para a ab-ertura do canal de Chiveve. Neste momento, estão a decorrer estudos e já nos apresentaram, na semana passada, três propostas alternativas de abertura do canal. Nós enten-demos que com abertura do canal do Chiveve estaremos a criar condições para a respiração da nossa cidade. Vai também permitir o escoamento de águas nos bairros próximos do canal de Chiveve, reduzindo assim as pos-sibilidades de inundações.
 
Avançámos na componente de abas-tecimento de água. Na cidade da Beira existiam zonas que não tin-ham água potável. Estamos a falar dos bairros de Muavi e Inhamizua que pela primeira vez tiveram rede canalizada. Nem sempre é possível recorrer ao FIPAG (Fundo do Inves-timento e Património de Abasteci-mento de Água), temos que recorrer a parceiros ou a fundos próprios para comprar material de abastecimento da água potável.
 
Recentemente, a União Europeia financiou a reabilitação do sistema de saneamento da Beira. Que ben-efícios isso trouxe para a cidade?
 
O programa de saneamento da ci-dade consistia na reabilitação do sis-tema existente e não abrangeu novas zonas. Estamos satisfeitos porque nas zonas onde houve reabilitação melhorámos o aspecto ambiental, construímos uma ETAR (Estação de Tratamento de Águas Residuais) que estava projectada desde os anos 60. Trata-se de uma ETAR que no futuro o Conselho Municipal pode aproveitar para a produção de bio-gás. É preciso dizer que durante o man-dato que este ano termina tivemos alguns constrangimentos.
 
A que tipo de constrangimentos se refere?
 
A perda das sedes dos bairros. Era preciso repor a administração a fun-cionar, daí que iniciámos com a con-strução das sedes dos bairros e temos a impressão de que valeu a pena, pois temos infra-estruturas novas e com adaptação para os jovens: tem sistema de internet disponível para estudantes e alunos.
No fundo, neste mandato, notamos que na cidade da Beira há um grande crescimento económico. As peque-nas e médias empresas começam a ter lugar e existem infra-estruturas. Só neste mandato tivemos quatro hotéis novos, o que não acontecia há muitos anos. Beira está hoje com estradas esbu-racadas, situação que contrasta com a imagem de uma das melhores ci-dades em termos de gestão munici-pal. Ainda vai a tempo de repor a transitabilidade das estradas da ci-dade?
A nível das estradas, a cidade da Beira tem uma característica própria: O nosso pavimento torna-se sempre alagado, sempre molhado e impróp-rio para o asfalto. Portanto, tivemos a iniciativa de avançar com estradas de pavês.
No mandato anterior, já tínhamos feito uma experiência idêntica em relação a Kruss Gomes, agora fize-mos a rua 33, estamos a fazer a rua da Chota, estamos a fazer a rua do Vaz e este ano vamos avançar com mais quatro. Estamos a fazer um es-tudo em relação à FPLM, que sai da Praça da Independência em direcção ao Estoril, estamos a falar também da estrada que parte do aeroporto em direcção à ponte, estamos a falar das ruas 2 e 6 e da rua da Base N’Tchinga. Algumas vão ser pavi-mentadas e outras vamos reclassificar o pavimento existente, tornar a pôr a base para depois asfaltar.
Trabalhámos também nas ruas ter-ciárias nos bairros. No ano passado, houve um investimento extrema-mente grande do município nas ruas que desde o tempo colonial nunca tinham sido trabalhadas. Consegui-mos fazer o trabalho, é verdade que em algumas ruas fomos infelizes com as chuvas que caíram.
A avenida 24 de Julho, por exem-plo, foi reabilitada há menos de dois anos, mas hoje apresenta-se em péssimas condições de transitabili-dade. É o problema das chuvas que caíram?
É preciso compreender a com-posição geológica dos solos da Beira. O problema da estrada 24 de Julho é que foi construída ao logo da vala. Fomos infelizes porque na altura que abriram a vala foram retirando solos para construir a base e a sub-base da estrada. Durante muitos anos, essa estrada nunca foi pavimentada.
Nessa altura, circulava-se normal-mente e não encontravam nenhum assentamento diferencial. Mas os camiões de grande tonelagem não circulavam por lá. Quando iniciámos com a reparação da base e a colo-cação do pavimento, os camiões de grande porte começaram a circular. E o lodo começou a reagir e a estrada ficou degradada.
O município não previa a circulação de camiões de grande tonelagem por aquela via? A reabilitação não foi antecedida por estudos económicos e de engenharia?
Se não tivéssemos estudos, teríamos o mesmo problema no prolonga-mento da Kruss Gomes, a partir da Munhava Matope em direcção à lixeira. Tivemos fundo para reabili-tar aquela estrada, mas no âmbito da construção do terminal de carvão (do Porto da Beira) notámos que os camiões da empresa holandesa que entravam para a dragagem do porto e para os aterros tinham 50 toneladas de eixo. E os fundos que nós tínham-os iam até o máximo de 15 toneladas de eixo. Achámos por bem não fazer a estrada, senão teríamos o mesmo problema da 24 de Julho. Estamos a negociar com algumas empresas como a futura fábrica de cimento, a mineradora Jindal, para ver se em conjunto podemos fazer uma estrada que possa atingir 50 toneladas eixo.
Senhor Presidente, até ao fim do seu mandato quais são as estradas que estarão totalmente transitáveis? É preciso compreender que Beira é uma cidade com tanta estrada de terra batida e com tanto movimento de camiões e quando chove tudo fica complicado. E é preciso com-preender o que era a cidade da Beira ontem e o que é a cidade da Beira hoje. A cidade da Beira não tinha o volume de camiões que tem hoje.
Hoje temos em média 600/dia de alta tonelagem que entram na cidade. Muitas das nossas estradas foram concebidas na década de 70, e nessa altura os camiões que existam eram de três a quatro toneladas. O que o município tentou fazer foi assegurar que as grandes estradas que esvaziam a circulação de viaturas da zona urbana para a zona peri-urbana funcionem. Hoje temos o orgulho de dizer que a primeira estrada, que é a rua da Chota, hoje está sendo pavimentada e vai ser inaugurada.
Só para ver o esforço que o execu-tivo está a fazer, estamos a importar da Swazilândia as caixas para fazer a ponte.
Grande parte das estradas vão estar boas até ao fim do mandato, sobr-etudo as de terra batida que foram intervencionadas no ano passado e neste ano vai se passar a máquina niveladora. Não é possível num man-dato aterrar todas as estradas de terra batida. Neste momento, estamos concentrados na substituição do as-falto por pavê, trocar a terra batida por pavê. Já não queremos arriscar em asfalto, porque na cidade da Beira basta chover o asfalto não funciona.
Gostaríamos de perceber uma coisa no projecto de protecção costeira em curso na Beira: Quem mobilizou fundos foi o município ou foi o Gov-erno Central?
Na altura em que arrancou o pro-cesso, eu pessoalmente tive a opor-tunidade de estar na Alemanha para mobilizar fundos do KFW, através do Banco Mundial. É preciso com-preender que no sistema financeiro internacional os fundos mobilizados passam pelo Governo Central. Pelo que, por mais que consiga mobilizar, há acordos internacionais que como moçambicanos temos que respei-tar. Contudo, existem outros fundos que podem passar directamente do financiador para o município. É o caso do fundo que mobilizámos para o saneamento da Beira, onde a União Europeia pagava directamente aos
empreiteiros.
As duas modalidades funcionam…
Sim. O importante é que estejamos seguros, pois há situações pouco agradáveis. Por exemplo, nós ben-eficiámos de um fundo da cooper-ação italiana para as autarquias, mas o que acontece é que temos vários constrangimentos para aceder. Isso porque o fundo era directo, depois passou para o Ministério de Ad-ministração Estatal e agora passou para os governos provinciais. O que acontece agora é que aquilo que é a proposta do Conselho Municipal, o principal beneficiário do fundo, acaba sendo censurado pelo governo provincial.
Por exemplo, nós agora queríamos adquirir dois camiões de lixo porque há interesse do Conselho Municipal nesse sentido, mas o governo provin-cial disse que não, porque o município tem muitos camiões de lixo. O governo provincial não sabe qual é a nossa necessidade nessa matéria.
É que é preciso compreender que a vida útil dos camiões de lixo é difer-ente de um carro normal. Voltando à construção de novas sedes dos bairros, o município vai terminar com o trabalho ainda neste mandato?
Pelas contas que tenho, agora va-mos entregar mais nove. Estão todas quase prontas, existe apenas uma por iniciar que é a sede do bairro Vaz. Não iniciou com as outras porque tivemos problemas de terrenos. Como pode imaginar, o próprio mu-nicípio também tem problemas de espaço. Estamos a negociar com al-guns privados que têm espaços para arrancarmos com as obras. Imagine que se não tivéssemos problemas das sedes, que tipo de investimentos em outras áreas poderíamos ter aplicado o dinheiro. É preciso compreender que ao nível do Conselho Munici-pal da Beira conseguimos fazer algo inédito: Todos os Centros de Saúde urbanos têm ambulâncias compradas pelo Conselho Municipal.
E esses Centros de Saúde já passar-am para a gestão do município?
Infelizmente, ainda há muitas jor-nadas por acontecer. Mesmo agora na reunião dos municípios tive-mos oportunidade de perguntar (ao Ministério da Administração Es-tatal) sobre isso, mas apenas respon-deram que ainda se está em processo de harmonização. O Conselho Municipal da Beira solicitou a transfer-ência de competências em 2007, hoje estamos em 2013, passam seis anos, e ainda continuamos na harmoni-zação. Achamos nós que não faz nenhum sentido, porque o Conselho Municipal da beira já solicitou. Hoje fala-se de cinco cidades, Maputo, Matola, Chibuto, Xai-Xai e Pemba.
Agora a minha questão é: Porquê essas cidades? Que níveis de gestão de centros têm essas cidades e que Beira não tem?
E ao nível da educação, o Conselho Municipal já recebeu algumas esco-las?
A situação é a mesma. Aqui também a justificação do Ministério da Administração Es-tatal é que o município ainda não está preparado?
O problema não é o facto do municí-pio estar ou não preparado. Há inter-esses políticos. Nós todos sabemos qual é o papel do partido no poder junto a essas duas entidades (Edu-cação e Saúde) em processos elei-torais. Portanto, enquanto persistir esta situação de processos eleitorais e interesses políticos é natural que eles não vão entregar. Não faz sen-tido hoje entregar Xai-Xai e Pemba, autarquias que nem têm capacidade de recolha de receitas. E nesta re-união de Maputo ficou claro que os municípios têm problemas na recol-ha de receitas. Mas ninguém disse que a cidade da Beira não faz parte dos municípios que têm problemas de recolha de receitas. O próprio relatório apresentado estava vazio de conteúdo e espelha que não envolveu as autarquias. Se envolveu, foram 41 autarquias e duas foram excluídas (Beira e Quelimane).
Mas a transferência de competên-cias do Estado para os municípios representa encargos para as autar-quias?
O poder é para ser exercido e a lei é para ser cumprida. Está claro na lei 02/97, de 18 de Fevereiro, que a gestão da Saúde primária e da Edu-cação primária são da responsabili-dade do município. O município da Beira conseguiu construir três Cen-tros de Saúde, comprou ambulâncias para todos esses centros e para outros que já existiam. Os salários dos mo-toristas, o combustível e a manuten-ção dessas viaturas estão a cargo da autarquia. Continuamos a fornecer regularmente carteiras a escolas e agora vamos construir, com fundos próprios do município, uma escola
que caiu em Macuti.
O que é que mais resta para provarmos a nossa capacidade de gestão?

sexta-feira, 29 de março de 2013

Em que é que a Renamo confia, Senhor?

Não irei dar a resposta, senão uma sucessão de questionamentos. Neste tempo pascal tenho minha inquietação para que o Senhor, Criador do Céu e da Terra me alumie o mistério. O Canal de Moçambique, edição de 29 de Março de 2013, escreveu que foram «Eleitos membros da CNE sem a Renamo». Entretanto, vem o SG da perdiz avisar que "A Renamo não vai aceitar que nenhum moçambicano se movimente para preparar o processo eleitoral". Por isso pergunto: em que é que ela confia? Vejo que corremos risco de fechar os olhos face a verdades dolorosas, porque o silêncio dos demais cavalheiros acerca desta matéria é preocupante.

Será este o novo papel de homens sensatos, empenhados numa enorme e árdua tarefa pela democracia? Os defensores da oposição, parecem mais dispostos a pertencer ao grupo daqueles que tendo olhos não vêem e tendo ouvidos não ouvem as coisas que estão intimamente ligadas à sua salvação temporal. Deixaram tudo para a Frelimo. Não estará na forja uma propositada agenda de criar-se um estado de emergência e limitar certas liberdades até aqui conseguidas e, diga-se de passagem, regadas com sangue, para daí chamarem forças estrangeiras? Senhor, porque é que a outra oposição não se pronuncia? O que estará a ser forjado nas chancelarias?

É que, como o disse uma vez, eu não conheço outra forma de julgar o futuro a não ser pelo passado. Nesta lógica, a julgar pelo passado e pela minha própria experiência, vejo uma nuvem negra pairando sobre o país e qualquer silêncio revelar-se-á uma armadilha aos nossos próprios pés. O contexto de 1998 no qual a Renamo boicotou as eleições difere do actual. Naquele tempo tínhamos uma Renamo forte, com uma base de apoio no Parlamento e fora dele que, portanto, não lutava para salvar a pele, como hoje.

O que significa esta sua exibição marcial, se o seu propósito não é forçar o povo à submissão? Poderão os moçambicanos atribuir-lhe outros motivos? Tem a Renamo algum inimigo, em qualquer canto do país, que justifique toda esta acumulação de nervos? Não, Senhor, não tem nenhum. Destinam-se a Frelimo, não podem ser para mais ninguém. A oposição como um todo, comandada pela Renamo, tem enviado espiões de consciência para manter sobre a Frelimo as grilhetas que ela vem forjando há muito tempo. A saída de muitos segredos nossos para a imprensa mostra o quão a oposição está infiltrada nas nossas fileiras.

E o que a Frelimo tem para lhes opor? Chamar a pequena oposição à razão para servir de mediador? Não! Não há grande nem pequena oposição, Senhor. São farinha do mesmo saco.  Há mais de cinco meses que o vimos tentando e já não temos algo de novo a avançar sobre o assunto. Já o analisamos sob todas as vertentes, mas tudo foi em vão. As nossas propostas de reconciliação e de diálogo têm sido desdenhadas, e temos recebido ameaças com insultos acrescidos.

Senhor, nós desejamos ser livres das ameaças da oposição, pretendemos preservar invioláveis os inestimáveis privilégios pelos quais lutamos há muito, não pretendemos abandonar cobardemente a nobre luta na qual há tanto tempo estamos envolvidos e que nos comprometemos a nunca abandonar até que o glorioso objectivo da nossa luta fosse obtido. Se a Renamo continuar com essas ameaças, abandonando a mesa do diálogo, só nos restará um apelo às armas e ao Deus das Hostes!

Dizem-nos, Senhor, que somos fracos, incapazes de enfrentá-los. Quando é que seremos fortes? Na próxima semana, ou no próximo ano? Quando estivermos completamente desarmados e um espião da oposição estiver estacionado em cada casa? Ganharemos força através da irresolução e da inacção? Adquiriremos os meios para uma resistência eficaz supinamente deitados de costas e abraçando o ilusório fantasma da esperança até que os nossos adversários nos acorrentem de pés e mãos?

Senhor, nós não somos fracos. Somos três milhões de membros, unidos na sagrada causa da nossa independência e da dignidade dos moçambicanos e, num país como nosso, somos invencíveis por qualquer força que o adversário possa enviar contra nós. Além disso, Senhor, não travaremos as nossas batalhas sozinhos. Existe um Deus justo que preside aos destinos das nações, e que providenciará amigos para travarem as nossas batalhas por nós.  A Renamo está com medo do voto e foge da democracia como o diabo foge da Cruz!

A luta, Senhor, não pertence apenas ao forte; pertence ao vigilante, ao activo, ao corajoso, ao dialogante. Além disso, não temos escolha. Agora é tarde demais para nos retirarmos do conflito democrático. Apenas poderemos retirar submissos e escravizados! As nossas grilhetas estão forjadas! O seu chocalhar ouve-se nas montanhas de Mueda e nas planícies de Gaza. A batalha é inevitável. Que apareçam! Repito, Senhor, que apareçam!

Os outros podem apelar a calma, mas não há calma, Senhor. Os nossos irmãos renegados já se encontram no campo da batalha. Porque permaneceremos nós aqui inactivos? O que desejam os cavalheiros? Em 1775, Patrick Henry, pergunta: «será a vida tão valiosa, ou a paz tão doce, que possa ser comprada com grilhetas e escravatura» que a nossa oposição carrega consigo nas suas promessas e nos seus gestos? Livrai-nos disso, Deus todo-poderoso! Se a Renamo confia na força, nós confiámos no povo e aqui estamos para entregar o que temos de mais precioso: a nossa vida, porque a causa é grande!

A Popularidade de Guebuza: Resposta a Bayano Valy

No seu comentário sobre o meu post com título  «A quem interessa a sucessão de Guebuza»Bayano Valy diz o seguinte: «EU gostaria de saber como chegou à conclusão de que os que clamam pela sucessão de Guebuza fazem-no a mando de interesses não nacionais? Acho que até prova em contrário o ónus da prova deve ser por ti oferecida.
Ora, diferentemente de 2004 (mesmo em 1998/9 havia lido um artigo com título «Chissano Refugia-se no Povo») em que segmentos do povo comum se mostravam ansiosos em ter um novo líder, actualmente tal cenário não é notório. Desde 2 de Janeiro que fui recolhendo dados, aqui, acolá, além, entre Portugal-Qatar-Moçambique-Qatar-Portugal, num estudo comparativo sobre a deslocalização dos benefícios sociais da cidade para o campo e vice-versa, suas implicações nos mecanismos de transferência do poder em África: caso de Moçambique.
Em Moçambique recolhi dados em distritos de nove províncias exceptuando a de Cabo Delgado e nos municípios de Maputo, Manhiça, Xai-Xai, Chibuto, Inhambane, Vilanculos, Dondo, Beira, Gondola, Chimoio, Catandica, Tete, Moatize, Ulóngue, Milange, Mocuba, Gurue, Cuamba, Ribaue, Nampula, Monapo e Nacala-Porto. Para não me alongar vou ao essencial: Guebuza continua popular (66,4%) - com uma margem de erro de 3.2% para mais ou para menos - entre os que há cinco anos se sentiam insatisfeitos com a governação. Em termos representativos são: 89,2% dos que se dizem simpatizantes da Frelimo; 52% para os apoiantes dos outros partidos, 58% dos independentes e/ou que não revelaram a sua orientação política.
Do outro lado, temos estrangeiros vivendo em Moçambique há mais de cinco anos e aí encontramos dados interessantes sobre a popularidade de Guebuza: 75,6% para os estrangeiros africanos, 56,6% de estrangeiros europeus, 59,8% entre os asiáticos, 47,4% de americanos, 45,7% entre os refugiados, 38,4% entre os que perderam o estatuto de refugiado. Destes dados resulta que 53,9% de estrangeiros acha que Guebuza devia continuar. Juntando as duas realidades vemos que pelo menos 60,15% dos habitantes de Moçambique gostariam de ver Guebuza a continuar, caso o mecanismo de transferência de poder fosse pela Frelimo, repito, caso fosse pela Frelimo. Por vezes, a Democracia é injusta!
Quando questionados da possibilidade da sua sucessão, por exemplo, além da incerteza política 73%, ouvi respostas do tipo «isso é entre eles», «era preferível que o povo fosse consultado porque lá na cidade não sabem o que nós pensamos», «estamos cansados das decisões tomadas por baixo da luz», «já querem cortar esse dinheiro que o distrito recebe», «deve continuar», «não me interessa», etc. e muitos outros motivos que justificam mais a necessidade da sua continuidade do que do seu afastamento.
A contestação era mais notória nas cidades e mesmo nestas, entre os mais formados e até, como digo, entre funcionários públicos. Mas estes últimos tinham características peculiares. Em geral, bons trabalhadores, assíduos, cumpridores de seu dever, a maioria formada na instituição pública, etc.. No final do estudo, defendo que a contestação urbana deve-se ao facto de ter havido uma deslocalização dos benefícios económicos e sociais, o que resultou em desenvolvimento desequilibrado. O meio urbano foi o mais sacrificado em parte porque Guebuza liderou pessoalmente o desenvolvimento do meio rural deixando as cidades para os edis. Enquanto nas cidades a ruralização avançou e com ela a pobreza urbana, no campo, os hábitos urbanos foram surgindo e incorporados aos antigos desde o traje, passando pelo vestuário e alimentação até à habitação e, em última instância, poupança de dinheiro em bancos.
Entre os contestatários a sucessão de Guebuza não figurava entre as suas prioridades; outros nem sequer se lembraram. Pelo contrário, falaram do aumento salarial, do humilhante tratamento que recebem nos hospitais públicos, da distância que lhes separa das sedes de poder local, dos centros de saúde e de escolas pré-universitárias; de capital para abertura de um negócio; dos fertilizantes e das sementes; dos barcos e das redes de pesca; das propinas para os filhos ou para eles na universidade; do dinheiro para corromper uma parteira, um professor, um enfermeiro; de possuir uma torneira em casa ou perto dela; de conseguir uma vaga de emprego, para formação, ou na escola, para si ou seus dependentes, de conseguir um talhão para casa própria; de alimentação.
Quando analisadas as vias para a solução desses males, a mudança de lideranças foi apontada, mas esta estava abaixo dos que sugeriram a via de monitorização/fiscalização das actividades da parte do chefe máximo. Quer dizer, a mudança a que se referiam era apenas sectorial e não da estrutura. Nos municípios os mais criticados foram os vereadores e secretários dos bairros (88%) seguidos de presidentes (86,5%). Algumas pessoas mostraram que nunca viram o presidente do município!
Também os ministros não escaparam e sempre, analisados em termos comparativos para a negativa ou para a positiva. Só por curiosidade, contrariamente ao que tenho lido, nalguns municípios, o problema de transporte e de lixo está em último lugar em relação ao de talhão, de água e de luz. Portanto, foi a luz disso e de tantas outras curiosidades que cheguei à minha conclusão a qual, naturalmente, é sempre contestável. Poderia ter dito muito, mas continuo a pensar que a sucessão de Guebuza, por enquanto, não constitui um problema nacional e que há interesses alheios por detrás da sua promoção, muitos deles tão intrínsecos quanto mister é o próprio tema mesmo dentro da Frelimo.

O que acontece, em geral, os políticos vivendo na cidade e sem desejo de lá sair, falam em nome de quem vive no campo não para melhorar a vida neste meio rural, mas para garantir meios de viver bem na cidade. Entre as limitações do estudo, figura a questão temporal, dada a distância que o separa do pleito eleitoral sucessório e, devido as mutações dos próprios fenómenos sociais.

quinta-feira, 28 de março de 2013

A quem interessa a sucessão de Guebuza?

«E desceu a chuva, e correram rios, e sopraram ventos, e combateram aquela casa; e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha». Estas palavras, ditas por Jesus Cristo, perto de Cafarnaum, na Palestina, cerca de 30 d.C., continuam a fazer eco nos nossos tímpanos politizados com uma aplicabilidade multissectorial.
Tenho lido, em alguns veículos de comunicação de massas, a pseudo-preocupação sobre a sucessão de Guebuza. Fala-se de um Guebuza apegado ao poder, desejoso de só o deixar quando garantidos os seus negócios. Falam de que a Frelimo precisa tempo para fazer o marketing político do seu candidato a fim de ser conhecido por todos. Até aqui tudo bem. Todavia, a capacidade de muitos dignos cavalheiros, militantes ardilosos do lado menos visível do metical, deixa muito a desejar. Tal como os fariseus, começam por elogiar como se tivessem um bom desejo para a Frelimo escondendo o que realmente lhes move. Sim, o móbil dos seus desejos. E qual ou quais os móbeis por detrás dessa campanha toda?
Evidentemente, são vários, mas no topo da agenda é o ódio, a aversão e a antipatia que sentem para com Guebuza e para com todos os que com ele se relacionem. É o ódio a Guebuza que mais lhes move as pestanas do que a razão que os seus corações tanto necessitam. É o desejo de linchamento político e público, de assassinato de carácter da figura que for indicada. É a pretensão de criar um poder paralelo dentro da Frelimo e, por via disso, equacionarem a possibilidade dos seus lugares ao sol. Mas sobretudo, pretendem promover a campanha edificadora das potencialidades dos seus líderes, enaltecendo-lhes as qualidades em função dos golpes por infligirem ao escolhido. O resto das suposições benevolentes não passa disso mesmo: resto.
Se se exige a saída de Guebuza e até há Jornais que perfilam a buscar desvendar o mistério da sua sucessão, não faz sentido lógico que estes nobres e bem intencionados analistas questionem o carácter perpétuo do Engenheiro Daviz Simango na Beira? É que está a sufocar a mente de muita gente identificar uma cidade com uma pessoa e vice-versa, incluindo outros edis frelimistas que já estão ao segundo e terceiro mandatos. Ao menos Guebuza já o disse publicamente não pretender continuar. Quando é que ouviremos um Simango a dizer o mesmo?
É legítimo que se questione a sucessão de Guebuza mas quando se insinua alguma bondade nisso também é de questionar. Não basta a mudança de pessoas para que a bandeja da bonança se destape e a riqueza se espalhe, pronta a ser recolhida. É preciso que tal mudança não traga instabilidade. É isto que qualquer líder sensato procuraria fazer. É mais conhecida a máxima «cada sociedade tem/possui os governantes que merece». Separar os governantes da sociedade é um erro. Nenhum governante brotou do subsolo como um cogumelo. Podemos colocar uma pergunta de leve: a quem interessa a sucessão de Guebuza?
E até provas em contrário, recuso-me a acreditar que os que a desejam fazem-no ao interesse da nação. Pode ser que o façam porque o círculo se aperta à sua volta e à volta daqueles para quem desejam combater até ao último homem. E até provas em contrário, recuso-me a acreditar que o verdadeiro povo moçambicano queira debater a sucessão no lugar de debater os problemas de comida, luz, água, estradas, hospitais, escolas, pontes, que representam o verdadeiro interesse nacional. Há funcionários públicos metidos nesta campanha? Sim, e muitos! E o que eles desejam, a nível pessoal e privado, fora do que se disse acima?
Para responder a esta pergunta, outras se fazem necessárias: o que move estes indivíduos, por vezes formados a custo zero e com salário público em dia, a serem rebeldes de consciência, por pensamentos e palavras, actos e omissões, contra o próprio governo que lhes deu a formação e o emprego? Será por causa do sentimento filantrópico que defendem estarem imbuídos ou apenas pela necessidade de um reconhecimento público que a Administração Guebuza lhes negou? As respostas a estas perguntas não cabem num texto deste tamanho. Mas a intuição leva-nos a responder apressadamente que entre as várias razões privadas figuram:
i)                    Auto valorização exagerada em relação ao percurso da própria vida familiar, escolar e profissional;
ii)                   Resistência camuflada à obediência no local de trabalha causada pelo espírito de superioridade, ainda que pareçam cumprir com os deveres laborais;
iii)                 Falta de vocação para o trabalho em que estão formados ou a desempenhar;
iv)                 Alto índice de expectativa pela recompensa e consequente demora desta pelo trabalho feito que julgam merecer;
v)                  Ambição em serem os primeiros entre os iguais.

Já que a saída de cada líder convida novos actores, estes indivíduos desejam ser os próximos da linha. Portanto, a promoção da questão da sucessão de Guebuza encobre interesses privados, camuflados de nacionais. É uma questão de preparação de terreno para os próximos lambebotas. Nela, não existe nenhum interesse nacional, ao menos na forma como tem sido debatida, muito menos para a fortificação da Frelimo. Se estas chamadas de atenção não contribuem para sossegar os espíritos revolucionários, esperemos pela caída da chuva, e pela corrente dos rios, e pelo sopro dos ventos, e pelos combates e veremos qual das casas não cairá porque edificada sobre a rocha.

domingo, 24 de março de 2013

Eduardo Mondlane: Os Passos de um Herói

 
by Eusébio A. P. Gwembe (Notes) on Sunday, 3 February 2013 at 05:28





Celebra-se hoje, 3 de Fevereiro, o dia dos Heróis Moçambicanos motivado pelo assassinato de Eduardo Mondlane há 44 anos.
 

quarta-feira, 20 de março de 2013

Como tornar Nampula uma cidade-modelo?


Nampula beneficiou do apoio do MCA. Quando, dentro de poucos meses, se completarem os planos que o Município presentemente executa, teremos uma cidade diferente, e, conservando o seu carácter macua, ter-se-á tornado numa das belas cidades africanas. A colorida capulana da mulher macua sempre foi um dos seus mais belos ornamentos, e no futuro não só assim continuará a ser, senão essa característica ainda mais se acentuará. Novos espécimes de arquitectura ligarão o passado com o presente, na composição de um quadro perfeito. As principais construções serão as que se levantam junto da EN1, onde se acham já concluídas muitas obras de tipo prédio. Mas isso não deve ficar por aí. Há muito espaço subaproveitado! [Na imagem ao lado, junto da ponte do Matadouro, dois jovens tomam banho enquanto outro lava frascos que serão utilizados para venda de óleo - Arq. Pedro, 12-03-2013]
Olhando para o que é Nampula de hoje, a sensatez manda-nos dizer que a Estrada Nacional N1 já deixou de ter sentido, ao cortar a cidade pelo meio. As transformações pelas quais está passando a cidade tornarão, num futuro breve, aquela estrada prejudicial à estética urbana, enquanto o seu desvio tornaria a urbe de lazer ainda mais aprazível do que era. Em função do seu progresso é preciso rasgar-se novas vias de trânsito, ligando bairros periféricos ao centro da cidade; é preciso construírem-se balneários para crianças e adultos, é imperioso construírem-se sanitários públicos em parceria com os privados e devolver à cidade os jardins que perdeu.
É urgente construir-se uma EN que não passe pela cidade, podendo esta ser projectada para antes da Fábrica de Cervejas, a fim de sobressair para além do Control para Nacala. Importa transformar Nampula num Pólo de atracção acompanhando os seus multiformes melhoramentos ora em curso, que incluam drenagem das águas das chuvas, consolidação de terrenos nas escarpas que dominam as várias vias que periodicamente são sujeitas a desmoronamentos, arruamentos transversais, pavimentação de numerosas artérias nos bairros esquecidos da cidade, construção de casas dignas desse nome, airosas e higiénicas que destinem substituir os bairros de capim alí existentes.
A cidade de Nampula possui pequenos muitos riachos naturais que escoam águas e dejetos de toda a espécie para longe dela. Temos visto nestes riachos muitas pessoas tomando banho, lavando plásticos, garrafas e frascos que depois são usados para colocar produtos de venda em mercados o que põe em risco a saúde dos munícipes. Estes riachos naturais poderiam ser aproveitados, sem elevados custos, para neles serem colocados os canais de esgoto da urbe, matando, deste modo, dois coelhos numa única cajadada. Não se pode perder de vista o problema do fornecimento de energia eléctrica, a qual devia começar a ser pensada em função do risco, privilegiando os canais subterrâneos, de condutas de água para mais perto das populações.
A transferência da terminal de Comboios deve configurar-se no plano primordial e a melhoria do sistema de Transporte Público digno desse nome faz-se igualmente necessária. Deve-se fazer uma eliminação gradual dos pequenos «chapas» que tornam a viagem dos gordos mais penosa. Se a vontade e as intenções se conjugarem, se a imaginação e o desejo do belo se cruzarem e, sobretudo, se a honestidade dos políticos se revelar regra, poderemos ter uma Nampula modelo para se viver com dignidade.

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Estes riachos naturais poderiam ser aproveitados, sem elevados custos, para neles serem colocados os canais de esgoto da urbe, matando, deste modo, dois coelhos numa única cajadada.

http://repensand.blogspot.pt/2013/03/como-tornar-nampula-numa-cidade-modelo.html


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  • Paulo Araujo Infelizmente nao eh o que esta a contecer. os esgotos a serem construidos com fundos do MCA seguem outras routas e padroes, que a populaçao local duvida da sua eficiencia, mas se os engeneiros assim decidem, so o tempo dira quem tem razao.

  • Eusébio A. P. Gwembe Ouvi pessoas a murmurarem (cor razão) sobre o porquê de remover algo que nunca apresentou nenhum problema de entupimento quando temos lugares que precisam de sistema de esgoto? Alguns chegam a questionar a seriedade dos engenheiros actuais e estranham o facto de ser apenas o centro da cidade a beneficiar de obras dessa envergadura quando a maioria da população reside na periferia. Enfim, o tempo dirá!

  • Paulo Araujo Vivi 4 anos nessa cidade e conheco bem os problemas que tem e o Namuaca tambem sabe mas parece me que ele se desligou da autarquia faz bastante tempo.

  • Gito Katawala Eusébio A. P. Gwembe, ha dias estavas a usar imagens do mesmo projecto para propaganda partidaria, e hoje estas a usar para analise de "cidadao preocupado" com eficiencia. Por isso tenho dito, um dia ainda vamos conversar contigo sobre estes teus pronunciamentos. Hehehehehe.

    Antonio A. S. Kawaria, tas a ver ne?

  • Antonio A. S. Kawaria Estou a ver Gito Katawala. Eu dizia que as vias de que ele falava tem recebido manutencão regularmente, mas para quem conhece Nampula, as zonas de preocupacão não são mexidas. Podemos questionar do porque não se aproveitou o projecto do MCA para atacar locais como estes? Eusébio A. P. Gwembe, te perguntei se havias falado com membros do Conselho Municipal de Nampula. Que resposta deram eles sobre este problema?

  • Eusébio A. P. Gwembe Antonio A. S. Kawaria, deram a resposta tradicional do tipo «é o desejo dos financiadores». Gito Katawala, nem tudo anda bem mas há janelas para que as coisas andem. Temos que fazer o que pudermos para vivermos condignamente. Não teremos outro Moçambique e ninguém fará para nós se não pusermos mão à obra.

  • Antonio A. S. Kawaria Essa resposta de que do desejo é do financiador é mesmo tradicional. Será que foi mesmo a USAID a querer que sejam melhoradas as vias que infalivelmente passam visitantes VIP à cidade de Nampula?

  • Juma Aiuba Não concordo que se transformem rios naturais em esgotos. É contra o meio ambiente. O que Nampula precisa é de esgotos mesmo e não de transformar nada em nada! Esses riachos escoam a água das chuvas de forma natural. O que se precisa é de cuidados por parte do CMCN e da população, com ordenamento de construções, por exemplo. Infelizmente, o CMCN fica satisfeito com pequenas limpezas que tem feito as valas existentes, ao invés de reforçar igualmente o trabalho de sensibilização as comunidades sobre como usar as infraestruturas existentes.

  • Eusébio A. P. Gwembe Juma Aiuba, ao menos que sejam, de vez em quando, limpados, pois ai guarda-se todo o tipo de imundice.

  • Juma Aiuba É isso... Eu acho que o rio Muatala, por exemplo, bem usado seria uma mais valia no que concerne a evacuação das águas (das chuvas ou não) e purificação do meio ambiente.

  • Eusébio A. P. Gwembe Sim, Juma Aiuba. Mesmo aquele rio que passa abaixo da Escola Secundária de Nampula, poderia ser bem limpo, pavimentado, afastando as famílias que estão nos lados, como se fez no Chiveve. Assim, os esgotos podiam muito bem desaguar nele e evitar-se os cenários que se assistem: banho, lavar alfaces, plasticos, garrafas, frascos, etc. Nampula está em melhores condições para não ter água estagnada.

  • Juma Aiuba É isso... Tenho cá as minhas reticências em relação ao novo sistema de esgoto que está a ser construido pela portuguesa Gabriel Couto. Posso estar enganado, mas não vejo que aquilo tenha alguma inclinação para algum lado. O meu medo é no período das chuvas os esgotos não poderem lançar a água para lado algum e transformarem-se em autênticas piscinas.

  • Claudio Oliveira Amone Chivambo Visão controversa Eusébio A. P. Gwembe,...não sei que pretendes. Porém, é de se saudar este teu post de cidadão preocupado nos olhos de observar e não os de ver.